AS AVENTURAS DA POLÍCIA MOÇAMBICANA

Servo inútil, Pe. Fonseca Kwiriwi, CP
Em Moçambique, ser da polícia e ser militar não é tarefa fácil. Mas o que mais fica exposto é o agente da polícia. Por isso vale abordar somente o primeiro: ser agente da polícia.
Segundo informações oficiais, em 2020, ano que acaba de se despedir, foram expulsos trezentos membros da Polícia. Oh! Que número elevado!
Enquanto recebíamos a notícia dos trezentos, chega aos nossos ouvidos a outra pior que a primeira: suicídio de membros da mesma corporação. Pense comigo. O que leva alguém a cometer suicídio, por exemplo, no seu local de trabalho? O que está a falhar que deve ser corrigido? Como tratamos os homens e mulheres responsáveis pela lei e ordem? O que podemos copiar dos países que já sabem cuidar e incentivar seus agentes da polícia?
Ainda é o início do ano de 2021. Há tempo para revermos algumas atitudes e melhorarmos as coisas. Como podemos sair desse abismo?
- Que é o agente da polícia?
Não se trata de um criminoso. Não é um perdido na vida. Não é a última bolacha do pacote. Não é um desesperado que procura de socorro.
Saiba o seguinte, o agente da polícia é uma pessoa que nasceu do seu pai e sua mãe. Uma pessoa com sua família e vindo de uma família, vindo de uma sociedade e moçambicano ou moçambicana.
O membro da polícia é uma pessoa que teve sonhos de um dia servir a pátria.
Actualmente, no meio dos membros, há grupo enorme de jovens que decidiram dedicar-se a uma missão: ser da polícia. Como várias profissões existentes em Moçambique ou no mundo, somente a pessoa da polícia ou o motorista sabe na pele o que é isso.
- Situação actual dos agentes da polícia
Podemos juntos ver o ponto de situação em diferentes ângulos.
2.1. O governo
Para que cada membro tenha a missão de servir o país, como outros profissionais, o governo forma os candidatos a polícia e confia-os a trabalhar devidamente. O investimento é feito como outras profissões. Cada membro da polícia é funcionário do Aparelho do Estado. Cada polícia tem direitos e deveres. Cada polícia tem seu salário e férias anuais. Enfim, cada um que pertence a polícia, antes de tudo sabe o que será e como irá viver.
2.2. A sociedade
Algumas pessoas esquecem que o agente da polícia é um ser humano. Existe no consciente coletivo uma amnésia. Ninguém quer se lembrar que são filhos desta terra.
Já vi, muitas vezes, na rua, polícias a serem tratados: por um lado como seres imortais e por outro lado como mendigos. Vi também polícias a se comportarem muito bem e com ética e cidadania. Observei também agentes da polícia que mostram não terem a mínima ideia da sua missão. Alguns vão a rua para extorquir os cidadãos. Outros vão ao trabalho para cumprirem com o dever.
Caro leitor, não generalize ao deparar-se com um membro da polícia porque lá dentro há gente muito boa e busca com dignidade viver a sua missão. Entretanto, a sociedade deve abrir os olhos e iniciar a lidar bem com essa situação.
- Sugestões práticas
Primeiro, temos que assumir a culpa que estamos nos empurrando ao abismo porque vimos e fingimos que não vimos. Praticamos e não nos lembramos que estamos atropelando a lei e manchando o país.
Segundo, temos que formar os membros da polícia como humanos e responsabiliza-los a servir o país com total entrega.
Terceiro, o governo deve incentivar sempre os membros com várias formações, promoção na carreira, salários justos e vida condigna. Quem comete algum erro deve ser corrigido e se for pior expulso. Porém depois de algumas tentativas para a humanização da pessoa.
Quarto, a sociedade deve olhar a polícia como uma profissão digna e merece todo respeito. A sociedade deve perceber que naquele lugar poderia estar um familiar.
Por último mas não menos importante, os agentes da polícia devem, antes de se candidatarem a polícia, inicialmente, saber dos desafios e assumir a responsabilidade pela escolha. Cada polícia deve assumir com zelo a sua missão. Cada polícia deve saber que sairá da miséria se lutar por um Moçambique melhor a partir do uso correcto do salário.
- Cada polícia deve saber que está numa profissão e não num refúgio
Cada polícia deve entender que o cidadão merece respeito e não é fonte de “refresco nem água” (uma linguagem usada para pedir dinheiro ao cidadão).
Cada polícia deve pautar pelos princípios éticos da corporação e não olhar pela posição atual como caminho para algum enriquecimento ilícito ou obtenção de favores quaisquer que sejam.
Enfim, cada um dos lados deve cumprir com os deveres e as obrigações. Quem cumpre a lei garante um Moçambique justo.
Quer as expulsões quer os suicídios podem ser evitados se cada um olhar a polícia como parte da sociedade. Irão continuar esses fenómenos se encaramos as coisas com mediocridade. Continuaremos a perder agentes da polícia se apontamos sempre os dedos contra eles. Continuaremos a verificar polícias mendigos se por um lado o agente não compreender seu papel e o cidadão não quiser cumprir com a lei.
É hora de sairmos desse mal e construirmos um Moçambique livre de expulsões e suicídios de membros da polícia.
- Ser da polícia não é castigo mas emprego e serviço ao país
Ser da polícia pode ser uma boa escolha se cada um cumprir com seus deveres e o governo providenciar o básico para que a polícia exerça sua missão com dignidade humana.
Conforme discutimos acima, nem um nem ouro é culpado mas a sociedade que queremos construir é que deve ser urgentemente corrigida e orientada ao novo rumo da vivência de ética e cidadania.