DEZ CARACTERÍSTICAS DO ACOMPANHAMENTO DA LEITURA DA BÍBLIA PELO MAGISTÉRIO

DEZ CARACTERÍSTICAS DO ACOMPANHAMENTO DA LEITURA DA BÍBLIA PELO MAGISTÉRIO

DEZ CARACTERÍSTICAS

DO ACOMPANHAMENTO DA LEITURA DA BÍBLIA PELO MAGISTÉRIO

(Parte II)

Por: Carlos Mesters

  1. Jesus é a chave principal da Sagrada Escritura (DV 2.4.16)

Para nós cristãos, Jesus é o centro, a plenitude e o objetivo da revelação que Deus vinha fazendo de si desde o Antigo Testamento (DV 2.3.4.15.16.17). “Os livros do Antigo Testamento adquirem e manifestam sua plena significação no Novo Testamento e, por sua vez, o iluminam e explicam” (DV 16). Sem o Antigo Testamento não se entende o Novo, e sem o Novo não se entende o Antigo.

A experiência viva de Jesus na comunidade é a luz nova nos nossos olhos para poder entender todo o sentido do Antigo Testamento (DV 16). Cristo está como que do nosso lado, olhando conosco para o Antigo Testamento, clareando-o com a luz da sua presença. Dizia Santo Agostinho: “Novum in Veterelatet, Vetus in Novo patet”, o que significa “O Novo está escondido no Antigo, o Antigo desabrocha no Novo”.

Tudo isto tem uma atualidade muito grande. Não se trata só de descobrir como os primeiros cristãos souberam encontrar as figuras de Jesus no Antigo Testamento (DV 15). Trata-se sobretudo de fazer hoje o que eles fizeram, a saber: descobrir como o nosso “antigo testamento”, isto é, a nossa história pessoal e comunitária, está sendo empurrada pelo Espírito de Deus para a vida plena em Cristo. A conversão para Cristo tira o véu dos olhos e faz entender o sentido da Bíblia e da vida (2 Cor 3,16).

De um lado, a Bíblia ajuda a entender e a aprofundar aquilo que estamos vivendo em Cristo. De outro lado, nossa vida e nossa prática nos ajudam a entender melhor o sentido cristológico da Escritura. Antigamente, este sentido era chamado de “sentido espiritual”. Isto é, o Espírito nos ajuda a descobrir o sentido que o texto antigo tem para nós hoje. Também era chamado “sentido simbólico”, pois unia (sym-ballo) a vida e a Bíblia.

  1. Aceitar a lista completa dos livros (DV 16)

Existem duas listas de livros inspirados: a lista judaica, que compreende o que nós chamamos o Antigo Testamento, e a lista cristã, que compreende os livros do Antigo e Novo Testamento. Aceitar a lista completa é aceitar a unidade dos dois Testamentos e admitir que uma e mesma economia divina une os dois Testamentos num único projeto de salvação e de libertação, projeto que só se revela plenamente na medida em que o Antigo passa a ser Novo.

Esta passagem do Antigo para o Novo começou no momento da Ressurreição de Jesus e ainda não terminou. A cada momento novos povos, novas pessoas e novos setores da nossa vida pessoal e comunitária vão entrando no “Caminho” (At 9,2; 18,25.26). Esta passagem, páscoa, envolve tudo e todos, pois tudo foi criado por Deus para Cristo (Cl 1,16). Assim, cada pessoa, cada grupo, cada comunidade, povo ou nação tem o seu Antigo Testamento, tem a sua história de salvação e deve fazer a sua passagem do Antigo para o Novo, isto é, deve aprofundar a sua vida até descobrir lá na raiz, a presença amiga e gratuita de Deus, empurrando tudo para a plena vida em Cristo.

A Bíblia com seus dois Testamentos é norma, é cânon, dado por Deus, para ajudar-nos no discernimento e na realização desta nossa páscoa de salvação e de libertação. “Renovar” é fazer com que também hoje nas nossas vidas o Antigo se torne Novo.

