LINEAMENTA “REAVIVAR O ANÚNCIO E O TESTEMUNHO DA PALAVRA DE DEUS HOJE”

CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE
IVª ASSEMBLEIA NACIONAL DE PASTORAL
“REAVIVAR O ANÚNCIO E O TESTEMUNHO DA PALAVRA DE
DEUS HOJE”
LINEAMENTA
Lineamenta IVª ASSEMBLEIA NACIONAL DE PASTORAL Texto Final
MAPUTO, 2021
“Em todos os baptizados, desde o primeiro ao último, actua a força santificadora do Espírito que impele a evangelizar…
Em virtude do Baptismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28, 19). Cada um dos baptizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito activo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas acções. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos baptizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu
compromisso de evangelização…”
(Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 119-120)
Caríssimos Irmãos e Irmãs
A Igreja Católica em Moçambique, alicerçada e inspirada na sua história e caminhada eclesial prepara-se para celebrar a IVa Assembleia Nacional de Pastoral (IVªANP). Ontem como hoje, à luz da Palavra de Deus, queremos perceber os sinais dos tempos e acompanhar o Povo Moçambicano nas suas vicissitudes políticas, sociais, económicas e religiosas.
As três Assembleias Nacionais de Pastoral (ANP) – a IªANP na Beira (1977) sobre as comunidades ministeriais; a IIª ANP sobre a consolidação da Igreja local, na Matola (1991); e a IIIª ANP sobre a evangelização, também na Matola (2005) – constituem momentos fortes desse trabalho de discernimento dos sinais dos tempos e de acompanhamento do Povo Moçambicano nos seus variados momentos. Há naturalmente uma linha de continuidade entre as três Assembleias que mostra a unidade do caminho da Igreja local, mas cada uma enfatizou aspectos próprios como forma de responder aos desafios concretos que cada contexto lançava para a missão evangelizadora da Igreja em Moçambique.
A IVª Assembleia de Nacional de Pastoral, a realizar-se em 2023, sob o lema “Reavivar o Anúncio e o Testemunho da Palavra de Deus Hoje”, cuja preparação estamos a iniciar, insere-se na pegada das anteriores Assembleias Pastorais procurando responder aos desafios pastorais do tempo actual.
A IVª Assembleia Nacional de Pastoral terá 2 fases:
1ª Fase: Fase Preparatória: 2021-2022
-Janeiro 2021: Constituição da Comissão Diocesana de preparação da IVa ANP
-Janeiro-Fevereiro 2021: Tradução do texto dos Lineamenta nas línguas locais
-Páscoa 2021: Entrega do documento dos Lineamenta às paróquias e comunidades
-Abril-Agosto 2021: Estudo dos Lineamenta nas paróquias e comunidades
-Setembro-Outubro 2021: Assembleias Paroquiais
-Outubro 2021-Abril 2022: Assembleias Diocesanas e escolha dos Delegados à IVª ANP
Agosto 2022: Assembleias das Províncias Eclesiásticas: Estudo dos contributos aosLineamenta e síntese
Setembro-Outubro 2022: Preparação do Instrumento de Trabalho da IVª ANP
Novembro 2022: Apresentação do Instrumento de Trabalho na IIª Plenária da CEM
2ª Fase: Fase Celebrativa: 2023
Maio 2023: Celebração da IVa ANP
Apresentação dos Lineamenta da IVª ANP
Para ajudar o caminho de preparação da IVa Assembleia Nacional de Pastoral, a Conferência Episcopal de Moçambique preparou um Documento Preparatório que se chama LINEAMENTA (Linhas gerais) que agora apresentamos às comunidades cristãs e a todos os fiéis católicos.
Qual é o objectivo do documento dos Lineamenta?
O objectivo é encorajar e animartodos os agentes de pastoral a participar na reflexão para que se possa discutir, fazer um inventário pastoral e apresentar propostas de actuação.
Qual a função do documento dos Lineamenta?
-Ajudar a reflexão das Comunidades cristãs, Paróquias e Dioceses sobre os temas da IVa ANP.
-Fazer uma análise da situação, no plano da Igreja e da sociedade em geral.
-Buscar uma fundamentação teológica que abra pistas às iniciativas a propor à Igreja em Moçambique.
Qual o contéudo dos Lineamenta?
Estrutura:
-Leitura da realidade
-Fundamentação Teológica
-Propostas Operativas
-Perguntas para a reflexão e partilha
Quais são os temas dos Lineamenta?
O temas propostos e desenvolvidos nos Lineamenta são os seguintes:
I.Missão: Ser Igreja em Saída, decidamente Missionária
II.Diálogo entre o Evangelho e a Cultura
III.Catequese e formação cristã
IV.Pastoral da Família
V.Pastoral Juvenil
VI.Os Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades
VII.O Desafio das Seitas e resposta pastoral
VIII.O Cristão e o compromisso social em Moçambique
IX.Auto-sustentabilidade da Igreja Local
X.Os desafios do mundo digital para a Igreja e para a evangelização.
Qual a metodologia de trabalho?
Cada Diocese deve nomear uma Comissão Diocesana de Preparação da IVª ANP a qual é responsável pela animação do trabalho de preparação da Assembleia na Diocese.
Como primeiro trabalho, recomenda-se a tradução do texto dos Lineamenta nas principais linguas locais em uso na Diocese para uma melhor compreensão por parte de todos os intervenientes na reflexão e partilha a nível de comunidade cristã e paróquia.
Os Lineamenta serão estudados primeiro nas comunidades cristãs e nas zonas pastorais, devendo-se dar resposta às perguntas referentes aos temas. Em seguida, cada Paróquia, numa especial assembleia pastoral, fará a partilha e síntese das propostas apresentadas. A sintese diocesana das resposta aos Lineamenta será realizada pela Comissão Diocesana de Preparação da IVª ANP.
Esta é uma proposta de caminho metodológico que pode ser adaptado à realidade e às necessidades locais.O mais importante é que esta fase de preparação a nível diocesano permita fazer um inventário da situação pastoral local (luzes e sombras) e apresente propostas pastorais pertinentes.
Conclusão
Caríssimos Irmãos e Irmãs
Com a preparação e celebração da IVa Assembleia Nacional de Pastoral (2021-2023) queremos fazer juntos uma experiência de ESCUTA, DISCERNIMENTO e COMUNHÃO ECLESIAL que coloque todo o Povo de Deus (fiéis católicos) a exprimir o que as Comunidades Cristãs e os Católicos dispersos vivem em todo o Moçambique.A partir daí, inspirados pelas soluções que o Espírito Santo suscitar no meio dos crentes, toda a Igreja Católica em Moçambique traça RUMOS DE ACÇÃO COMUM para uma pastoral de conjunto.Trata-se de juntos, como Igreja Família de Deus, elaborar LINHAS PASTORAIS COMUNS, amadurecidas durante todo o caminho de preparação da IVª Assembleia Nacional de Pastoral.
Bom trabalho.
Primeiro Capítulo
MISSÃO: SER UMA IGREJA EM SAÍDA, DECIDIDAMENTE MISSIONÁRIA
INTRODUÇÃO
- As pequenas comunidades cristãs ministeriais, sobretudo depois da Iª Assembleia Nacional de Pastoral (1977), ajudaram a Igreja em Moçambique a ser uma Igreja de base e de comunhão, “uma Igreja família, de serviços recíprocos, livremente oferecidos, uma Igreja no coração do povo que a faz sua, inserida nas realidades humanas e fermento da sociedade” (Ia ANP, n.1). As nossas paróquias são uma rede de comunidades, e assim conseguimos passar corajosamente de uma pastoral de manutenção para uma pastoral decididamente missionária.
