As incidências do terrorismo em Cabo Delgado

As incidências do terrorismo em Cabo Delgado

Pela Redacção

No dia 5 de Outubro de 2017, a sede do distrito de Mocímboa da Praia (Cabo Delgado) foi atacada por indivíduos armados. Este ataque que não foi reivindicado, visou essencialmente instituições do Estado, nomeadamente da polícia local. Desde então, os ataques têm sido recorrentes em quase todos os distritos nortenhos de Cabo Delgado até, em Março a ocupação momentânea das sedes dos distritos de Mocímboa da Praia e Quissanga, onde os atacantes içaram uma bandeira semelhante à do Estado Islâmico.

Entretanto, depois de dois anos e meio para as autoridades continua o mistério em torno da identidade e motivações deste grupo persiste. Sérgio Chicava, pesquisador do IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos), apresentou numa sua publicação (Boletim Ideias n. 127) as diferentes hipóteses, enunciadas pelo governo moçambicano, sobre a identidade e objectivos destes insurgentes que podem ser resumidas em quatro: Indivíduos com objectivo de instalar um Estado Islâmico; Antigos garimpeiros das minas de Rubi em Montepuez; Grupo de empresários Moçambicanos residentes na Beira e Forças externas.

 

Instalar um Estado Islâmico

Logo após o ataque de 5 de Outubro de 2017 a Mocímboa da Praia, o governo afirmou que se tratava de um grupo constituído por indivíduos (estrangeiros e moçambicanos) que tinha como objectivo, instalar um Estado Islâmico em Moçambique. Em virtude disso, imediatamente após os ataques, diversos cidadãos muçulmanos em Cabo Delgado foram presos sob a acusação de pertencerem ao “AlShabaab” e várias mesquitas encerradas. Esta situação criou um mal-estar no seio da comunidade muçulmana moçambicana tanto que  as autoridades moçambicanas mudaram de discurso, declarando que não tinhama certeza que os ataques tivessem a ver com um grupo com motivações religiosas e que ainda continuam sem saber os seus objectivos. Igualmente, é preciso realçar que a comunidade muçulmana moçambicana sempre se distanciou dos ataques em Cabo Delgado.

Antigos garimpeiros das minas de Rubi em Montepuez

De acordo com as autoridades moçambicanas, os garimpeiros locais (a chegada da Montepuez RubyMining, nos princípios de 2017, para explorar as minas de rubis, foi precedida pela expulsão violenta de garimpeiros “ilegais” pelas forças policiais) estariam a ser manipulados por “estrangeiros” oriundos da Tanzânia e República Democrática do Congo (RDC), que tinham sido expulsos das minas de rubi, onde estavam a fazer exploração clandestina, provocando o caos para poderem continuar a fazer exploração ilegal de recursos naturais em Cabo Delgado.

Grupo de empresários Moçambicanos residentes na Beira

O governo de Moçambique diz também que alguns empresários moçambicanos residentes na cidade da Beira, descontentes com o combate feito pelo Estado ao tráfico ilegal da madeira estariam a financiar os “insurgentes”. Contudo, até agora, não houve mais desenvolvimentos quanto a esta hipótese, não se sabendo a que conclusões as autoridades chegaram em relação aos “falsos empresários” ou aos empresários da Beira.

Forças externas 

A outra hipótese avançada pelo governo moçambicano, é a de que se trata de uma guerra movida por forças “externas” em conluio com alguns moçambicanos. Os líderes dos “insurgentes” seriam congoleses, que recrutavam e treinavam moçambicanos na RDC para fazer guerra em Moçambique. Nesta empreitada, os congoleses estariam a agir em colaboração com tanzanianos, somalis e malianos. Uma guerra movida por pessoas de fora e pessoas que têm dinheiro com o objectivo de instrumentalizar o tribalismo para dividir os moçambicanos.

Os sem rosto, têm rosto?

Que leitura se pode fazer destas diferentes versões? Evidências no terreno mostram claramente que o país está perante a presença de um grupo radical islâmico. Primeira hipótese inicialmente avançada pelo governo e que por razões pouco claras foi “abandonada”. Contudo, os recentes ataqueis , onde a reivindicação de um Islão radical está bem patente, deixa poucas dúvidas da ligação entre o “Al Shabaab” e o Estado Islâmico, o que deita por terra a tese de que se trata de atacantes “sem rosto” nem “mensagem”.

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