Os perigos da gravidez precoce
Por Antobona
Hoje em dia, há muitos adolescentes que se tornam mães e pais precocemente, uma parte antes dos 15 anos e outra antes dos 18 anos.
Ter um filho, é um fenómeno esmagadoramente feminino pois, 40,2 % de raparigas são mães antes dos 18 anos, comparativamente a apenas 3,8% de rapazes. Em termos de gravidez precoce, a diferença entre o meio rural e o urbano é menos pronunciada do que o casamento prematuro (5,9% de raparigas de zonas urbanas engravida antes dos 15 anos comparativamente a 9,0% nas áreas rurais).
Isto é devido à maior ocorrência de casos de gravidez fora do casamento nas áreas urbanas.
Em Moçambique, as províncias com maior número de casos de gravidez precoce são Nampula e Zambézia. Na Zambézia, o problema da gravidez precoce é particularmente pronunciado antes dos 15 anos, onde cerca de 17.848 raparigas entre os 20 e os 24 anos deram à luz antes dos 15 anos (representando 8,8% de todas as raparigas com idades entre os 20-24 anos). Em Nampula, pelo contrário, o número de casos de gravidez antes dos 15 anos é mais baixo (16.851 raparigas com idade entre 20-24 anos). No entanto, nesta província regista-se a taxa mais elevada do país de raparigas grávidas antes dos 18 anos com cerca de 107.553 raparigas, o que correspondente a 51,7%.
As províncias de Manica (44,9% de mulheres com idade entre 20-24 anos engravida antes dos 18 anos e 8,5% engravida antes dos 15 anos) e Niassa (41,5% de raparigas engravidam antes dos 18 anos e 11,7% antes dos 15), representam também maiores taxas de gravidez precoce no país (Estatísticas UNICEF de 2017).
A idade considerada apropriada para a procriação está relacionada com a cultura de cada sociedade. Nos dias atuais, a nossa sociedade atribui à faixa dos 12 aos 20 anos as funções de desenvolvimento psicossocial, formação escolar e preparação profissional. Considerase que é preciso atingir a maioridade, terminar os estudos, ter trabalho e rendimentos próprios, para só então estabelecer uma relação amorosa duradoura e ter filhos. A gravidez e a maternidade ou paternidade na adolescência rompem com essa trajectória considerada “natural” e são vistas como problema e risco a ser evitado.
Uma gravidez na adolescência pode gerar medo, insegurança ou desespero. A desorientação e o sentimento de solidão são reacções muito comuns, principalmente no momento da descoberta da gravidez. A questão envolve muito mais do que um julgamento quanto ao grau de responsabilidade (ou irresponsabilidade) pessoal ao qual é frequentemente reduzida. Esta fórmula apenas contribui para descomprometer a sociedade com ao assunto e, por isso, vale a pena reflectir sobre os aspectos que envolvem a responsabilidade das pessoas e casais.
A gravidez pode ser fruto da falta de informação sobre saúde reprodutiva e métodos contraceptivos ou da falta de acesso a eles. Pode, também, estar relacionada com aspectos comportamentais, ou ser fruto da vontade das adolescentes e de seus parceiros, de seu desejo de conquistar autonomia, espaço no mundo adulto e valorização social.
Quando analisamos a questão com mais cuidado, percebemos que a gravidez na adolescência torna-se um grande problema quando a sociedade, a família e o poder público não garantem, efectivamente, o direito de viver a adolescência e o apoio para as adolescentes grávidas (e os adolescentes grávidos).