LEITURA DA REALIDADE
2. A Igreja Católica em Moçambique, fruto da evangelização que remonta há cinco séculos, é por sua natureza missionária. Nos dias de hoje nota-se o enfraquecimento do espírito e dinamismo missionário nos evangelizadores e comunidades cristãs. A Igreja local moçambicana, perante os desafios da sociedade actual, tem a necessidade urgente desermais irradiante, apostólica, missionária. Para isso, é necessário organizar no contexto actual todas as nossas forças em vista de uma missão evangelizadora directa, abrangente, incisiva, generosa, audaz e à altura das necessidades. Trata-se do anúncio corajoso da Palavra de Deus que é acompanhado pelo testemunho de uma vida dedicada e de boas obras (Cf. At 4,29).
- Devemos, pois, aceitar o grande desafio que o Papa Francisco coloca a cada um de nós, na sua visita apostólica a Moçambique, no dia 5 de setembro de 2019, na Catedral de Maputo: “A vossa vocação é evangelizar; a vocação da Igreja é evangelizar; a identidade da Igreja é evangelizar.”Ele nos convida a todos a sermos ousados e criativos na evangelização. Trata-se de colocar a Missão de Jesus no coração da própria Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia das nossas estruturas, os resultados do nosso trabalho, o nosso empenho de evangelizadores e a alegria que somos capazes de suscitar nos outros, porque sem alegria não se atrai ninguém.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
4.O Papa Francisco tem propostono seu ensinamento a imagem de uma “Igreja em saída”, mobiliza-nos para uma acção comprometida com a evangelização dos povos, insiste em afirmar que a missão fundamental da Igreja é o anúncio do Evangelho (Cf. Evangelii Gaudium, 20-24). De facto, a Igreja Católica é por essência uma comunidade missionária. Continua e prolonga a comunidade apostólica, instituída por Cristo para anunciar a Mensagem (Mc 16, 15). Nascida da Palavra de Deus acha-se a serviço desta Palavra (Cf. 1 Cor 9, 16).
Pelo Batismo e pela Fé, o cristão católico torna-se membro da comunidade apostólica, dá continuidade à missão de Deus, o qual quer que todos os homens se salvem (Cf. 1 Tim 2, 4). Pertencer à Igreja Católica é simultaneamente uma graça e uma responsabilidade, havendo, para cada cristão católico, o dever de colaborar na sua missão. È necessário transformar em actos a nossa vocação fundamental: baptizados enviados em missão.
PROPOSTAS OPERATIVAS
- Algumas propostas operativas:
- a) A Igreja Católica em Moçambique é chamada a empenhar-se mais na renovação da vida pastoral, com um programa que coloque a missão em todas as iniciativas, numa verdadeira Igreja “em saída” e em “estado permanente de missão”, numa dinâmica de conversão pastoral, onde a opção missionária esteja presente como alma da vida da Igreja (Alegria do Evangelho, 27).
Da mesma forma que Deus vem de encontro ao seu povo, nós somos convidados a ir ao encontro dos nossos irmãos para lhes levar a Palavra de Deus, fazê-los sentir Igreja e confraternizarmos com eles nas circunstâncias boas e dar o apoio nas situações difíceis como dor, morte, doença, acidente, desemprego e até mesmo ausência prolongada das actividades da Igreja.
b)Partindo das experiências missionárias já existentes urge ser uma Igreja em saída, Igreja da Visitação, onde todos são sujeitos de evangelização, porque ser cristão é viver em missão.
c)De grande importância é a pastoral da visitação e a criação nas nossas paróquias do ministério da visitação. Este ministério é essencial e urgente porque actua directamente sobre cada pessoa, cada família, cada núcleo, cada comunidade. O contacto pessoal, feito através das visitas, possibilita, na conversa, na escuta e na oração, que cada pessoa seja evangelizada de modo muito próprio, bem especial.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) O que podemos aprender com a evangelização e os evangelizadores do passado (luzes e sombras, aspectospositivos e negativos) para sermos hoje uma Igreja em saída, decididamente missionária ?
3) Considerais a vossa comunidade, paróquia e diocese uma Igreja toda ministerial e missionária? Quais são as suas manifestações e actividades?
4) Achais importante o Ministério da Visitação nas nossas comunidades cristãs, paróquias e dioceses? Por quê ?
5) Existe na vossa comunidade e paróquia a visita às famílias para momentos de oração e bênção das famílias? Quais os resultados alcançados?
6) O que devemos fazer para ser cada vez mais “Igreja da visitação”, como nos pede o Papa Francisco, capaz de ir ao encontro de todos, sobretudo dos que estão mais afastados da Igreja Católica?
DIÁLOGO ENTRE EVANGELHO E CULTURA
INTRODUÇÃO
6.Evangelho e cultura são dois conceitos muito amplos. Evangelho é a Boa Nova do amor do Pai que Jesus Cristo pregou com palavras e obras. A mesma Boa Nova foi anunciada pelos apóstolos para a salvação das nações, etnias, raças e culturas de todos os tempos e lugares. PorCultura entendemos o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.
LEITURA DA REALIDADE
7.Em Moçambique a Igreja desenvolve a sua missão evangelizadora no seio de um universo cultural composto por muitas etnias, que, não obstante a sua diversidade, possuem elementos comuns, tais como: a crença em Deus, a sacralidade da vida e do meio ambiente, a família, a veneração aos antepassados, o papel insubstituível do idoso, a capacidade de resiliência, a solidariedade, entre outros. Estes valores culturais e religiosos têm não apenas enriquecido a vivência da fé cristã como também facilitado o acolhimento da mensagem do Evangelho nas nossas culturas.
- Com o advento da globalização, urbanização e mobilidade populacional,constata-se que alguns elementos culturais fundem-se e formam culturas novas, outros passam de uma cultura a outra e outros simplesmente desaparecem. São vários os elementos culturais tradicionais que tendem a sofrer mais facilmente este impacto: a família, os ritos de iniciação, casamentos tradicionais, hábitos alimentares, línguas locais, rituais fúnebres, medicina tradicional, parto tradicional, etc.
9.No âmbito eclesial, tem havido iniciativas de inculturação, a título de exemplo: dança litúrgica, cantos, gestos e posturas, celebrações da Palavra, leccionários e livros de oração, traduções da Bíblia, iniciativas de evangelização dos ritos de iniciação e de casamento, e também a pesquisa, estudo e preservação dos valores culturais e línguas locais.
10.Porém persistem os casos de sincretismo religioso em que os cristãos continuam a praticar o curandeirismo, feitiçaria, adivinhação, culto aos espíritos dos antepassados e outras crenças que nem sempre são compatíveis com o Evangelho de Jesus Cristo.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
11.As palavras de Jesus: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (Mt 28, 19-20a), carregam uma força missionária que não deve ignorar a necessidade de os enviados entrarem em diálogo constante com as culturas dos destinatários da mensagem. Estes, por sua vez, “devem inserir na própria cultura a mensagem revelada e expressar a sua verdade salvífica com a linguagem que lhes é própria.”(Bento XVI). De facto, “não é possível consolidar a nossa Igreja local sem ter em conta também a cultura, dentro do âmbito mais vasto da cultura africana” (IIa ANP (28-29).Por fim, este processo envolve não só as culturas, mas também os evangelizadores. Eles devem ser capazes de entrar nas culturas dos povos para que possam iluminá-las com o Evangelho de Cristo.
