Estudo multidisciplinar para compreender Moçambique e o seu povo
MOÇAMBIQUE E MOÇAMBICANA/O
Moçambique e moçambicanos são um mistério a ser desvendado.
Para ser desmistificado o que muitos não sabem sobre este país, sugiro que haja uma equipa de especialistas de várias áreas de saber para se dedicar no estudo sobre Moçambique e também de forma detalhada sobre cada moçambicana e moçambicano.
Tenho acompanhado várias tentativas de pesquisas, leio várias obras, sinto o esforço de vários homens e mulheres, dotados de genialidade, mas parece que nenhum entende quem é este povo e o que é este país.
Pode parecer exagerado, mas se cada um ficar atento poderá perceber que de facto há um grande mistério a ser revelado.
Se vier como antropólogo e sociólogo, podes perceber que é um povo a mais dentro do contexto africano. Pode encontrar semelhanças que irão te atrapalhar e não terás conclusão sobre este povo muito menos seu país, Moçambique.
A sociedade não irá te ajudar a entender nada porque apesar da semelhança, o moçambicano, é um povo muito diferente doutros africanos.
Poderá o filósofo, o teólogo e o místico se unirem mas cada vez mais haverá algo a ser filosofado, algo a ser questionado e a ser comtemplado.
Se for cantor ou poeta, as canções serão lindas e os poemas serão maravilhosos mas nunca dirão o que é ser moçambicano/a.
A história nos apresenta uma coisa, a geografia divide, por exemplo, Nampula de outra província como Cabo Delgado, mas na fronteira a diferença será o rio Lúrio porque o povo irá ser o mesmo.
Apresento alguns traços que me levam a afirmar que deve haver uma investigação de carácter multidisciplinar.
1. Quinhentos anos de colonização
Foram quinhentos anos de colonização, dominação e imposição de culturas diferentes, mas até hoje, tem moçambicanos que não sabem falar a língua portuguesa e resistem se expressando unicamenteem idiomas locais.
A dita civilização europeia ficou no papel porque até hoje, Moçambique se pratica a poligamia, algo dito como um crime em países nórdicos.
1.1. Guerras tribais
Para maior controle de territórios e para a imposição da autoridade e poder, os chefes tribais faziam guerras entre si, mas no final do campeonato, tomavam juntos suas bebidas, como a Othéka (bebida tradicional feita na base de mapira).
Os chefes tribais mantinham laços de amizades e também de vizinhança não se lembrando das guerras.
Seus filhos praticavam casamentos inter étnicos e a intimidade crescia.
1.2. A escratura
Com o início do comércio de escravos, uns tios vendiam seus sobrinhos principalmente os mais indisciplinados mesmo sabendo que o mesma daria a continuidade da família e do clã ou da tribo.
Quando faltasse o que vender, alguns homens preparados para esse tipo de missão, iam roubar meninos noutras regiões.
Enquanto a escravidão continuava, crescia também o povo e aos poucos foi povoando o país todo.
1.3. Religiões tradicionais e religiões monoteístas
Desde cedo esse povo tinha sua religião e sabia dialogar com Deus.
Ao usar diferentes nomes fruto de muitas línguas, o povo foi acusado de animista. Porém, o monoteísmo é mais forte em Moçambique que no Ocidente.
Com a dominação colonial e a vinda dos árabes, instalaram as religiões cristã e islâmica, respectivamente.
No entanto, quer o cristão quer o muçulmano, continua sendo moçambicano e a viver no dia a dia o ser religioso africano, usando os curandeiros e feiticeiros etc.
2. Dez anos de luta pela independência
Após anos de negociação para que Portugal abandonasse o país, não havendo sucesso e com a insistência de que Moçambique era província ultramarina de Portugal, os moçambicanos tomaram nas armas para libertarem o país.
Para a surpresa de todos, o tal inimigo passou a ser parceiro de cooperação e hoje os filhos dos dirigentes, os assimilados são mais “tugas” que os nativos.
No país, graças a Deus e pelo espírito acolhedor do moçambicano, encontramos muitos amigos portugueses e muitos com nacionalidade moçambicana.
Veja como deve haver de facto um estudo multidisciplinar!