  1. A Bíblia é livro da Igreja (DV 21)

Quando nos reunimos em torno da Palavra de Deus, formamos um pequeno santuário ou sacrário, tão santo quanto o sacrário que conserva o Corpo de Cristo. Na Igreja existem o Livro e o Cálice (João XXIII), o santuário da Palavra de Deus e o santuário do Corpo de Deus (DV 21). Os inúmeros pequenos santuários da Palavra de Deus que, assim, se espalham pelo mundo, sobretudo entre os pobres, são as pontas finas e frágeis da raiz que dão força e vigor à árvore da Igreja. Estes pequenos santuários em torno da Palavra de Deus são o lugar, onde a Igreja nasce como a água da sua fonte.

A Bíblia não é, em primeiro lugar, um livro de piedade individual, nem uma cartilha de transformação social, mas é o livro de fé da comunidade, livro de cabeceira. A Palavra de Deus gera a comunidade. Interpretar a Palavra de Deus não é a atividade individual do exegeta que estudou um pouco mais que os outros, mas é e deve ser uma atividade comunitária, na qual que todos participam, cada um a seu modo com os seus dons, inclusive o exegeta.

Deste modo, surge e cresce o sentido comum, aceito e partilhado por todos. É o “sensusecclesiae”, o “sensusfidelium”, o “sentido de fé da Igreja”, com o qual todos se comprometem como se fosse com o próprio Deus. Este “sentido de fé da Igreja”, quando partilhado por todos nos Concílios Ecumênicos e expresso pelo Magistério, cria o quadro de referência dentro do qual se deve ler e interpretar a Bíblia.

  1. Levar em conta os critérios da fé (DV 12)

Não basta a razão para poder captar todo o sentido que a Bíblia tem para a nossa vida. É necessário levar em conta também os critérios da fé e ler a Bíblia “naquele mesmo Espírito em que foi escrito” (DV 12). Os critérios da fé são três: “Atender com diligência ao conteúdo e à unidade de toda a escritura, levada em conta a Tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé” (DV 12). Ou seja, a interpretação cristã da Bíblia deve levar em conta: (1) a “unidade de toda a Escritura”, isto é, a Visão Global da Bíblia; (2) a “tradição viva da Igreja” dentro da qual a Bíblia foi gerada e é transmitida; (3) a “analogia da fé”, isto é, a vida da Igreja dentro da qual e em função da qual a Bíblia é lida e interpretada. Os três têm o mesmo objetivo: descobrir o sentido pleno da Escritura, impedir que o seu uso seja manipulado, e evitar que o texto seja isolado do contexto histórico e da tradição eclesial que o geraram e transmitiram. Vejamos cada um dos três:

  1. A unidade de toda a Escritura. A Bíblia é um conjunto, onde cada livro, cada frase tem o seu lugar e a sua função para nos revelar o Projeto de Deus. As suas várias partes são como tijolos numa grande parede: juntos formam o desenho do Projeto de Deus. Este critério da Unidade da Escritura proíbe isolar textos, arrancá-los de seu contexto e repeti-los como verdades isoladas e absolutas. Um tijolo só não faz a parede. Um traço só não faz o desenho do rosto. A Bíblia não é um caminhão de tijolos, mas uma casa onde se pode morar.
  2. A Tradição viva da Igreja. A Tradição envolve a Bíblia antes, durante e depois. Antes de ser escrita, a Bíblia era narrada. Foi sendo escrita dentro de um processo de transmissão das histórias e tradições do povo. No fim, uma vez escrita, continuou e continua sendo transmitida de geração em geração, até hoje. Ou seja, o texto bíblico não caiu pronto do céu, mas nasceu de dentro e em função de uma situação concreta do povo de Deus. Como tal deve ser lida e vivida.
  3. Levar em conta a analogia da fé. O texto deve ser lido não só dentro do conjunto da Bíblia, nem só dentro do conjunto da Tradição, mas também dentro do conjunto da vida atual da fé da Comunidade. Deve obedecer não só às exigências de fé de ontem, mas também às exigências de fé de hoje. A fidelidade à Palavra exige que ela se torne contemporânea dos homens de hoje (Paulo VI). Isto é, deve levar em conta as dificuldades que o homem moderno tem para crer.
  4. Levar em conta os Critérios da Realidade (Paulo VI)

Os critérios da realidade situam-se em dois níveis: a realidade da época em que foi escrita a Bíblia, e a realidade do povo que hoje lê a Bíblia. Ambas têm as suas exigências a serem levadas em conta na interpretação.