PROPOSTAS OPERATIVAS
12.Algumas propostas operativas:
a)Revitalizar as comissões de cultura e inculturação ao nível diocesano e paroquial para animar a reflexão sobre Evangelho e cultura, aprofundando temas como casamentos tradicionais, ritos de iniciação, cultos aos antepassados, funerais, oralidade dos povos, etc.
b)Formar o Fórum nacional dos tradutores da Bíblia em línguas locais.
c)Constituir Comissões de Pastoral Urbana, nas Dioceses e na CEM, para animar o processo de inculturação do Evangelho nas novas culturas urbanas e na academia.
d)Requalificar os momentos de oração inculturada: celebrações da Palavra, encontros de comunidades e núcleos, nascimento, iniciação, matrimónio, funerais, etc.
e)Retomar a proposta da IIIª Assembleia Nacional de Pastoral, da criação de uma Faculdade de Teologia, que poderia impulsionar a reflexão, estudo e pesquisa sobre o tema do diálogo entre Evangelho e cultura.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Que elementos das nossas culturas tradicionais devem ser transformados pela mensagem do Evangelho? Justifique e explique a sua resposta.
3) Que elementos das nossas culturas tradicionais poderiam ser adotados pela Igreja? Explique como poderia ser feita essa adoção nas várias áreas: teologia, liturgia, vida e estrutura da Igreja (vide EcclesiainAfrica, 62).
4) Que suporte podem oferecer as línguas locais ao processo de inculturação do Evangelho na nossa Igreja local?
5) Quais ritos da Igreja precisam serem adaptados para a nossa cultura?
6) Que iniciativas ou actividades a Educação católica em Moçambique tem adotado para promover e preservar os valores culturais? O que mais se pode fazer?
7) Como é que a oralidade das nossas culturas tem contribuído para o anúncio do Evangelho para os nossos povos? O que mais se pode fazer neste campo e como?
8) Ao nível eclesial e social, quais nos parecem ser agentes preponderantes que devem impulsionar a inculturação?
CATEQUESE E FORMAÇÃO CRISTÃ
INTRODUÇÃO
13.A evangelização ocupa o lugar primordial na vida da Igreja pois engloba tudo o que a Igreja opera enquanto anúncio, celebração e profecia, com o intuito de permitir uma adesão mais plena a Jesus Cristo. Catequese e formação cristã são de extrema relevância para a Igreja. O discípulo de Cristo é chamado ao aprofundamento de sua vocação para ser na Igreja e no mundo um outro Cristo ou, por outras palavras, ser um discípulo missionário que crê, vive, celebra e anuncia o nome santo de Jesus no seu seguimento.
LEITURA DA REALIDADE
14.A catequese na realidade da Igreja em Moçambique é diversa. De acordo com as últimas estatísticas (2017) somos 7.621.000 cristãos católicos em Moçambique, o que perfaz 28,1% da população moçambicana: distribuídos em 9 Dioceses e 3 Arquidioceses.Sente-se uma Igreja que vive a sua fé sob a animação do Espírito, onde os leigos se comprometem nos diversos ministérios, para a animação da fé uns dos outros e efetivação da missão de Evangelização confiada à Igreja universal.Em muitas comunidades a dificuldade de ter uma presença contínua do ministro ordenado aumenta, de alguma maneira, a consciência dos leigos, da sua responsabilidade pela animação, vocação e missão da Igreja Universal.
15.Contudo, a nossa Igreja conhece vários desafios na sua vocação de evangelizar e anunciar Jesus aos de dentro e aos de fora:
a)A interpelação que vem dos jovens. As comunidades têm uma larga camada juvenil que nem sempre recebe o devido acompanhamento em termos de formação catequética. A catequese parece estar orientada exclusivamente para os sacramentos, embora após os sacramentos de iniciação cristã os jovens tendam a abandonar a Igreja.
b)A catequese parece atingir apenas o intelecto. Uma catequese com metodologia escolar, onde se aprendem conceitos, verdades etéreas, mas não se criam convicções, não se faz experiência de Deus, não se formam discípulos.
c)Desafio maior ainda nasce da fraca formação catequética tanto dos jovens como dos adultos, e é visível no número de cristãos católicos seduzidos pelas seitas. É surpreendente a facilidade com a qual se muda de religião, de credo, de Igreja sob a falsa afirmação de que Deus é o mesmo em todas as religiões. Esta é uma afirmação que na boca de um cristão católico revela a fragilidade de sua formação catequética.
d)Em algumas comunidades a catequese repousa quase exclusivamente sobre a “boa vontade dos jovens”. São eles que asseguram a catequese e todos os anos apresentam outros jovens para os sacramentos de iniciação cristã.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
16.A Igreja não existe para si mesma, mas em função da sua missão de anunciar Jesus Cristo e fazer acontecer o Reino de Deus no mundo (Cf. Lc 4, 16-21). A catequese é responsável por levar o cristão não só a conhecer, mas, sobretudo a vivenciar as três dimensões do agir pastoral da Igreja: o anúncio, a celebração e o testemunho. Elas são o campo de missão dos discípulos de Cristo e da Igreja como um todo, tal como o foram na missão de Jesus Cristo. Concebida desta maneira, a catequese torna-se acção eclesial que conduz as comunidades e cada cristão à maturidade da fé e a uma vida marcada pelo Cristo (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1229).
PROPOSTAS OPERATIVAS
17.Algumas propostas operativas:
a)A Comissão Episcopal de Evangelização e Catequese da CEM em coordenação com os Secretariados Diocesanos da Catequese, devem ajudar a repensar a catequese no contexto moçambicano.
b)Editar um Catecismo Nacional com o qual dão-se passospara um encontro com Cristo.
c)Torna-se importante lançar um olhar sobre o perfil do catequista, a sua formação teológica e a sua vida na comunidade.
d)Importa igualmente olhar para os meios que se usam na catequese: o lugar da Palavra de Deus na catequese, a relação catequese e liturgia, a inserção da catequese, do catequista e do catequizando na comunidade cristã. Ademais, urge rever os conteúdos dos catecismos, os itinerários e os planos temáticos.
e)Todo o batizado deveria ter acesso à formação permanente em vista ao aprofundamento das verdades da fé e dos seus compromissos batismais, mediante retiros, Lectio Divina, momentos de oração comunitária e pessoal. Deveriam desenhar-se itinerários, estratégias e metodologias de formação permanente e re-evangelização.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Quais são os aspectos positivos da acção catequética em sua comunidade ou paróquia?
3) Enumere os principais constrangimentos que encontra no Ministério da catequese. Que caminhos propõe para ultrapassar os constrangimentos que enumerou?
4) Qual é o lugar que a Palavra de Deus (a Sagrada Escritura) ocupa nas sessões de catequese?
5) Conhece os catecismos que são usados na sua comunidade? Que lhe parecem?
6) Porque é que a participação de jovens crismados na comunidade tende a ser cada vez mais deficiente? Que caminhos se podem tomar para reverter a situação?
7) Diante das fortes mudanças culturais que acontecem em nossa sociedade, que aspectos da nossa catequese precisam ser acautelados?
8) Que metodologias de re-evangelização são apropriados ao contexto moçambicano?
9) Que iniciativas de formação cristã permanente deveríamos adotar a nível nacional?