3. Dezasseis anos de guerra civil
Na guerra que durou 16 anos foi vergonhosa. Irmão lutando contra o irmão, em nome da dita democracia, arruinaram o país e mataram seus próprios familiares e vizinhos.
A mesma terra que lhe viu a nascer, é a mesma que ele destrói.
Ao se tornar chefe na mesma terra que ele próprio vandalizou, vai a União Europeia pedir empréstimo para reconstruir o país.
Para a surpresa dos demais, no final da guerra, os irmãos continuaram a conviver e festejar juntos.
Aí está a razão porque Moçambique deve ser estudado por gente de diferentes saberes.
3.1. A nudez e a fome
Hoje, cada mulher que tem vida boa, acumula armários de roupa fina. Mas durante o governo de Samora Machel, ter uma única saia era sinónimo de ser esposa de um militar.
Nas aldeias chegaram de vestir sacos de sisal.
A fome era frequente e provocou as bichas ou filas desde a madrugada para a compra de um pão.
Hoje, encontramos crianças que não comem pão do dia anterior. Quem comia pão quente naquele tempo era o comandante.
Alguns professores não sabiam o que é ter salário mas recebiam boa comida do Programa Mundial da Alimentação e os mais pobres foram salvos pela Cáritas.
Apesar da fome, da nudez e da falta de salário, quer os professores quer os alunos se dedicavam para tornar a Educação de qualidade.
3.2. O cadonqueiro e operação produção
A actividade económica mais valorizada na era do tio Samora era a agricultura. Qualquer pessoa que tentasse optar, por exemplo, na venda de roupa usada, vulgarmente chamada de “calamidade”, recebia o nome de candonqueioro.
O comércio informal não era bem visto.
Por isso, embora não houvesse lucro na venda dos produtos agrícolas, os camponeses se dedicavam bastante.
Os chamados preguiçosos eram recolhidos e submetidos ao programa “operação produção ” que consistia em tirar à força alguém, por exemplo, de Inhambame para a província do Niassa.
Teve alguns resultados positivos nessa operação? Como terminou esse programa?
4. O Cabrito come onde está amarrado
Em certo momento, na era de Joaquim Chissano, houve atraso de salário.
Na tentativa de explicar que o funcionário tem direito ao salário para seu sustento, dizem que o ex-presidente usou a expressão “cabrito come onde está amarrado”.
Com um sabor de oportunismo, muita gente interpretou isso com liberação de desvio de recursos sem medo de ser castigo desde que
fosse no local de trabalho da pessoa.
O cabritismo (o acto de insistir que o cabrito come onde está amarrado) ainda continua nas instituições públicas e a corrupção tende piorar ao ponto de não ser concebida como um mal.
Na consciência colectiva do povo, é melhor ser corrupto que ser ladrão… será que não se entende que os dois cometem crime?
Por isso, é urgente que o moçambicano seja estudado.
5. O espírito de deixar a andar
Na era do tio Queba, parecia que as coisas estavam a melhorar, mas surgiu um fenómeno ligado intimamente ao acto da corrupção que era de “deixar andar” as coisas sem necessariamente avaliar seus impactos.
Na verdade o espírito de deixa andar é tão perigoso que pode ser comparado como pior que a negligência porque falta a punição dos que praticam esse acto.
Dando exemplos claros do espírito de deixa andar é o que vimos nas eleições. Apesar da constatação de que as eleições não são livres, justas e transparentes, o povo que exerceu o direito de cidadania, não reivindica, deixando simplesmente, andar.
6. O meu patrão é o povo
Em 2015, na tomada de posse como presidente, o tio Nyusi prometeu publicamente ser um bom empregado ao enfatizar que o “meu patrão é o povo”.
Não deveria ser novidade porque de facto quem colocou o homem no poder é o povo e ele deveria se esforçar a prestar bem o serviço.
Na medida que o tempo foi passando, os papéis foram revertidos. O empregado tornou-se patrão vice e versa.
Cada ano, o país, enfrenta vários problemas e o povo foi se afundando na miséria.
Em uma terra muita rica está a produzir paupérrimos.
A única coisa para entender isso é estudando o moçambicano, único que sendo rico passa por necessidades básicas, espera por um apoio para garantir seu jantar.
7. Riquezas naturais e culturais
A existência de diamante, ouro, rubi, petróleo e gás deveria ser acolhida como uma bênção.
