Liturgia da páscoa no contexto actual
Pe. Jeremias do Rosário
No contexto da pandemia, muitas práticas ruíram e ganharam novos rumos. Este mal afecta directamente a vida das pessoas e o ritmo de trabalho em várias dimensões. Isso significa que também a dimensão religiosa sofreu algum retrocesso a nível da sua essência. É neste contexto que também podemos afirmar que a nossa fé murchou e automaticamente a nossa vida espiritual enfraqueceu-se.
Implicações da pandemia na liturgia
Com o anúncio do Estado de emergência em Março do ano passado (2020), a liturgia pascal foi celebrada de forma atípica, com inúmeras medidas de prevenção que foram implementadas. A celebração da páscoa no nosso país e no mundo inteiro aconteceu sem a presença do povo de Deus. As pessoas foram sujeitas a encontrar outras formas de rezar acompanhando a celebração da páscoa através dos meios de comunicação social: rádio, televisão ou as redes sociais.
Como é do conhecimento de todos, a religião cristã nasce do mistério pascal. Assim, sem a celebração da páscoa, os cristãos perdem a oportunidade de renovar a sua fé em Jesus Cristo. Pois, as cerimónias que acontecem na noite da páscoa, no dia da páscoa e em todo o tempo pascal de cerca de cinquenta dias, são importantes para o crescimento e maturidade da fé dos cristãos.
A experiência vivida pelo povo de Deus dentro do contexto da pandemia foi dura e ao mesmo tempo uma novidade. Não era incomum ouvir adultos comentando que desde que nasceram nunca tinham ouvido que a igreja parou. As portas da igreja estão fechadas. Em tempo de pandemia não só o povo não viveu a sua fé pascal mas também não viveu os momentos marcantes como os da celebração dos baptismos sobretudo na vigília pascal.
Sentido da liturgia pascal
A liturgia da noite de páscoa está colorida de muitas simbologias de fé que ajudam no crescimento espiritual dos cristãos como: a cerimónia do fogo novo que significa Cristo Luz do mundo ressuscitado e vivo; o hino pascal (precónio) que é uma interpretação da essência da liturgia pascal e a celebração dos baptismos ponto central da renovação da fé dos cristãos.
O Catecismo da Igreja Católica discute também o tema sobre o “Mistério pascal nos sacramentos da Igreja” (CIC § 1122 A 1130).
A igreja entende que “os sacramentos não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados “sacramentos da fé”.
Pois, Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as nações o arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem discípulos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão de baptizar, portanto a missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:
O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (…) A proclamação da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra [PO 4] .
Finalidade dos sacramentos
Como diz o Catecismo, o sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra.
“Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos da fé” [SC 59].
Portanto, os sacramentos que se recebem na Páscoa supõem a fé e não têm sentido senão para os que crêem. De contrário, estamos a fazer um teatro mal ensaiado. Por outro lado, é um testemunho da fé aproximar-se dos sacramentos. Expressamos nossa fé ao pedir o baptismo de uma criança, comprometendo-nos a educá-la na fé da nossa Igreja ou, se for adulto, assumindo o compromisso e deveres de cristão e católico.
Páscoa e coronavírus
Pela Sua pregação e pela Sua morte e ressurreição, Jesus é não só a revelação de Deus, mas a presença salvífica de Deus no mundo. Quem de nós não sente necessidade da misericórdia de Deus e de sua copiosa redenção? Jesus ressuscitou e habita no meio de nós. Os escritos do Novo Testamento não relatam quem Jesus era, mas quem Ele é. Ele veio para nos revitalizar e garantiu: “Venho para que tenham a vida e em abundância” (Jo 10,10).
Nos nossos dias nota-se que o número dos infectados está aumentando drasticamente, situação que nos leva a acreditar que mais uma vez a fé dos cristãos vai ser colocada em provação. Daí que há uma necessidade de os cristãos empenharem-se na oração para que esta pandemia passe. Depois da oração está também a necessidade da formação da consciência não só dos cristãos mas também de todos os cidadãos para que esta doença não se prolifere. O Senhor assegure todos cristãos para que neste ano venham cheios de alegria a celebração das festas pascais. Como cristãos coloquemos a nossa fé em Jesus Cristo e peçamos o Espírito Santo que anime a nossa fé de modo que nunca cessemos de confiar na misericórdia de Deus Pai.