10)Quais caminhos de formação para os catequistas ?
Quarto Capítulo
INTRODUÇÃO
18.A Pastoral da Família é um serviço que se realiza na Igreja e com a Igreja, de forma organizada e planeada através de agentes específicos, com metodologias próprias, tendo como objetivo apoiar a família a partir da realidade em que se encontra, para que possa existir e viver dignamente, estabelecer relacionamentos e formar as novas gerações conforme o plano de Deus. Esta Pastoral abrange todas as famílias, independentemente da sua situação familiar, com o propósito de promover a inclusão e resgatar os valores e a dignidade de cada pessoa.
LEITURA DA REALIDADE
19.Em Moçambique, como em muitos lugares de África, mais do que a dimensão jurídico-legal, o que define a família são os valores que ela representa, principalmente a união e proteção de um para com o outro. A família pode, em Moçambique, não necessariamente ter pessoas do mesmo sangue mas ela é composta por pessoas com os mesmos valores e princípios. Neste sentido, o indivíduo só pode existir coletivamente e numa lógica espiritualizada, o que lhe garante a identidade pessoal, noções de responsabilidade em relação a si e aos outros.
20.Mas a família em Moçambique, enquanto instituição social, tem passado por mudanças aceleradas na sua estrutura, organização e função de seus membros. Ao modelo tradicional foram se somando muitos outros modelos de família, fruto e consequência de abertura às outras culturas e de profundas transformações estruturais de carácter global. Os novos modelos de família, importados ou forjados de propósito para acomodar as contínuas mudanças, embora em alguns aspectostenham contribuído para libertar a pessoa humana dos vários condicionamentos e determinismos, em muitos outros aspectos têm sido porta de ingresso para profundas crises.
21.O crescimento progressivo de crianças de rua em todas as nossas cidades, é um sinal evidente do mal-estar da Família em Moçambique. As crianças de rua são, simultaneamente, uma denuncia à crise de estabilidade nas uniões matrimonias e o aumento do número de mães solteiras, resultantes, ou de separações, ou de escolhas de procriação livre de compromisso marital. Uma outra expressão emblemática da crise nas famílias moçambicanas é o crescimento do número de idosos abandonados e, portanto, desemparados, quer pelos próprios filhos e também pela sociedade, cada vez mais carente de estruturas aptas a dar uma resposta idónea a este tipo de precariedades. As várias crises estruturais às quais estão sujeitas muitas famílias moçambicanas, acabam fazendo da família um laboratório de ensaio de todo o tipo de violências que, depois, encontram a sua plena maturação na violência social generalizada.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
- A família é muito importante para Deus, é uma instituição sagrada, criada por Ele. Quando o homem foi criado, Deus viu que não era bom que ele estivesse sozinho, e por isso criou a mulher para ser sua companheira (Cf. Gen 2,18). Juntos, eles receberam a ordem de se multiplicar e povoar a Terra (Cf. Gen 1, 28). Jesus também falou sobre a santidade do casamento em Mateus 19. Mas na Bíblia, o conceito de família também é espiritual e não apenas físico. Assim, todos aqueles que aceitam Jesus fazem parte de uma grande família, composta por elementos de todas as línguas e nações (Cf. Ap 7, 9).
23.Por sua vez, a Igreja sempre cuidou da família. Por um lado, por acreditar ser ela não apenas a célula mater da sociedade e o santuário da vida, mas também a “Igreja doméstica” (Cf. Constituição DogmáticaLumen Gentium,n. 11). E, por outro, porque está convencida de que “o bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar (Cf. Constituição PastoralGaudium et Spes,n. 47).Logo no início de seu pontificado, o Papa São João Paulo II publicou uma Exortação Apostólica sobre a família, como conclusão, precisamente, dos temas tratados num Sínodo de Bispos sobre a família. Nela, ele afirma com convicção que a evangelização depende essencialmente da saúde espiritual dessa instituição, porque, “onde uma legislação antirreligiosa pretende impedir até a educação na fé, onde uma incredulidade difundida ou um secularismo invasor tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso, aquela que poderia ser chamada “Igreja doméstica” fica como único ambiente, no qual crianças e jovens podem receber uma autêntica catequese» (Cf. João Paulo II, Exortação ApostólicaFamiliares Consortio, n. 52).
PROPOSTAS OPERATIVAS
24.Algumas propostas operativas:
a)Intensificar as manifestações e celebrações de fé da comunidade cristã nas pequenas comunidades cristãs (núcleos), sublinhando a necessidade do cultivo de atos de solidariedade e partilha entre as famílias do núcleo (Cf. I ANP, I, nº 2).
b)Promover uma ligação entre a frequência na catequese paroquial e a vivência cristã no próprio núcleo da parte dos catequisandos: apoiar a família no seu papel educador.
- c) Fazer da pastoral da família (particularmente a pastoral dos recém-casados, mães solteiras, jovens e adolescentes) uma característica específica da Igreja em Moçambique, através da elaboração de um Directório Nacional de Pastoral de Família: fazer da família uma comunidade cristã; resgatar para a família o seu justo valor de célula primária e vital da sociedade.
- d) Fazer do modelo de Igreja Família de Deus (Cf. Ia ANP, I, nº 1) uma meta a ser atingida e não um dado adquirido, como até aqui tem sido. Enraizar a consciência de que a pertença ao Povo de Deus, Família de Deus, nunca é dada pela infusão intrínseca desta componente em alguma cultura, mas pelo cumprimento da vontade de Deus (Cf. Mc 3, 31- 35).
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Quais são as maiores dificuldades que as famílias cristãs têm encarado para melhor desempenhar o próprio papel de educadores e primeiros evangelizadores dos próprios filhos?
3) Quais são as oportunidades e as possibilidade que poderiam fortalecer os papéis de educadores e evangelizadores das famílias cristãs?
4) Como fazer das nossas famílias verdadeiras “Igrejas domésticas”?
5) Quais são as principais razões para a dissolução (divórcio) das famílias?
6) Como é que as famílias têm reagido aos conflitos entre o casal, entre o casal e os filhos jovens ou adolescentes?
7) Que ajuda da parte dos sacerdotes, religiosos e religiosas (agentes de pastoral), seria útil para a consolidação da vivência cristã e compromisso social nas famílias?
8) Que ajuda as famílias poderiam prestar umas às outras para fortalecer a harmonia e o clima de prática cristã nas próprias famílias?
Quinto Capítulo
INTRODUÇÃO
25.Pastoral é um conjunto de acções pelas quais a Igreja cuida do seu povo e fomenta fé nele. O principal objectivo da pastoral Juvenil é de conduzir os jovens a uma experiência de discipulado a partir do encontro pessoal com Cristo, num processo de formação na fé e discernimento da sua vocação, a fim de que se possam perceber como protagonistas da sua própria vida.
LEITURA DA REALIDADE
26.Em Moçambique, segundo as estatísticas, a maior parte da população é jovem. Os jovens encontram-se em diferentes situações sociais, políticas, económicas e culturais. E também são vítimas das guerras, criminalidade, tráfico de seres humanos, escravidão, exploração sexual, estupros, desemprego.
27.Constata-se que a crise socioeconómica e cultural que afecta a sociedade atinge, sobretudo, os jovens. De facto, o desemprego inutiliza os dotes de muitos deles, impedindo-os de construir dignamente a sua vida e felicidade (Cf. IIIª ANP, 38).
