ESTA TERRA PERTENCE AO POVO
Moçambique é uma terra abençoada. Actualmente cresce a onda de descobertas e redescobertas de recursos minerais em diversas províncias. Na bacía do Rovuma, por exemplo, enormes reservas de gás e ouro subjazem no solo. Mas quem se beneficia destas riquezas naturais?
Será a maioria da população? Quem do povo simples (os eternos excluídos) sabe das quantidades e volumes desses jazigos naturais? O máximo que pode acontecer é beneficiar de reassentamento para viver em casotas cheias de rachas e muito calor.
Empresas de grande vulto fazemos seus investimentos na corrida ao carvão, areias pesadas, pedras preciosas, ouro, diamantes, gás, madeira e pescado de primeira qualidade e ocupação de terras férteis para a prática da agricultura. Ora, os milhares de milhões de dólares que as empresas investem porque não podem beneficiar o povo? Não seria um meio que lhe permitiria sair da miséria? Para onde vai esse dinheiro? Numa ocasião, li um texto que dizia: “É arriscado criticar a hierarquia de um país que desde a independência é governado de forma autoritária”. E quando se ousa “tossir um pouco”. uma bala é destinada para calar eternamente o autor da “tosse”.
Não é o caso de dizer que somos “os condenados da terra” de Frantz Fanon. Os Bispos de Moçambique em 2017 escreveram: “A terra em Moçambique está em agonia profunda! De todos os países africanos, o nosso país é um dos mais cobiçados pelas empresas e países estrangeiros nestes últimos anos. Em todas as províncias do país estão a surgir conflitos por causa da terra. Não devemos aceitar um modelo de desenvolvimento que privilegia o lucro individual em detrimento da dignidade do ser humano e dos direitos das comunidades. Não devemos aceitar uma sociedade cuja economia está centrada na idolatria do dinheiro. Assim, cuidemos das relações com os nossos irmãos e com toda a criação” (Carta Pastoral).
Nós somos os abençoados da terra. Sim! Deus cumulou a nossa terra de muitas riquezas. Mas cabe a nós criar mecanismos de distribuição equitativa dos recursos existentes.
Neste mês dedicado aos trabalhadores de diversas espécies e categorias é preciso tomar consciência de quantos desvalorizados, mesmo com profundo suor que vem do seu trabalho, dos marginalizados, dos garimpeiros que morrem soterrados nas minas de Moçambique, dos empregados domésticos, e de tantos outros trabalhadores que ao romper do sol se predispõem à labuta, mas para receberemoseu salário é preciso tocar latas até rebentar as mãos, vertendo sangue escuro.
Ao celebrar o mês dos trabalhadores devemos recordar alguns pecados no trabalho: Inveja, intolerância, ganância, preguiça, soberba, gula, impaciência, insatisfação, etc. Por vezes, essas doenças ofuscam a capacidade de reconhecer as qualidades e competências do outro. Se a terra é nossa, lutemos para que juntos possamos construir um país de que temos direito de nos orgulharmos.
Por Kant de Voronha