DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM B
LITURGIA DA PALAVRA
Primeira Leitura: Job 38,1.8-11
Salmo 106 (107)
Segunda Leitura: 2 Coríntios 5,14-17
Evangelho: Marcos 4,25-1-41
Tema: Deus nunca abandona o seu povo
A liturgia da Palavra deste domingo diz-nos que Deus caminha com seu povo apesar dos acontecimentos que aparentam a ausência de Deus Pai. Ele cuida com amor de pai, de tio e de mãe oferecendo-lhe a cada passo a vida e a salvação. Deus é presente mesmo quando pensamos que está surdo.
A experiência de Job na primeira leitura destaca que Deus majestoso e omnipotente, domina a natureza e que tem um plano perfeito e estável para o mundo. O homem, na sua pequenez e finitude, nem sempre consegue entender a lógica dos planos de Deus; resta-lhe, no entanto, entregar-se nas mãos de Deus com humildade e com total confiança como fez o personagem de livro chamado por Job.
Paulo, na segunda leitura, garante-nos que o nosso Deus não é um Deus indiferente, que deixa os homens abandonados à sua sorte. A vinda de Jesus ao mundo para nos libertar do egoísmo, da inveja, do ódio que escravizam a pessoa humana e para nos propor a liberdade do amor e fraternidade mostra que o nosso Deus é um Deus interveniente, que nos ama e que quer ensinar-nos o caminho da vida.
Marcos propõe-nos uma catequese sobre a caminhada dos discípulos em missão no mundo. O Evangelista garante-nos que os discípulos nunca estão sozinhos a enfrentar as tempestades que todos os dias se levantam no mar da vida. Os discípulos nada têm a temer, porque Cristo vai com eles, ajudando-os a vencer a oposição das forças que se opõe à vida e à salvação dos homens.
A história relatada por Job serve de pretexto para reflectir sobre certos temas fundamentais sobre as quais o homem sempre se interroga, por exemplo, a questão do sofrimento do justo, do bondoso e do inocente, a situação do homem diante de Deus e a atitude de Deus face ao homem.Apresenta-nos a história de um homem bom e justo (Job), repentinamente atingido por um vendaval de desgraças que lhe rouba a riqueza, a família e a própria saúde. Depois de vários relatos de resistência diante do sofrimento, desafios, dificuldades, a história termina com Job a perceber o seu lugar, a reconhecer a transcendência de Deus e a incompreensibilidade dos seus projectos, a entregar-se nas mãos de Deus com humildade e confiança.
O objectivo pelo qual Deus se manifesta é responder às questões de Job e fazer Job perceber a insensatez das suas críticas. Acontece com cada ser humano no momento da dor tentamos criticar Deus sem nos lembrar que Ele é Pai.
Enquanto Job inicia criticando Deus pela sua atitude, Paulo fez a experiência do amor de Cristo e deixou-se absorver por esse amor. A sua acção tem apenas como objectivo levar o amor de Cristo ao conhecimento de todos os homens. Paulo vive uma experiência única na sua vida e se isso fosse, humanamente falando, um encontro entre um jovem e sua namorada diríamos que Paulo está não só apaixonado mas também entregue ao colo e coração da sua amada. Paulo enfatiza que Cristo morreu por todos, a fim de que os homens, aprendendo a lição do amor que se dá até às últimas consequências, deixassem a vida velha, marcada por esquemas de egoísmo e de pecado. Contemplando o Cristo que oferece a sua vida ao Pai e aos irmãos, os homens não viverão, nunca mais, fechados em si mesmos; mas viverão, como Cristo, com o coração aberto a Deus e aos outros homens. É esta “boa nova” que absorve Paulo completamente e que ele quer passar a todos os seus irmãos.
Paulo admite e faz uma confissão pública que, no passado, entendeu Cristo “à maneira humana” e não percebeu que a sua doação até à morte era expressão de um amor ilimitado; mas, depois de se ter encontrado com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, Paulo passou a ver as coisas de forma diferente
Paulo quer anunciar – por mandato de Cristo – que a adesão a Cristo faz desaparecer o homem velho do egoísmo e do pecado e faz surgir uma nova criatura. Ele experimentou o amor de Cristo e tornou-se uma nova criatura. Agora, ele sente que Deus o manda testemunhar essa experiência diante de todos os homens. Somos convidados a experimentar uma vida com Cristo renunciando o velho, os males que sempre nos escravizaram. Temos que dar um novo passo rumo ao homem novo em Cristo.
Marco Situa o barco com Jesus e os discípulos “no mar”, que significa colocá-los num ambiente hostil, adverso, perigoso, caótico, rodeados pelas forças que lutam contra Deus e contra a felicidade do homem. Por outro lado, a “noite” é o tempo das trevas, da falta de luz; aparece como elemento ligado com o medo, com o desânimo, com a falta de perspectivas. O “mar” e a “noite” definem uma realidade de dificuldade, de hostilidade, de incompreensão, de guerra com as forças que dificilmente o ser humano compreende.
No contexto africano, o mar pode ser visto como ambiente de “majine”, espíritos do mal que atrapalham a pessoa humana.
A “tempestade” significa as dificuldades que o mundo opõe à missão dos discípulos. É provável que Marcos estivesse a pensar numa “tempestade” concreta, talvez a perseguição de Nero aos cristãos de Roma, durante a qual foram mortos Pedro e Paulo, bem como muitos outros cristãos anos 64-68. Marcos alerta que os discípulos terão de enfrentar ao longo do seu caminho histórico, até ao fim dos tempos muitas tempestades: perseguições e guerras contra a Igreja e seus membros.
Encontramos a imagem de um barco cheio de discípulos convidados por Jesus a passar “à outra margem do lago” e a dar testemunho dessa vida nova que Deus quer oferecer aos homens é uma boa definição de Igreja. Por isso temos que tomar consciência de que a comunidade que nasce de Jesus é uma comunidade missionária, cuja tarefa é ir ao encontro dos homens e mulheres prisioneiros do egoísmo e do pecado para lhes apresentar a Boa Nova da libertação. Os discípulos de Jesus não podem ficar comodamente instalados nos seus espaços seguros e protegidos, defendidos dos perigos do mundo e alheados dos problemas e necessidades dos homens; mas a Igreja tem de ser uma comunidade empenhada na transformação do mundo, que se preocupa em levar aos homens e mulheres, sobretudo, aos pobres e marginalizados, com palavras e com gestos a proposta libertadora do Reino.
Acima de toda vontade, entusiasmo, o discípulo de Jesus deve ser uma pessoa de fé vivida, professada e testemunhada. Nos domingos, deve ser claro, que cada cristão deve professar a fé com o Credo da Igreja, para marcar a pertença ao Povo de Deus.