Neste mundo neo-capitalista, os jovens tornam-se vítimas do consumismo, individualismo e egoismo. Porém, casos há em que os jovens com espírito de pertença à Igreja envolvem-se de corpo e alma no serviço da Igreja e em organizações de voluntariado.
28.No entanto, esse envolvimento é ofuscado quando os jovens não são bem recebidos nos grupos juvenis paroquiais e muitos deles nem sequer são acarinhados pelos adultos.
É preocupante também o facto de que alguns jovens abandonam a Igreja após os sacramentos do Batismo e Confirmação e outros participam nas catequeses aos sábados, mas aos domingos rezam em outras confissões religiosas.
Alguns jovens não se identificam com as suas tradições culturais e religiosas e, às vezes, vivem sem pontos de referência em termos de valores éticos e morais.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
29.“Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei” (Jr 1, 1-5). Com estas palavras, Deus confirma a vocação do profeta Jeremias. Jeremias tem consciência da sua consagração e missão profética. Esta consciência deveria inspirar os jovens a acolher a vocação de Deus para a missão, hoje, no seguimento de Jesus, o jovem Mestre de Nazaré. Este chamou os 12 apóstolos para enviá-los a construir o Reino de Deus na terra.
30.Maria, a jovem de Nazaré, soube escutar a voz de Deus e superou todas as incertezas ao dizer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). A Igreja precisa de jovens alegres como Maria, corajosos e devotados, que ofereçam ao mundo testemunhos de santidade.
PROPOSTAS OPERATIVAS
31.Algumas propostas operativas:
- a) Proporcionar experiências de partilha e testemunho sobre as vocações humanas e cristãs vividas com fidelidade, compromisso e santidade.
b)Promover parcerias, sinergias inter e intracomunitárias a nível da diocese para os jovens: estágios profissionais, oportunidades de emprego, ingresso à formação profissional e/ou superior.
c)Celebrações festivas da Jornada Mundial da Juventude como momento único e marcante para os jovens, com um programa bem elaborado a nível das dioceses.
d)Acompanhamento/direcção espiritual e humana para os jovens visando ajudá-los a definir e concretizar os seus projectos de vida.
e)Formação permanente dos assessores e conselheiros dos jovens.
f)Elaboração de um Directório de Pastoral Juvenil, por forma a dinamizar esta pastoral e orientar a acção dos jovens cristãos na sociedade.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Quais os actuais desafios e quais as oportunidades mais significativas para os jovens na Igreja?
3) De que modo as nossas comunidades se ocupam dos jovens em situações extremas (conflito armado, prisão, toxicodependência, casamentos prematuros)?
4) Existe consciência cristã dos jovens católicos quando se trata de participar em actividades de natureza sócio-política?
5) Como a Pastoral Juvenil tem respondido aos seguintes desafios: HIV-SIDA, COVID-19, alcoolismo, violência doméstica, casamentos prematuros, degradação dos valores morais, radicalização?
6) Quais as principais causas da desvinculação dos jovens da Igreja após a recepção dos sacramentos?
Sexto Capítulo
OS MOVIMENTOS ECLESIAIS E AS NOVAS COMUNIDADES
INTRODUÇÃO
- Os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades “trouxeram à Igreja uma novidade inesperada, e por vezes até explosiva. Isto não deixou de suscitar interrogativos, dificuldades e tensões; às vezes comportou, por um lado, presunções e intemperanças e, por outro, não poucos preconceitos e reservas.” (Papa João Paulo II, Encontro dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades, Roma, 30 de Maio de 1998).
LEITURA DA REALIDADE
33.O acolhimento da espiritualidade e carisma dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades é sinal de crescimento, maturidade na fé e no compromisso de construirmos juntos o Reino que nos é confiado, assumindo todas as riquezas de dons que os diversos Movimentos e Comunidades vivem e testemunham.
34.Um dos desafios que os Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades nos colocam, é, por um lado, o conhecimento que devemos ter deles, para uma maior proximidade, acolhimento e cuidado, pois não se ama o que não se conhece; e, por outro, definir os passos a dar na sua integração pastoral como impulso da nova evangelização.
35.A Igreja de Cristo é una: “com efeito o corpo é um, e não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros apesar de serem muitos, formam um só corpo” (1Cor 12, 12). A IVª Assembleia deseja celebrar a beleza da diversidade da nossa Igreja, em todas as nuances e particularidades que têm a oferecer e partilhar. Os Movimentos Eclesiais tais como a Legião de Maria, Apostolado da Oração, Equipas de Nossa Senhora, Movimento Comunhão e Libertação entre outros, e as Novas Comunidades (Shalom, Aliança de Misericórdia, Villaregia, Sementes do Verbo, Canção Nova, Fraternidade o Caminho) fazem parte deste corpo e, na sua diversidade, dão vida e funcionalidade ao Corpo de Cristo.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
36.O Espírito Santo continua a acompanhar a vida da Igreja para fazer florescer nela a graça necessária para a evangelização nos tempos atuais (Cf. Jo 16, 13ss). “O Espírito santificador se serve também dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades para despertar a fé nos corações de numerosos cristãos e para fazer com que eles redescubram a vocação recebida mediante o Batismo, ajudando-os a serem testemunhas de esperança, repletas daquele fogo de amor que é precisamente o dom do Espírito Santo” (Papa Bento XVI, Encontro com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, Roma, 3 de Junho de 2006). São reconhecidos oficialmente pela autoridade eclesiástica e visam ser formas de auto-realização e reflexo da única Igreja. Isto significa que na vida concreta dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades deve existir um itinerário de fé e de testemunho cristão que seja reflexo da vida da Igreja na sua multiforme composição.
37.O carisma colectivo dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades é dado pelo Espírito a favor de toda a Igreja (Cf. 1 Cor 12, 4-11), e deve ser vivido como um serviço na perspectiva da comunhão. Portanto, os Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades são chamados avivera comunhão das diversas vocações na harmonia do corpo eclesiale no espírito de obediência à autoridade eclesial.
PROPOSTAS OPERATIVAS
- Algumas propostas operativas:
- a) Para encontrar, conhecer, valorizar e integrar os carismas específicos dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades são necessários momentos de encontro – reflexão entre pastores, religiosos, leigos e membros dos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades, a fim de alimentarem um recíproco conhecimento.
- b) Os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades devem esforçar-se, numa colaboraçãoproativa, para inserir-se na vida da Igreja local, tecendo relações de comunhão e trabalho apostólico na ótica da pastoral de conjunto, à luz das orientações pastorais vigentes.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Conhecemos os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades? Já tivemos ocasião de dialogar com algum dos membros pertencentes aos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades?
3) Sentimo-nos enriquecidos pela diversidade de carismas na Igreja, na paróquia, na comunidade ou achamos que o que já existe desde muito tempo é suficiente para o presente?
4) Há uma presença de Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades na nossa diocese? Quais?
5) Como podemos colaborar melhor, (que passos podemos dar) na ótica duma evangelização mais forte, com os Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades?
Sétimo Capítulo
O DESAFIO DAS“SEITAS RELIGIOSAS” E A RESPOSTA PASTORAL
INTRODUÇÃO
39.A presença cristã em Moçambique é antiga e diversificada. Além da Igreja Católica, outras Igrejas Cristãs evangelizaram e evangelizam a população deste território, que na sua maioria se reconhece cristã. Segundo o IVº Censo Nacional da População (2017), a religião Cristã em Moçambique corresponde a 59,8% da população nacional.
