EXPRESSAR TUDO POR MEIO DE IMAGENS E SÍMBOLOS

EXPRESSAR TUDO POR MEIO DE IMAGENS E SÍMBOLOS

Frei Carlos Mesters, Carmelita

6ª Chave

Primeira Característica

EXPRESSAR TUDO POR MEIO DE IMAGENS E SÍMBOLOS

João teve muitas visões, algumas delas muito estranhas. Ele viu animais com seis asas, cobertos com olhos ao redor e por dentro (Ap 4,8); um cordeiro com sete chifres e sete olhos (Ap 5,6); cavalos com cabeça de leão e rabo de escorpião (Ap 9,17.19), uma besta-fera com sete cabeças e dez chifres (Ap 13,1), cujo número é 666 (Ap 13,18); uma cidade, bonita como uma noiva que desce do céu (Ap 21,2), e assim por diante! Ele enche o Apocalipse de números: 3, 4, 10, 1000 e suas combinações: 7 (3+4); 12 (3×4); 40 (4 x10); 144.000 (12x12x1000).

É um outro mundo! Estranho, irreal, diferente do nosso! E o que dizer do número 666 da Besta Fera? (Ap 13,18). Há muitas interpretações. A mais provável é que se trate de uma alusão ao rei Salomão que, por ano, tirava 666 talentos de ouro, i.é, 23 toneladas, dos agricultores da Palestina (1Reis 10,14). Além disso há o uso de números para indicar as letras. Por exemplo, VI significa seis. Assim, o número de C-e-s-a-r – N-e-r-o-n é 666.

Como é que visões tão estranhas podem clarear a situação do povo? Por que João não usa a linguagem comum como, por ex., Lucas faz nos Atos e Paulo nas cartas? O que será que o Apocalipse quer alcançar com estas visões? Vamos dar aqui seis respostas.

  1. Trazer conforto e coragem na luta

O Apocalipse de João traz visões grandiosas: Jesus ressuscitado (Ap 1,12-18), o Trono de Deus (Ap 4,2-8), o Cordeiro imolado (Ap 5,6-14), a Mulher e o Dragão (Ap 12,1-6). Talvez não entendamos logo o seu significado em todos os detalhes. Mesmo assim, experimentamos algo. É como o menino que passeia com o pai. O menino nada entende do que seja força e proteção. Mas ele sente a força e a proteção do pai, pois vai tranqüilo, sem medo, ao lado dele! Assim, a visão de Jesus ressuscitado (Ap 1,12-18) não diz o que é força e proteção. Mas faz o povo sentir a força e a proteção de Jesus ressuscitado, caminhando com ele, ao lado dele!

  1. Transformar a saudade em esperança

As visões do Apocalipse de João estão cheias de imagens tiradas do Antigo Testamento. A história do povo é lembrada ou evocada, às vezes, por uma única palavra. Algumas visões nada mais são do que construções novas, feitas com os velhos e já conhecidos tijolos do AT. Por que as visões recorrem tanto ao Antigo Testamento? O AT era o passado do povo. Passado bom, onde Deus tinha manifestado a sua presença com grandes milagres. Muitos lembravam o passado apenas para curtir a saudade: “Antigamente sim! Mas hoje…! Deus não aparece mais!” Ora, as visões recheadas com frases e lembranças do Antigo Testamento, transformam este passado num espelho. É como se estivesse acontecendo de novo, agora! Elas despertam a memória, desobstruem o caminho da fonte que existe dentro do povo e, aos poucos, a energia do passado vai acordando, o véu vai caindo, o povo se reencontra e a caminhada se ilumina: “Deus continua agindo! O mesmo Deus de antigamente! Ele não mudou de lá para cá! Ele está conosco!” A saudade se transforma em esperança: Não podemos desanimar!