As pessoas deveriam sentar e estudar como beneficiria essa riqueza sem se tornar de uma maldição.
Em diferentes países, ter tanta riqueza como a que Moçambique tem, é motivo de festa. Mas em Moçambique é motivo de luto.
Será que Deus fez mal por nos colocar nesta terra de tanta riqueza? Claro que não! Deus nunca iria nos amaldiçoar. O que é urgente é usar a cabeça para explorar e distribuir bem essa riqueza.
8. Fenômenos naturais
Alguém, perguntou-me um belo dia se Moçambique era a porta principal dos ciclones e onde se encontra essa casa ou portão , quem sabe, para podermos abrir e não impedir a passagem dos mesmos… a colocação visava ilustrar o quanto o país sofre desse fenómeno natural.
A passagem dos ciclones deixa o país muito desgraçada.
Os vários nomes dados aos ciclones já torna difícil memoriza-los. Além dos ciclones, o país sofre frequentemente de inundações e secas.
4.1. Inundações
Algumas cidades foram construídas em zonas baixas, em áreas fáceis de alagamento e muitas aldeias construídas ao longo dos rios. Cada época chuvosa, o sofrimento é único: destruição de infraestruturas e provocação de mortes.
A falta de políticas de monitoria e acompanhamento sistemático das chuvas não permite o combate a esse mal.
Muita gente se beneficia de reassentamentos para se fixar em lugares seguros mas antes da chuva iniciarjá volta ao local de grande perigo como se tivesse ido aguardar a desgraça.
Por que temos que continuar com essa atitude se há condições de evitar esse mal? Somente um estudo multidisciplinar para entender profundamente o moçambicano.
4.2. Secas
Se um ano chove mais, o outro não chove, consequentemente o povo sofre de seca. A prática da agricultura de subsistência com o recurso da enxada de cabo curto exige de chuvas regulares.
A espera da única fonte, a mãe natureza, que abre as nuvens para chover regularmente prejudica os mais pobres.
A agricultura e a pecuária sofrem mais e como consequência, o país continua na pobreza.
4.3. Ciclones
Em dois anos próximos, o país sofreu de mais ciclones que em um século.
A maioria de casas são precárias e não resistem a qualquer vendaval.
Não havendo condições, quando vem o senhor ciclone (Keneth) ou a senhora ciclone (glória , Idai)mata muita gente e destrói quase tudo.
O que é necessário para o povo sair disso? Os que ajudam o país devem estar cansados… temos que encontrar soluções urgentemente.
4.4. O Al shabab: a guerra dos majini
Já passam 3 anos e seis meses que o norte de Moçambique vive a agitação total da guerra. Crianças já esqueceram o que é brincar como criança. Jovens não dormem sossegados. Adultos não pensam na vida boa. A cada minuto é uma sobrevivência.
Milhares de pessoas perderam a vida. Mais de 700 mil pessoas vivem na condição de deslocados, isto é, longe das suas terras.
Abrindo os jornais, uma e outra vez, acompanhamos que o tal governo renunciou por não se achar capaz de resolver algum problema do seu povo, do país ou porque se envolveu num esquema de corrupção.
Aqui nessa terra do marrabenta, mapiko e tufo, mesmo com casos evidentes para a renúncia, se for singular, a pessoa é promovida a grau mais elevado de chefia e se for um grupo, fará tudo e tudo para perpetuar no poder.
O sangue é derramado para manter o poder.
O sangue de tantos inocentes, os simples críticos, lutadores pelos direitos humanos é derramado ou os que pertencem a esse grupo de activistas sociais, jornalistas são silenciados para sempre, ou seja, perseguidos até a morte.
Como é um caso notável em Matemática, o país e seu povo merecem um estudo multidisciplinar de gente sem nenhum preconceito, sem motivação político partidária, sem interesse cultural, étnico e religioso.
Será que haverá esse estudo do meu rico Moçambique mas empobrecido por vampiros e terroristas?
Deixo ao critério de todos para mais reflexão.
Contudo, é urgente a tomada de decisão para se reverter a situação.
Em Moçambique, o povo precisa de experimentar o bem estar, viver em paz, trabalhar tranquilamente e dormir sossegadamente.
Servo inútil,
Pe. Fonseca Kwiriwi, CP