LEITURA DA REALIDADE
40.Numerosas igrejas e “seitas religiosas” (igrejas pentecostais, igrejas proféticas, igrejas independentes africanas) surgiram em Moçambique nos últimos anos. As estatísticas falam por si: em 1975 estavam registadas no Departamento Nacional de Assuntos Religiosos 75 igrejas. Em 2020 estão registadas 950 diferentes igrejas e seitas. A região sul e centro de Moçambique são aquelas onde existe uma maior proliferação de igrejas, mas a tendência é implantar-se em todo o território nacional, nas periferias das cidades e também nas zonas rurais. A Igreja Católica, embora seja ainda a igreja com maior número de fiéis em Moçambique, 27.2 % da população, está perdendo espaço para as igrejas evangélico-pentecostais, 15,3 % da população, e as igrejas independentes africanas (Mazione), 15,8% da população
41.Com efeito, as “seitas religiosas” e alguns movimentos pseudo-espirituais estão minando a unidade religiosa e cultural do povo católico, fazendo uso de abundantes recursos econômicos e técnicas através de um proselitismo, muitas vezes manipulador das consciências, com promessas de curas, emprego, sorte e prosperidade. Nestes últimos anos muitos católicos, sobretudo entre os jovens, estão deixando a Igreja Católica e ingressam em outras igrejas. Este fenómeno de trânsito religioso é um grave problema que aflige a Igreja Católica em todas as dioceses.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
42.Jesus Cristo é o único Salvador. Ele chamou os discípulos para o seguirem, para serem uma grande família de irmãos. Pedro foi o apóstolo indicado por Jesus, e aceite por todos, para unir as várias comunidades na grande família de Cristo. Ele cumpriu a missão que Jesus lhe deu: “E tu uma vez convertido, fortalece os teus irmãos” (Lc 22, 32). Logo no início da Igreja surgiram algumas pequenas divisões (Cf. 1 Cor 11, 18-19) que o Apóstolo São Paulo condena fortemente (Cf. 1 Cor 1, 13; 11, 22; Gal 1, 6-9; 1 Jo 2, 18-19). Quando Pedro morreu em Roma, o seu sucessor, como Bispo de Roma que era, procurou continuar a ser o elo de união para todas as Igrejas. Ao longo da história houve dificuldades de aceitação das diferenças dentro da Igreja provocando desavenças e rupturas radicais destruindo a unidade da Igreja.
43.Hoje, a Igreja de Cristo está dividida. Da Igreja Católica e em seguida de outras igrejas separadas, nasceram outras igrejas. Este fenómeno de fragmentação em cadeia aumenta sobretudo em África. Os cristãos, hoje, são “Cristo partido em pedaços”.
PROPOSTAS OPERATIVAS
44.Algumas propostas operativas:
A actual realidade sócio-religiosa em Moçambique, com o aumento crescente de igrejas, deve sensibilizar-nos em relação a uma realidade que exige, da parte da Igreja Católica, maior consideração e atenção do que aquela que foi prestada até agora. Queremos assinalar algumas propostas operativas:
- a) E´ necessário individuar, através do estudo e da reflexão prática, as causas do fenómeno do aumento das seitas, não só para deter « a hemorragia » dos fiéis católicos que saem das paróquias para elas, mas também para estabelecer as bases duma condigna resposta pastoral à atracção que estes movimentos e seitas exercem sobre aqueles.
- b) Ter consciência de que as igrejas evangélico-pentecostais e as igrejas independentes africanas respondem às necessidades da população moçambicana que estão à procura de novos critérios, valores e ritos religiosos, para acompanhar os seus esforços de reconstrução e remodelação das respectivas sociedades. Na nossa pastoral nem sempre demonstramos um real interesse perante os problemas quotidianos que afligem os crentes: a doença, o encontro com o mal e com a feitiçaria, o azar, a pobreza, a esterilidade. Nas igrejas evangélico-pentecostais e nas igrejas independentes africanas, as pessoas são convidadas a trazer os seus temores e ansiedades com respeito à doença e todo o tipo de desgraça. Elas pretendem dar resposta às diferentes necessidades e problemas da vida quotidiana e agem a partir deles.
- c) A necessidade de uma adequada formaçãoreligiosapara que os cristãos católicos possam dar razão da sua esperança, reforçar a sua identidade católica e responder adequadamente ao desafio da secularização e das outras confissões religiosas.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Descrever sinteticamente o panorama religioso da vossa comunidade, paróquia e diocese com relação às outras igrejas:
a)Quais são as igrejas cristãs não católicas mais numerosas que existem na vossa comunidade, paróquia e diocese? Para maiores detalhes, solicitar à Direcção Distrital e/ou Provincial dos Assuntos Religiosos a lista das igrejas existentes no distrito e província.
b)Que tipo de actividade desenvolvem?
3) Como classifica a relação das outras igrejas para com a Igreja Católica na tua comunidade, paróquia ou diocese?
4) Nós, católicos, como nos relacionamos com os outros cristãos? Há momentos de encontro, oração, trabalhos em conjunto, momentos de oração ecuménica? Com quais Igrejas?
5) Quais são os dons de Deus que temos em comum com os outros cristãos não católicos?
6) Que podemos fazer para vivermos mais unidos, mostrando que todos pertencemos a Cristo?
7) Quais são as razões que levam os católicos a abandonar a Igreja Católica e a entrar nas outras igrejas?
8) O que a Igreja Católica pode fazer diante desta situação para confirmar os fiéis católicos na sua fé?
Oitavo Capítulo
O CRISTÃO E O COMPROMISSO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE
INTRODUÇÃO
45.Falar do compromisso social do cristão, sobretudo do leigo, é falar da sua espiritualidade. E a espiritualidade do cristão leigo consiste, especialmente, na santificação das realidades temporais, trabalhando de tal forma que estas possam receber os valores do Reino. Se nós afirmamos que a nossa fé é uma fé acolhida, celebrada, vivida e anunciada, o terceiro aspecto (vivência da fé) é que nos leva ao compromisso social. Não é possível ser cristão sem ser cidadão. Não é possível dissociar a fé da vida.
LEITURA DA REALIDADE
46.A IIIª Assembleia Nacional de Pastoral avaliou o compromisso da Igreja na construção do Reino de Deus na sociedade moçambicana. Ao longo destes anos, a Igreja caminhou e cresceu nele; pois ela tem a árdua tarefa de sempre ir requalificando a sua presença na sociedade, acompanhando as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens deste tempo. É esta tarefa que, às vezes, tem constituído um sério desafio para o efectivo engajamento do cristãoe da Igreja na sociedade.
a)Verifica-se maior consciência cidadã, espírito crítico, participação e de defesa do bem comum: muitos cristãos, devido ao trabalho das Comissões Diocesanas de Justiça e Paz e outras, envolvem-se nos processos eleitorais, participam dos processos de paz e representam a Igreja nesses âmbitos. Além disso, começa a crescer o espírito crítico sobre questões sociais com base na fé, um espírito que mostra a consciência cidadã dos cristãos.
b)Os ciclos de conferências em torno da Doutrina Social da Igreja e as Semanas de Fé e Compromisso social ajudam a crescer a consciência cidadã dos fiéis.
c)A Igreja está sempre presente nos processos de pacificação em Moçambique, quer como representação, quer por meio de cartas pastorais, comunicados ou mensagens dos bispos.
