As famílias e a promoção da paz e desenvolvimento da sociedade
Por Serafim João Muacua
A família é o fundamento da sociedade. Ela representa uma «pedra angular» na construção da paz e do desenvolvimento na sociedade. O desentendimento que se vive no relacionamento entre as famílias constitui uma ameaça à paz e ao desenvolvimento da sociedade.
É da família que saem os cidadãos e na família encontram a primeira escola das virtudes sociais, que são o ponto focal da vida e do desenvolvimento da sociedade.
A família constitui o lugar mais eficaz de humanização e de personalização da sociedade. Ela contribui para a promoção da paz e do desenvolvimento na sociedade através da sua experiência de comunhão e de participação na vida social. Como primeira escola de sociabilidade, a harmonia entre os pais e a correcção para com os filhos quando estes estão errados, estimula o crescimento das relações comunitárias,a sensibilidade para com a justiça, diálogo e amor e uma forte educação ao trabalho.
Coragem da mudança
“É de pequeno que se torce o pepino”, diz um proverbio popular. Numa família onde os pais primam por uma postura liberalista, olhando com indiferença os maus comportamentos dos filhos estão preparando para a sociedade, talvez, membros delinquentes. O hábito de se colocar sempre a favor dos filhos, de os encobrir, independentemente de estarem certos ou errados, perverte a personalidade deles como futuros membros da sociedade. A falta de união no relacionamento, a vida sempre conflituosa no seio da família, influencia na personalidade social das crianças. A maneira de os pais gerirem o conflito dos filhos dita também na sua educação moral. É a família que tem o dever de educar os filhos no respeito, no amor à verdade, justiça e solidariedade.
Família humaniza
Também a educação ao respeito da ecologia ambiental começa na família, quando os pais ensinam os filhos a valorizarem os recursos naturais como a água, as plantas. É assim que o Papa Francisco diz que “a humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo”.
Diante de uma sociedade tendente a ser cada vez mais despersonalizada, desumana e desumanizante, a família possui a capacidade de “arrancar o homem do anonimato, de o manter consciente da sua dignidade pessoal”.
Portanto, a família é uma pequena sociedade dentro de uma grande sociedade. A paz e o desenvolvimento da sociedade em que estamos, exige conversão das famílias no modo de lidar com seus membros e na maneira como gere os pequenos conflitos no seio das mesmas.
As ameaças
O mal-estar da sociedade é reflexo do mal-estar das famílias. Não é possível uma sociedade feliz, um mundo pacífico e desenvolvido sem famílias felizes, pacíficas e pacificadoras.
Por esta íntima conexão entre a família e a sociedade, impõe-se ao Estado e à sociedade o dever fundamental de respeitar, defender e de promover a família.
Contudoé preciso vencer algumas posturas que colocam em causa o seu papelde promoção da paz e do desenvolvimento.
Medo: o medo de perder o emprego, do terrorismo, de perder o amor do parceiro, da exclusão, de ficarmos para trás influenciam negativamente o desenvolvimento familiar.
Smartphonismo ou onlinismo: é o apego doentio do celular, a ponto de boicotar o diálogo directo entre membros da família e que mata o hábito de conversar, dialogar entre os vários membros familiares.
Quaresma sem Páscoa: é a situação de muitos lares familiares hoje que já não são lugar de amor nem de paz, mas, antes, campos de batalha e luta.
Consequências práticas
Perante estes medos e dificuldades temos uma inversão de marcha a respeito daquilo que a educação familiar exige. Por exemplo, o “você é tudo para mim” transforma-se em “você não é nada para mim”; “eu amo-te” é substituído por “eu odeio-te”; em lugar do “meu bem” fica “minha desgraça”; “sem você eu não vivo” fica “você é um inferno para mim.
É o perigo do desenraizamento generalizado. A ruptura familiar desemboca num caos drástico: filhos desenraizados, idosos abandonados, crianças órfãs de pais vivos, adolescentes e jovens desorientados e sem regras.
Famílias responsáveis
Enfim, recordamos que a família é uma instituição social de capital importância, é uma instituição de “ensino superior” onde se promovea paz e o desenvolvimento da nossa sociedade. Daí que há necessidade de cada família assumir a responsabilidade de, através da sua experiência de comunhão em casa, na sociedade, transmitir uma boa educação às novas gerações.
Como deixámos claro, o mal-estar da sociedade actual é reflexo do mal-estar das famílias. Na verdade, o medo de educar, corrigir os próprios membros da família, a falta da cultura de diálogo, a fragilidade dos laços familiares, a atitude de estar sempre a favor dos membros da família independentemente de estarem certos ou errados, só podem contribuir para a destruição da própria família e da sociedade.
Por último, dada a íntima conexão entre a família e a sociedade, existe, por outro lado, o imperativo de a sociedade e o Estado estarem a par da defesa e da promoção dos direitos das famílias, sobretudo as que se encontram em situação de vulnerabilidade.