O Ecumenismo e unidade dos cristãos
Por Pe. Massimo Robol
Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (Jo 15,5)
Este ano, a Comunidade monástica de Grandchamp, na Suíça, preparou o material para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que pode ser celebrada de 18 a 25 de Janeiro ou na semana que antecede a Festa de Pentecostes. As Irmãs da comunidade suíça, fundada na década de 1930, provenientes de diferentes países e tradições cristãs, foram responsáveis pelas reflexões, desenvolvendo o tema: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (Jo 15,5).
O encontro preparatório para a elaboração do material para a Semana de Oração, contou com a presença de membros do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, do Conselho Ecuménico das Igrejas e da Comunidade monástica de Grandchamp. O tema da Semana de Oração, escolhido pelas Irmãs, permitiu às religiosas de compartilhar a experiência da sua vida contemplativa e falar do fruto desta oração: uma comunhão mais profunda com os seus irmãos e irmãs em Cristo, e uma maior solidariedade com toda a criação.
O material elaborado baseia-se em três pilares: oração, vida comunitária e hospitalidade. Eles são articulados como um apelo a permanecer em Cristo a fim de se aproximar dos outros e superar as divisões entre os cristãos. É Jesus que nos convida a deixar a sua Palavra habitar em nós, para que qualquer pedido que fizermos seja atendido. Como cristãos, como Igreja, desejamos unir-nos a Cristo para cumprir o seu mandamento de amar-nos uns aos outros como Ele nos amou. Isto, sabendo que aproximar-se dos outros, viver em comunhão com outras pessoas, às vezes muito diferentes de nós, é um desafio.
Num contexto ecuménico, a actual proliferação de muitas igrejas livres, igrejas pentecostais e seitas é um fenómeno que deve ser levado a sério.
Estima-se que em Moçambique se encontrem mais de mil igrejas que não estão registadas. As que têm aval para exercer a sua actividade religiosa são de igual número! Infelizmente, a finalidade de muitas destas denominações cristãs é mais material do que espiritual. A pobreza e o momento difícil por que o país passa está a criar espaço para que as igrejas livres e as seitas prosperem. Sem tirar o desejo de encontro pessoal com Deus e da procura da sua ajuda, que animam os cristãos em geral, corre-se o risco que os crentes de muitas destas igrejas e seitas se tornem simples “consumidores” de produtos sagrados, “consumidores” de milagres, para conseguir melhorar as suas condições de vida. O Governo de Moçambique está a preparar uma legislação para enfrentar esta situação. Actualmente, está em fase de auscultação pública a nova proposta de Lei sobre a liberdade religiosa, de crença e de culto, à qual todos deveríamos poder dar um contributo construtivo. Porém isso é só parte da solução. De facto, perante estes novos desafios, o nosso esforço ecuménico pela unidade visível dos cristãos encontra-se numa encruzilhada. A experiência mostra que o processo ecuménico deve ser sustentado pela prática da vida e da fé dos próprios cristãos. Actualmente, o principal problema do ecumenismo é a sua fraca recepção por parte de muitas igrejas e confissões cristãs. Há ainda uma certa indiferença, incompatibilidade e desconfiança entre os próprios cristãos.
Certamente, os esforços de aproximação e reconciliação custam e exigem sacrifícios, mas sempre sustentados pela oração de Cristo que deseja que sejamos um, como Ele está com o Pai, para que o mundo creia.
Na véspera da sua paixão e morte, Jesus Cristo reza pelos seus discípulos, para que “sejam um só” (Jo 17,21). Esta oração é considerada a base do movimento ecuménico e, ao mesmo tempo explica o que é o ecumenismo. As palavras de Jesus não são uma ordem, um mandamento, uma regra, mas uma oração. Portanto, nós não podemos programar, organizar, nem conceber e construir a unidade de acordo com as nossas ideias e desejos. Podemos dizer que não existe uma Igreja mantida unida pela “cola”, porque a unidade que Jesus pede é uma graça de Deus e um compromisso de todos os cristãos. É preciso, então, dar espaço ao Espírito para que cada um possa ser transformado.
Talvez seja o caso que todas as igrejas e denominações cristãs parem de andar à volta de si próprias, da sua hierarquia, dos seus pregadores, da sua estrutura, para que se fale cada vez mais de Deus, do seu amor, da sua misericórdia e da salvação de toda a humanidade em Cristo.
Não podemos esquecer que, como cristãos, vivemos também numa criação que geme enquanto espera ser libertada: permanecendo em Cristo, pode-se receber a força e a sabedoria para agir contra estruturas de injustiça e opressão, para nos reconhecer plenamente como irmãos e irmãs em humanidade, e ser artífices de uma nova maneira de viver em respeito e comunhão com toda a Criação.
Espiritualidade e solidariedade estão inseparavelmente unidas. Oração e acção devem estar juntas. Quando permanecemos em Cristo, recebemos o Espírito de coragem e sabedoria para acolhermos uns aos outros, favorecendo um clima de reconciliação, esperança e paz.