47.Portanto, se por um lado, assistimos a um crescimento da Igreja em número e em consciência social, por outro, constatamosque os cristãos são continuamente desafiados com a tentação de separara fé da vida prática. De facto, o cenário a que assistimos na sociedade moçambicana é revelador do desfasamento entre fé e vida:
- a) a facilidade de proliferação de pandemias, apesar de todas as medidas que possam ser tomadas, revela que a nossa capacidade de prontidão e resposta a uma situação é baixa;
- b) no ambiente político-militar, as aparentes deficiências dos acordos de paz, o lento progresso do processo DDR, os conflitos armados no Centro do país e em Cabo Delgado, etc. provam que a sociedade moçambicana não está construída sobre bases sólidas (valores sociais e princípios éticos);
- c) a corrupção instalada em todos os níveis (pessoal, institucional, estrutural, etc.), a questão das dívidas ocultas e o seu arrastamento por tempo indefinido, a violência social em vários níveis, baseada no género, na origem étnica ou religiosa, exigem dos cristãos um compromisso social mais visível emais incisivo.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
48.O compromisso social já se encontra no projecto de Jesus desde o início: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos” (Lc 4, 18). As bem-aventuranças (Cf. Mt5, 1-12) revelamum Jesus comprometido com a questão social. O Reino de Deus pregado por Jesus lança-nos ao compromisso social: “O Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede do Evangelho” (Mc 1, 15).
49.Todo o Antigo Testamento mostra o quanto Deus está comprometido com o seu povo e que Ele convida os seus a fazerem o mesmo: comprometer-se com o outro e com a construção duma sociedade mais humana, mais justa e mais solidária. Amós é claro em mostrar ao povo que o facto de ser um povo escolhido não é uma questão de privilégio, mas uma responsabilidade, pois Deus pedirá conta disso (Cf. Am 3, 1-2). Oseias insiste que o povo de Deus deve semear segundo a justiça para poder colher o fruto da misericórdia, deve procurar o Senhor para que Ele derrame sobre o povo a chuva da justiça (Cf. Os 10, 12). Isaías grita as palavras do Senhor contra o seu povo hipócrita: “… as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas acções, deixai de praticar o mal e aprendei a praticar o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (Is 1, 15-17). Em quase todos os profetas, encontramos uma mensagem clara: a conversão social.
50.Toda a Doutrina Social da Igreja não é outra coisa senão essa constante histórica do compromisso da Igreja com a sociedade, com a consciência de ser sal da terra e luz do mundo (Cf. Mt 5, 13-14). Por isso, a Doutrina Social da Igreja vai-se actualizando para ajudar o cristão a dar resposta aos problemas sociais, tal como refere a GaudiumetSpes, 1: “Não há nada de verdadeiramente humano que não tenha eco no coração dos discípulos de Cristo”.
PROPOSTAS OPERATIVAS
51.Algumas propostas operativas:
- a) Criar ou adoptar um programa de Pastoral Social, como uma acção conjunta de todas as dioceses, a ser introduzido nos vários níveis da pastoral das paróquias.
b)Ao nível das paróquias, haja um programa de actividades concretas através das quais os cristãos se sintam comprometidos a participar activamente no desenrolar dos acontecimentos socioeconómicos e políticos do lugar, e haja também um mecanismo para a partilha com outras paróquias e ao nível da diocese.
c)Melhorar e actualizar os subsídios a serem utilizados na formação dos leigos, sobre os princípios e conteúdos da Doutrina Social da Igreja.
d)Promover encontros de formação sobre a Doutrina Social da Igreja a vários níveis (jovens, adultos, estudantes das escolas e Universidades católicas, internatos, cristãos com cargos políticos e administrativos, etc.).
e)Constituira Pastoral da ecologia em todas as dioceses, com comissões diocesanas e paroquiais, que dinamizem a formação e o envolvimento das paróquias em questões ecológicas e proporcionem formas de rever os hábitos e atitudes para o cuidado do meio ambiente.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Quais são e como é que se manifestam as luzes e as sombras do compromisso social dos cristãos dentro da comunidade, paróquia e na sociedade?
3) Quais são as actividades que se têm realizado na paróquia ou comunidade com vista a despertar o compromisso do cristão em relação aos problemas sociais?
4) Os materiais ou subsídios produzidos pelo Departamento Social da CEM, quer a partir dos ciclos de conferências sobre a Doutrina Social da Igreja, quer a partir das Semanas de Fé e Compromisso Social, quer a partir de grupos de assessoria, têm sido relevantes para a formação do cristão em matérias sociais? Comente a sua resposta.
5) O que é que a Igreja deve fazer para melhorar cada vez mais o compromisso social dos cristãos?
6) Quais são os maiores problemas e/ou riscos ambientais em Moçambiquee qual deve ser o compromisso da Igreja com o tema da ecologia?
Nono Capítulo
AUTO-SUSTENTABILIDADE DA IGREJA LOCAL
INTRODUÇÃO
52.O termo auto-sustentabilidade tem a ver com a capacidade de segurar-se, conservar-se firme e resistir. Os Bispos da IMBISA descrevem a auto-sustentabilidade da Igreja como expressão social da nossa dignidade como pessoas, um sinal da nossa capacidade de assumir a responsabilidade completa da nossa vida. Portanto, a auto-sustentabilidade da Igreja Católica em Moçambique seria a capacidade de sustentar a si mesma em todos os âmbitos da sua vida.
LEITURA DA REALIDADE
53.Reconhecemos que a Igreja em Moçambique recebeu e ainda recebe muitas ajudas de fora para a construção de igrejas, capelas, residências e escolas. Contudo, esta dependência fomenta a mentalidade de “nós fomos feitos para estarmos sempre de mão estendida e que os outros é que devem nos ajudar”. Será que ainda não chegou o momento em que a Igreja em Moçambique pode sustentar-se a si mesma?
54.Aliás, na Igreja não há receptores passivos, todos somos corresponsáveis. Os fiéis fazem o esforço de apoiar as suas comunidades e paróquias com recursos financeiros, tempo e competências profissionais. Importa destacar, a título de exemplo, as diversas colectas ou contribuições que se fazem para sustentar algumas actividades da igreja local e universal: ajuda aos seminários, dízimos, ofertórios e outras formas de colaboração.
55.É de louvar a generosidade dos leigos naconstrução e/ou reabilitaçãodas suas igrejas com recursos locais, os subsídios mensais para os sacerdotes e equipas missionárias, a colaboração para o combustível das viaturas dos padres; como também a assistência aos pobres e doentes. Em tempos de emergência (ciclones, guerras, epidemias) nota-se muita solidariedade entre as dioceses e paróquias.
56.Alguns católicos, contudo, continuam a considerara Igreja uma instituição muito rica, embora ela esteja a depender do exterior para a realização de algumas actividades: formação do clero e dos agentes pastorais, assistência social aos mais necessitados, educação, etc.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
57.Jesus exortou os seus seguidores a darem com generosidade: “Recebeste de graça e dai de graça…” (Mt 10, 8). Os primeiros cristãos deixavam-se guiar pelos princípios de solidariedade, caridade e gratuidade: “A comunidade dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum” (At 4, 32). O sentido de pertença à Igreja levava-os a sentir a necessidade de sustentar as actividades das suas comunidades: “Pois, os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos apóstolos”(At 4, 34-35).Solidariedade, caridade e gratuidade são sinais de maturidade cristã: “Há mais alegria no dar do que em receber.” (At 20, 35b).