  1. Comunicar ao povo algo da paz de Deus

Às vezes, pessoas medrosas e não engajadas usam o Apocalipse como pretexto para não entrar na luta: “Deus faz tudo! A nós cabe assistir e esperar!” Mas este não era o caso das comunidades da Ásia para as quais João escrevia o seu livro. Não havia o risco de elas usarem o Apocalipse como pretexto para não entrar na luta, pois já estavam na luta, há muitos anos. O problema delas era outro: como fazer para não desanimar da luta, pois estavam meio perdidas e desanimadas na frente de batalha (Ap 6,10). O Apocalipse de João achou uma resposta. Por meio das visões, João transporta as comunidades para dentro do céu (Ap 4,1), para perto do trono de Deus (Ap 4,2-11), onde está o quartel general do Cordeiro que lidera a batalha (Ap 14,15; 17,14; 7,9-17). Lá do alto, do centro das operações, elas contemplam a luta com os olhos de Deus. Descobrem que as ameaças e pragas não são para os oprimidos, mas sim para os opressores do povo, e experimentam que, apesar de difícil, a luta já está ganha (Ap 14,9-12; 17,14). Assim, as visões comunicam algo da paz com que Deus, sereno, lá do alto, comanda a luta contra a injustiça e a opressão (Ap 11,14-18; 12,10-11). As comunidades fincam a sua raiz em Deus e a tempestade das perseguições já não consegue arrancá-la. Elas voltam para a luta bem mais animadas, com sabor de vitória.

  1. Defender-se contra os opressores do povo

Em época de perseguição, todo cuidado é pouco. Dizer abertamente que o império romano era o grande inimigo a ser combatido podia dar prisão. João achou um jeito para dizê-lo de outra maneira. Por exemplo, para explicar o mistério da grande prostituta, sentada sobre a besta-fera com sete cabeças (Ap 17,3), ele diz: “Aqui é preciso ter inteligência para poder discernir: as sete cabeças são sete colinas sobre as quais a mulher está sentada” (17,9). Todos sabiam que a cidade de Roma, sede do Império, estava construída sobre sete colinas. Para o bom entendedor, meia palavra basta! Em outro lugar, João diz: “Quem tem inteligência é capaz de calcular o número da besta, pois é um número de gente. Seu número é 666!” (Ap 13,18). De acordo com o número de cada letra, o leitor calculava e descobria a mensagem: a besta é o imperador de Roma que persegue os cristãos. As visões com seus símbolos eram um meio para esclarecer o povo perseguido e defendê-lo contra os seus opressores. Elas revelavam a sua mensagem aos oprimidos e a escondiam aos opressores. Deus manda ser bom, mas não bobo!

  1. Fazer-se entender pelo povo das comunidades

Um cartaz com desenhos transmite muito mais do que só falar. Uma dramatização é mais instrutiva do que um sermão. Uma imagem diz muito mais do que uma frase. Para se expressar, o povo prefere desenhos, teatro, imagens, cartazes e comparações. O mesmo vale para o Apocalipse. O Apocalipse não é uma sala de conferências, onde o povo entra pa­ra escutar alguém falar. Parece muito mais com um salão enorme, cheio de imagens e retratos, pinturas e quadros, pendurados nas paredes das suas páginas. O povo pode entrar e andar por aí, à vontade, observando, conversando, rezando. Pode andar onde quiser. Pois cada pintura, cada visão, tem a sua própria mensagem. Seguindo, porém, a ordem em que João colocou as visões, aproveitará mais. Pois aos poucos, irá percebendo a mensagem do conjunto. Um quadro começa a esclarecer o outro quadro e o todo se ilumina.