  1. A realidade do tempo em que foi escrita. “O intérprete deve transpor-se com o pensamento àqueles tempos antigos do Oriente” (Pio XII). Com a ajuda das ciências, ele estabelece o sentido-em-si do texto e o prepara para que o leitor possa descobrir nele o sentido espiritual que lá existe para nós. Ou seja, ele estabelece “uma certa conaturalidade entre os interesses atuais e o assunto do texto, para que se possa estar disposto a ouvi-lo” (Paulo VI).
  2. A realidade do povo que hoje lê a Bíblia. A Bíblia nasceu da preocupação do povo de reencontrar, na realidade conflituosa de cada época, os sinais da presença e dos apelos de Deus. O próprio Jesus explicou a Bíblia partindo da realidade e dos problemas dos dois discípulos de Emaús: “De que vocês estão falando?” (Lc 24,17). Não basta o intérprete expor o sentido histórico do texto. Ele deve expô-lo também “em relação do homem contemporâneo” (Paulo VI). Isto significa levar em conta a realidade que hoje nos envolve e ter uma visão crítica desta realidade, para não ser vítima ingênua da ideologia dominante.

Assim, usando este duplo critério da realidade, descobrimos o chão comum humano que une o povo de Deus de hoje e o povo de Deus da Bíblia numa mesma situação diante de Deus, e cria assim a abertura para se perceber o alcance do texto para a nossa realidade.

  1. Leitura Orante da Bíblia (DV 25)

“A Sagrada Escritura deve ser lida naquele mesmo Espírito em que foi escrita” (DV 12). Pois a descoberta do sentido não depende só da força da inteligência, mas também da ação do Espírito que só se consegue pela oração (cf. Lc 11,13). Por isso, a leitura da Bíblia “deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça um colóquio entre Deus e o ser humano pois com Ele falamos quando rezamos; ouvimo-lo quando lemos os divinos oráculos” (DV 25). O documento da Pontifícia Comissão Bíblica sobre a Interpretação da Bíblia na Igreja dá uma atenção muito grande à Leitura Orante da mesma

Neste ponto, a leitura do povo das Comunidades Eclesiais de Base nos dá uma lição. Ele envolve a leitura pela oração e pelo canto e cria, assim, um ambiente comunitário de fé, onde o Espírito pode atuar, agir livremente e revelar o sentido que o texto antigo tem para nós hoje.

Isto significa que se deve criar um ambiente de silêncio, de escuta e de partilha e, ao mesmo tempo, ter uma preocupação constante em aprofundar a vida do povo com seus problemas e permitir que as alegrias e tristezas do povo estejam em nossa mente e no nosso coração.

  1. Toda a interpretação a serviço da Evangelização (João Paulo II)

A interpretação da Bíblia não tem finalidade em si mesma, mas está a serviço da vida e da missão da Igreja. A missão principal é a evangelização, o anúncio da Boa Nova de Deus (Mc 1,14). “Na Igreja, todos os métodos de interpretação devem estar, direta ou indiretamente, a serviço da evangelização” (João Paulo II).

Para que isto possa acontecer, são necessárias duas coisas: 1. Durante todo o tempo da leitura da Bíblia ter presente a realidade do povo a ser evangelizado. 2. Para que a comunidade seja realmente evangelizadora, ela deve permitir que a Palavra a transforme em amostra viva do Evangelho que anuncia. Toda a nossa vida deve ser alimentada e permeada pela Palavra de Deus a ponto de “iluminar a mente, fortalecer a vontade e inflamar o coração” (DV 23).

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