PROPOSTAS OPERATIVAS
58.Algumas propostas operativas:
a)Materializar a criação do fundo do clero diocesano para a sua sustentação, assistência sanitária e outras emergências em questões de saúde.
b)Formação contínua dossacerdotes, religiosos e leigos acerca da auto-sustentabilidade e temas com ela relacionados: administração, gestão, contabilidade, normas vigentes no país em matéria de boa gestão, administração e transparência (Cf. III ANP 120.2).
c)Em cada comunidade, paróquia e diocese, que se crie uma comissão que promova e anime as iniciativas de auto-sustentabilidade da Igreja, onde for possível, envolvendo nela expertos na matéria.
d)Garantir o bom funcionamento dos conselhos económicos a nível diocesano, paroquial e comunidade, para uma maior transparência na utilização dos fundos (Cf. III ANP 120.3).
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E PARTILHA
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Consideramos importante o discurso da auto-sustentabilidade da Igreja?
3) Como a nossa comunidade cristã e paróquia contribuem para a sua auto-sustentabilidade?
4) Como reage a comunidade perante a contribuição do Dízimo? Há informação e transparência?
5) Que avaliação fazemos das várias colectas que fazemos?
6) O que fazer para requalificar as colectas para a formação dos Seminários, casas de formação religiosa e centros de formação para leigos?
7) Que outras iniciativas ou projectos a Igreja em Moçambique poderia adoptar para conseguir sustentar a si mesma?
*DIFICULDADES E PROPOSTAS
Decimo Capítulo
OS DESAFIOS DO MUNDO DIGITAL PARA A IGREJA E PARA A EVANGELIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
59.Hoje em dia, é praticamente impossível ignorar o mundo digital. Por mundo digital, entende-se todas as transformações resultantes da invenção da computação e da internet. O mundo digital não só transforma a cultura humana, mas também o próprio ser humano. Por isso, hoje se fala do “Homem digital” e de “nativos digitais”, para designar os seres humanos que se definem a partir da internet e acham que sem ela não podem viver.
Sendo a Igreja hoje chamada a anunciar o Evangelho do Senhor Jesus Cristo tanto no mundo digital, como ao homem digital, não pode desconsiderar o diálogo com esta realidade. Tal diálogo significa adequar o Evangelho aos recursos do mundo digital e assumir os valores, alegrias, ânsias, solidão e todas as vulnerabilidades do Homem digital.
LEITURA DA REALIDADE
60.A internet e a computação provocaram uma autêntica revolução na sociedade humana. Não só mudou a cultura, mas também o próprio ser humano no seu modo de pensar, sentir e relacionar-se. De facto, a internet representa uma grande oportunidade para o acesso à comunicação e à informação. Hoje, com qualquer dispositivo digital, seja um smartphone, computador ou tablet, não só se pode receber qualquer informação que se quiser, como também se pode emitir qualquer informação à escala global.
61) A partilha de hábitos, tradições, usos e costumes de povos diferentes, possibilita igualmente um grande enriquecimento antropológico e contribui para o progresso global. A internet é um espaço virtual de encontro, partilha e solidariedade. Para muitos jovens hoje, a realidade de todo o existente se resume à internet. Para eles, se uma coisa não se encontra na internet e nas redes sociais, então essa coisa não existe. Para esses, se a Igreja e o Evangelho não se encontram na internet e nas redes sociais, então não existem.
Felizmente, no nosso país, já se notam iniciativas, tímidas e descontinuadas, de uso da internet para a Evangelização, embora essas iniciativas ainda não tenham o impacto desejado.
FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA
62.A Epístola aos Hebreus revela-nos que Deus falou muitas vezes e de muitos modos (Cf. Hb 1, 1). Deus comunica através da sua Palavra. A comunicação de Deus é frequente (muitas vezes) e diversificada (de muitos modos). Jesus Cristo é a Palavra de Deus por excelência: o Verbo encarnado (Cf. Jo 1, 14). O Verbo eterno do Pai, fez-se Homem em Jesus de Nazaré, para comunicar o amor misericordioso do Pai, objecto de toda a comunicação divina.
A narração da criação no Génesis apresenta Deus que cria através da Sua Palavra. A Palavra de Deus é criadora. Deus comunica-Se aos homens, revelando a Sua identidade e vontade. Os profetas, mensageiros de Deus, serviram-se de vários meios, sátira, cânticos, poemas, parábolas, acções simbólicas, anúncio e denúncia, para exortar o povo a converter-se. Jesus Cristo, a última Mensagem do Pai, na sua missão messiânica comunicou o Evangelho do Reino dos Céus em todos os lugares e a todas as pessoas. O Espírito Santo capacitou aos apóstolos do Senhor Jesus para proclamarem a todos os povos a feliz mensagem pascal.
63.A Igreja reconhece as potencialidades da Internet como instrumento de contacto pastoral, bem como de orientação vocacional, em particular onde, por várias razões, a Igreja tem dificuldades em alcançar os jovens com outros meios.
PROPOSTAS OPERATIVAS
- Algumas propostas operativas:
a)A Igreja deve levar a luz do Evangelho à internet. Ela pode ser um espaço pré-evangélico. De facto, há muitas pessoas que frequentam a internet a procura da “Boa Nova” da felicidade. A Igreja não pode eximir-se de evangelizar essas pessoas no seu espaço existencial que é a internet.
b)Mais do que um meio de comunicação, a internet constitui-se um verdadeiro mundo sedento da Luz do Evangelho para evangelizar o Homem e o mundo digitais. Na verdade, a comunicação mais bela que a internet pode fazer é a comunicação do amor misericordioso de Deus.
c)Para um uso mais profícuo da internet, as dioceses podem instaurar secretariados de comunicação com o objectivo específico de organizar conteúdos para a divulgação na internet, bem como o apoio técnico para manter a página da internet actualizada bem como as outras plataformas digitais.
d)Os agentes de pastoral devem ser formados para o uso das redes sociais como imperativo evangélico, dominar técnica e moralmente as plataformas sociais de modo a evangelizar os jovens de hoje.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO
1) A leitura da realidade corresponde àquilo que se releva na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspectos que faltam e que devem ser tomados em consideração?
2) Quais são as oportunidades e desafios que se encontram no mundo digital?
3) Como a Igreja (dioceses, paróquias e comunidades) pode usar as redes sociais para evangelizar?
4) Quais são os perigos que se podem encontrar nas redes sociais?
5) Por que frequentemente a Igreja não usa as redes sociais para evangelizar?
6) Quais seriam as vantagens de usar as redes sociais para evangelizar?
*DIFICULDADES E PROPOSTAS
IVª ASSEMBLEIA NACIONAL DE PASTORAL
MOÇAMBIQUE, 2023
ORAÇÃO
Deus, Fonte inesgotável da Vida
E Pai de infinita bondade,
Nós Vos damos graças
Pela caminhada evangelizadora
Da Igreja em Moçambique.
Enviai sobre nós
O Vosso Santo Espírito,
Para ouvirmos a Sua voz,
Sabermos discernir
Os sinais dos tempos,
E acolhermos, como dom e empenho,
A IVª Assembleia Nacional de Pastoral.
Vos suplicamos, Pai Santo,
A graça da fidelidade à missão
Que Vosso Filho Jesus Cristo nos confiou,
E coragem para exercermos o nosso papel profético na sociedade.
Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição,
Padroeira de Moçambique,
Acompanhe a preparação e celebração
Da IVa Assembleia Nacional de Pastoral. Amén