  1. Uma chave para ler a realidade de outra maneira

Um símbolo revela uma dimensão mais profunda que a olho nu não se vê. Símbolo vem de sym-ballo: juntar, associar. O seu oposto é dia-ballo: separar. Um símbolo associa dois elementos, distantes entre si. Através desta associação, o elemento mais familiar evoca e esclarece o outro menos conhecido e menos palpável. Por exemplo, a realidade bem familiar indicada pela palavra porta ajuda a entender o que Jesus significa para a vida das comunidades: “Eu sou a porta!” (Jo 10,9). O mesmo vale para videira (Jo 15,1), caminho (Jo 14,6), e tantos outros símbolos. A força de um símbolo consiste na sua capacidade de evocar que depende de muitos fatores. Depende da cultura: a imagem do Cordeiro fala mais para o povo do interior, do que para operários da periferia de São Paulo. Depende da história: a palavra Quilombo fala mais para negros do que para brancos. Depende do clima e da região: a imagem da água evoca coisas diferentes para um nordestino que vive na seca, e para o índio que vive na Amazônia. Um símbolo atua sobre as pessoas mesmo sem elas se darem conta. Como hoje, assim naquele tempo, a máquina de propaganda do império fazia passar os seus interesses por meio de símbolos veiculados através dos meios de comunicação da época. Os símbolos do Apocalipse têm como objetivo não só descrever a experiência que João teve em sonhos, mas também e sobretudo fazê-la acontecer nos outros. Um símbolo vale mais pela experiência e pela ação que provoca do que pelo conteúdo que comunica. Ele quer é despertar a criatividade.

Breve reflexão sobre a natureza dos símbolos

As visões aconteceram do jeito como João as descreve? Ele viu exatamente tudo aquilo que ele descreve? Na raiz das visões existe uma experiência profunda de Deus e da vida. Experiência que funciona como o clarão de um raio no meio de uma noite escura. De repente, por um segundo, tudo se clareia e a pessoa enxerga. Depois do clarão, a escuridão parece mais escura, mas, por causa do clarão, na memória da pessoa, todas as coisas aparecem ligadas entre si por aquela claridade azulada, própria dos raios. Da mesma maneira, a experiência de Deus em forma de visão, como que por um segundo, clareia todas as coisas. Os acontecimentos que antes pareciam escuros e desconexos, agora tomam sentido e rumo. Na memória do visionário, todas as coisas, do céu e da terra, do passado, do presente e do futuro, tudo se liga e se esclarece dentro do único projeto de Deus. Em seguida, conhecendo o povo das comunidades, a sua cultura e história, a situação difícil em que se encontram, João constrói a visão, tentando reproduzir por escrito aquilo que ele mesmo experimentou. Não se trata de uma descrição fotográfica. O objetivo não é tanto informar o conteúdo que ele mesmo viu, mas sim fazer acontecer nos outros a mesma experiência que ele mesmo teve. Parece mais com a experiência do poeta que tenta colocar em palavras a inspiração que ele teve. Como dizia um grande artista a respeito da sua obra: 10% de inspiração, 90% de transpiração.

Na descrição da visão inaugural (Ap 1,12-16), João apresenta Jesus ressuscitado. Apresentação solene de muita majestade, que responde à pergunta: “Quem é Jesus para nós?” A esta pergunta você pode responder com uma frase e dizer: “Jesus é filho de Deus, Messias, Sacerdote, Juiz, Senhor da história, presente na comunidade, vivo para sempre!” Dizendo isto, você terá dito a mesma coisa que João. Mas João não respondeu com uma frase, mas sim com uma visão. As duas respostas, a frase e a visão, dizem a mesma coisa, mas de maneira diferente. Na frase, é você quem fala sobre Jesus; na visão o próprio Jesus se apresenta. Na frase, Jesus aparece parado dentro de um discurso; na visão, ele aparece agindo. A frase traz um relatório; a visão pinta um quadro. A frase define as margens do rio da doutrina; a visão conta uma experiência que alimenta a fonte do rio. A frase apela para a inteli­gência; a visão envolve o coração e o sentimento, e provoca a imaginação. A frase traz entendimento; a visão comu­nica força e coragem. Na frase, você terá dito uma grande verdade; na visão, João anunciou a Boa Nova de Jesus!

A linguagem dos símbolos expressa a vivência da fé dos pobres. É a linguagem que sai do silêncio dos silenciados, e conduz ao silêncio dos libertados diante de Deus. Como diz a poesia: Diante da vida do povo sofrido a gente não fala só sabe calar. Esquece as idéias do povo sabido e fica humilde, começa a pensar. É a linguagem da luta, da denúncia profética, do povo que não sabe ler. Linguagem da poesia, da atitude sapiencial mais solta, da mística, da contemplação, da celebração, do Amor. Convém ler o Apocalipse como se conversa com um amigo.

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