A Mulher: o ser mais maravilhoso do mundo
Por Leonel Marcelino
Cada comunidade tem os seus muros extremamente difíceis de derrubar sobretudo quando se fundam em tradições, seja de que natureza forem. Mas, sempre foi possível derrubá-los, ainda que, a pouco e pouco, ao longo dos tempos. Umas vezes, por circunstâncias ocasionais (uma guerra, uma mudança política, a acção de alguém mais esclarecido, mais ilustrado, mais viajado, mais rico de sentimentos, de emoções, de valores, de atenção às injustiças). Outras, graças a uma luta persistente por um mundo mais inclusivo, mais justo, mais livre, mais feliz.
Mulher, tesouro da humanidade
Continua a impressionar-me como a Mulher, o ser mais maravilhoso e mais importante de qualquer comunidade, continua, sobretudo em África, mas, não só, com um estatuto de subalternidade, esmagada por uma sociedade de hábitos machistas.
Já é tempo de, todos juntos, dizermos basta!
É uma vergonha que, embora a legislação se tenha vindo a alterar a favor da mulher, contudo, a sua condição de ser humilhado, usado, explorado, desprezado, subalternizado, pouco se tenha alterado. Uma vergonha!
Ainda há muito para fazer
Há festas, flores, bolos, desfiles, mas, os problemas estruturais, de grande gravidade, sobretudo os fundados em rotinas tradicionalistas erradas e fora do prazo, não se resolvem com palavras, nem com boas intenções e festarolas. As entidades responsáveis, a todos os níveis, não podem continuar a assobiar para o lado. Não podem continuar a ter medo de intervir. Ou estarão também imobilizadas pela óptica machista?
Há mais de 40 anos, na Rádio Encontro, em Nampula, pusemos no ar um programa semanal destinado à mulher, impressionados pela sua condição de quase escrava. Foi uma luta entusiasmante, na medida em que debatemos acaloradamente, temas como o seu papel de Mãe, a excisão genital, os casamentos precoces, a importância da mulher para a economia do lar, os trabalhos no campo, tantas vezes, com um filho às costas, outro na barriga, outro por perto, à espera de mamar, outros entretidos por lá. Também já havia mulheres que tinham o seu negócio, mas, quase sempre, sem se libertarem da sujeição.
Luta exigente
Não é uma luta fácil, tanto mais que acontece, neste caso concreto, como com outros que mexem com a tradição, que é a própria interessada que recusa iniciativas de mudança, pois corre o risco de ser marginalizada pela própria comunidade.
Perante os muros, deixamos estas situações eternizar-se? Seria uma derrota para toda a Humanidade. O mundo pertence cada vez mais a todos. Sobretudo com as suas diferenças. Uns fazem o que outros não conseguem. Juntos, seremos sempre mais capazes de construir uma civilização com futuro para as pessoas e para o ambiente. Nele cabem todas as línguas, identidades, tradições, religiões, práticas culturais, maneiras de estar na vida se as pessoas aprenderem a amar-se e a amar o outro.
Há, pois, que definir os contornos da acção a desenvolver. Cada vez mais urgentemente.
É importante que as autoridades responsáveis assumam as suas obrigações e façam cumprir a lei. Em simultâneo, os políticos, nas suas actuações, seja em que palco for, têm de apresentar soluções para a resolução deste problema da situação da mulher.
Educação é a porta da mudança
Mas, fundamentalmente, a escola, desde os primeiros anos, tem de obrigar-se a educar para a igualdade de género. Continuo a pensar que este problema, como tantos outros, só poderá resolver-se com uma educação que aposte na vida real e eduque para a cidadania e para a intervenção a favor de uma sociedade onde todos tenham direito à liberdade, à felicidade, à igualdade. A educação tem de beber as suas raízes na vida e preparar as pessoas para darem respostas concretas aos problemas estruturais do país e aos do dia-a-dia que preocupam cada cidadão.