Vida Consagrada em Moçambique

Por Ir. Teresa Carolina de Carvalho, p.m.
No dia 2 de Fevereiro, Festa da Apresentação de Jesus ao Templo, celebra-se a Jornada Mundial da Vida Consagrada. O Papa francisco insiste constantemente sobre a profecia como elemento imprescindível na vida consagrada. Essa não pode renunciar à profecia sem correr o risco de perder o sabor e, portanto, a sua razão de ser. E aqui em Moçambique como estamos?
Semente que brotou e que, ao sabor do vento e do sol escaldante da mãe África vai crescendo a seu ritmo. Com a ajuda da graça, abraça com fé e coragem os seus altos e baixos, características próprias de quem gradualmente quer aprender a ser adulto com tudo o que comporta uma maturidade holística.
Com os olhos fixos em Jesus para amar a Deus Pai, amar os irmãos e viver, como Cristo os amou e viveu, abre-se sem reservas à acção fecundante do Espírito que por ela gera o Reino. Ela procura ocupar o lugar que lhe corresponde na Igreja e na sociedade. Consciente de que a consagração e o envio estão intimamente ligados como as duas “faces da mesma moeda”, vive com dinamismo e audácia a sua vocação Mística e Profética. Oferece continuamente orações e súplicas por si própria e pela humanidade. Evangeliza-se e evangeliza os que querem ouvir a Palavra da salvação. Sacramento de Cristo na terra, fixa as suas raízes no mistério de Deus Trindade e é pois, na Escola de Jesus Cristo que alimenta e aprofunda a sua vocação
Consagrados em Moçambique
Ao longo da história, ventos e tempestades a sacudiram e muitas das suas folhas caíram porém, como árvore plantada à beira das águas correntes, (Sl. 1,3) tornou-se vigorosa e viçosa. Quem poderia acreditar que ela encabeçaria e dinamizaria os preparativos da visita papal de S. João Paulo II em 1988 e que ela serviria de ponte para o fim da guerra civil dos 16 anos 1992?
Pela sua acção apostólica, a Vida Consagrada é uma presença significativa neste belo e amado solo pátrio: a escola católica foi e continua a ser ponto de referência na formação, instrução e educação de crianças, adolescente, jovens e adultos de todas as classes e condições sociais. A exemplo de Cristo, que não veio para os que têm saúde mas, os que estão doentes, (Lc. 5, 31-32) aposta preferencialmente pelos mais desfavorecidos.
É ainda a Vida Consagrada que como bom samaritano, não mede mãos no exercício da compaixão de Cristo seu Mestre, dando-se em holocausto nos postos de saúde, hospitais, centros de apoio psicológico, lares de crianças deficientes e em situação difícil, lares de velhinhos desamparados, apoio aos moradores de rua.
Enfim, a Vida consagrada em Moçambique atenta aos sinais dos tempos, procura ser sal e luz a todo tempo e em todo lugar apesar dos seus inúmeros desafios entre os quais: o almejado desejo de uma pastoral de conjunto, a tendência a um certo proselitismo resultante duma sociedade com fraco sentido do sagrado, as desistências e a falta do sentido de compromisso, o que limita o sonho da sua expansão para os lugares onde ela ainda não está presente.
Numa sociedade onde os conflitos continuam sendo cíclico, a Vida Consagrada tornou-se o grito de socorro dos que não têm voz nem vez, exerce o seu profetismo pelos apelos constantes à paz e pela prática das obras de misericórdia. É sinal de “Esperança, paz e reconciliação” tema da última visita apostólica de S. Santidade, Papa Francisco, o representante da Igreja e da vida Consagrada no mundo.
Na flor da sua juventude, a vida consagrada em Moçambique é como uma mãe jovem, que vai crescendo e, em fidelidade criativa busca sem cessar a sua própria identidade em Cristo Jesus, autor e consumador da nossa fé, origem e fim de toda a consagração.
BOX 1
«Irmãos e irmãs, vamo-nos doando no serviço e na proximidade ao povo de Deus. Mas a proximidade cansa. Cansa sempre a proximidade ao santo povo de Deus. É belo encontrar um sacerdote, uma irmã, um catequista…. Cansados por causa da proximidade. Renovar a chamada passa, muitas vezes, por verificar se os nossos cansaços e preocupações têm a ver com um certo «mundanismo espiritual» ditado «pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores» (Francisco, Homilia na Missa Crismal, 24/3/2016). Renovar a chamada, a nossa chamada, passa por optar, dizer sim e cansar-nos com aquilo que é fecundo aos olhos de Deus, que torna presente, encarna o seu Filho Jesus. Oxalá encontremos, neste saudável cansaço, a fonte da nossa identidade e felicidade! A proximidade cansa, e este cansaço é santidade… Oxalá os nossos jovens descubram em nós que nos deixamos «tomar e comer», e seja isso mesmo o que os leva a interrogar-se sobre o seguimento de Jesus e que eles, deslumbrados com a alegria duma entrega diária não imposta mas maturada e escolhida no silêncio e na oração, queiram dar o seu sim». (Encontro do Papa Francisco com os Bispos, Sacerdotes, Religiosos/as e Catequistas, Maputo 5/9/2019)
Box 2
«Cultura do cuidado abrange as seguintes atitudes: o cuidado como promoção da dignidade e dos direitos da pessoa; o cuidado do bem comum; o cuidado através da solidariedade; o cuidado e a salvaguarda da criação.
A cultura do cuidado, enquanto compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, enquanto disposição a interessar-se, a prestar atenção, disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao respeito mútuo e ao acolhimento recíproco, constitui uma via privilegiada para a construção da paz. Em muitas partes do mundo, fazem falta percursos de paz que levem a cicatrizar as feridas, há necessidade de artesãos de paz prontos a gerar, com criatividade e ousadia, processos de cura e de um novo encontro». (Papa Francisco, Mensagem da Paz 2021)