A mudança climática e a Saúde Humana
Por Éden Sansão Mucache
“O clima é um bem comum, um bem de todos e para todos… as mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas, constituindo actualmente um dos principais desafios para a humanidade” (LS, II).
Uma das implicações mais inquietantes da mudança climática é o seu impacto potencialmente devastador sobre a saúde humana. Segundo um relatório da OMS “Um clima mais quente é mais variável ameaça provocar a elevação da concentração de alguns poluentes no ar, o aumento da transmissão de doenças por água impura e por alimentos contaminados, o comprometimento da produção agrícola em alguns dos países menos desenvolvidos e o aumento dos perigos típicos dos climas extremos”.
A OMS prevê que as mudanças de temperatura promoverão a propagação de doenças infecciosas. Muitas das doenças que mais causam mortes são extremamente sensíveis às variações do clima como temperatura e precipitações, incluindo cólera e doenças diarreicas, assim como doenças transmitidas por vectores como malária, dengue e outras infecções.
A encíclica de Papa Francisco Laudato si’ realça que a mudança do clima compreende alterações provenientes de mudanças de temperatura, precipitações, dentre outros fenómenos, em relação às médias históricas, interferindo nas características climáticas do planeta. Essas mudanças ocorrem por processos naturais, mas também podem ocorrer pela acção humana. Actualmente, entende-se que as mudanças climáticas contribuem para a carga global de doenças e mortes.
Quais são os factores de risco para a saúde?
A mudança de clima pode ser um factor de risco directo para a saúde humana, mas também pode influenciar muitos outros factores de risco para a saúde. Por exemplo, uma onda de calor resultante da mudança climática representa um factor de risco directo. As populações vulneráveis, neste caso, idosos e crianças, ficam expostas ao calor acima do normal esperado, podendo resultar em doenças ou óbitos.
Outros factores de risco para saúde resultantes da mudança climática incluem:
Alteração na precipitação de chuvas (causando inundações estiagens, incêndios florestais);
Aumento do nível do mar;
Falta de água e alimentos;
Comprometimento da qualidade e quantidade da água e dos alimentos;
Migração da população.
Quais são os impactos na saúde da população?
Entre os impactos directos e indirectos da mudança climática se apresentam:
Doenças diarreicas, provenientes de transmissão de água e alimentos, em consequência da alteração na quantidade e qualidade da água;
Doenças transmitidas por vectores, como malária, febre-amarela, dentre outras, devido à alteração na temperatura e precipitação, que afectam o desenvolvimento e comportamento dos vectores, e em alguns casos de parasitas (ex: o plasmódio na malária);
Doenças não-transmissíveis, como desnutrição e subnutrição com implicação no crescimento e desenvolvimento infantil, devido à alteração na disponibilidade de alimentos decorrentes das secas e variabilidades climatológicas, além de transtornos psicossociais, doenças cardiorrespiratórias e dermatoses.
O que podemos fazer?
O sumo pontífice deixa várias recomendações no capítulo 6 da encíclica que são importantes a serem seguidas:
A educação e a formação ambiental que envolva todos os ambientes educacionais: a escola, a família, os meios de comunicação e a catequese;
Deve-se apostar em uma mudança nos estilos de vida e a forma como cuidamos do ambiente;
O exame de consciência deverá incluir uma nova dimensão para considerar não apenas como se vive a comunhão com Deus, com os outros, consigo mesmo, mas também com todas as criaturas e a natureza.
Além disso, existem medidas próprias do sector de saúde para evitar o impacto na saúde das comunidades. O sector da saúde pode ter um papel central para ajudar as sociedades a se adaptar aos efeitos da mudança climática e aos riscos que esta representa para a saúde humana. Os governos devem fortalecer os sistemas de saúde pública, dos programas de resposta às emergências e da pesquisa. As direcções de saúde devem reduzir riscos e agravos à saúde da população, por meio das acções de promoção e vigilância em saúde.
BOX
Louvado seja meu senhor pela irmã agua que é tao útil e humilde, preciosa e casta.
Francisco defende que tudo quanto na natureza existe, é fruto do amor de Deus. Actualmente as mudanças climáticas fazem com que muitas espécies desapareçam motivadas pela falta das chuvas regulares que se fazem sentir nos últimos anos.
Quero partilhar a penosa situação em que a cidade de Nampula se depara com a distribuição da água.
Devido à escassez de água, verifica-se a restrição na sua distribuição, chegando alguns bairros a passarem dois a três dias sem verem sair agua nas torneiras.
O que me preocupa não são apenas as necessárias restrições, mas a gestão geral. As condutas são muitas vezes vandalizadas e estão ao ar livre, fácil presa dos aproveitadores. Apelo à sociedade gestora para que faça o máximo esforço para proteger e distribuir igualmente o bem mais precioso que temos: a água.
Lourenço Adérito