APOCALIPSE E A VINDA DE JESUS NO FIM DOS TEMPOS
Frei Carlos Mesters, Carmelita
14ª Chave
APOCALIPSE E A VINDA DE JESUS NO FIM DOS TEMPOS
A palavra Apocalipse significa re-velação. O Apocalipse re-vela (desvela) a vinda de Jesus e a descreve de várias maneiras: como já presente nas comunidades (Ap 1,9-20); como apelo à conversão (Ap 2 e 3); como libertador do povo perseguido (Ap 4-11); como Juiz que vem destruir as forças do mal que oprimem as comunidades (Ap 12-22). A vinda deve acontecer em breve (Ap 1,1). Ou melhor, já está acontecendo e, em breve, será revelada. No fim do livro, as comunidades pedem com insistência, para que Jesus não demore, e gritam: Vem! (Ap 22,17). O próprio Jesus responde: Sim, venho logo! (Ap 22,20).
São várias maneiras de se entender a vinda de Jesus, mas todas elas são como galhos variados que nascem do mesmo tronco. Este tronco tem quatro aspectos importantes misturados entre si:
1) Centro e raiz de tudo: O centro e a raiz de tudo é o nome de Deus É-Era-Vem (Ap 1,4.8; 4,8). Ele vem e virá por fidelidade ao próprio Nome (cf. Sl 91,14-15; 52,9). Em tudo que acontece Deus está vindo até nós. Ao longo dos séculos, a sua vinda se intensifica e só terminará no fim da história. Aí ele se chamará Era-É (Ap 11,17; 16,5), e já não vem mais, pois já veio e a sua presença será total, tudo em todos (1Cor 15,28).
2) Experiência da ressurreição: As comunidades viviam a experiência forte da presença do Ressuscitado no meio delas, “no meio dos candelabros” (Ap 1,13.20). Ao mesmo tempo, viviam a expectativa intensa da sua manifestação plena no fim dos tempos e queriam saber como e quando seria esta vinda: “Senhor, é agora que vai restaurar o Reino de Israel?” (At 1,6) Jesus responde que, em vez de perguntar pela data da vinda futura, devem testemunhar a Boa Nova da vinda de Deus hoje no meio de nós (At 1,7-8). Irrigando esta semente da presença da vinda hoje, apressamos o amadurecimento da hora da vinda futura (2Pd 3,11-13; 4,7-11).
3) Interpretação dos fatos: A maneira dos primeiros cristãos falarem da vinda de Deus e de Jesus era uma forma de eles lerem e interpretarem os fatos da história e da vida. Era para dizer que não existe neutralidade. Todos nós, de uma ou de outra maneira, estamos contribuindo para a chegada do fim, ou a favor ou contra. Estamos todos jogando no campo. Não há arquibancada para assistir à história do lado de fora. Falar da vinda era uma forma de provocar compromisso e engajamento nas pessoas (2Ts 3,10-11).
4) Limitações inerentes a toda percepção: Finalmente, deve-se levar em conta o aspecto particular dos primeiros cristãos que, inicialmente, esperavam a chegada do Dia de Javé e a vinda de Jesus para logo. Foi a experiência concreta da presença libertadora de Jesus Ressuscitado, que os ajudou a perceber melhor o alcance e o significado mais profundo da vinda de Jesus. Mas isto foi um processo longo que levou muitos anos, toda a segunda metade do primeiro século (2Pd 3,8-10).
O verdadeiro ecumenismo
A comunidade de Filadélfia era perseguida pelos judeus fariseus, mas, conforme a afirmação da carta, estes acabarão por converter-se (Ap 3,9). Reconhecerão que Deus ama não somente a eles, os judeus fariseus, mas também aos irmãos cristãos. Aqui está o fundamento do verdadeiro ecumenismo: não brigar para um ter razão contra o outro, nem querer converter o outro para ele aderir ao grupo da gente, mas sim, sem nenhuma segunda intenção, viver de tal modo o amor de Deus, a ponto de tornar-se para o outro uma Boa Notícia do amor de Deus. Viver de tal modo que o outro terá que reconhecer: Deus te ama. Quando o outro diz a mim: “Reconheço que Deus te ama!”, ele fala a partir do Deus que ele adora. Se ele reconhece que o Deus dele ama também a mim, deverá reconhecer que somos irmãos. Este é o significado profundo da afirmação da carta: Vou entregar-te alguns da sinagoga de Satanás que se afirmam judeus, mas não são, pois mentem. Farei com que venham prostrar-se a teus pés e reconheçam que eu te amo!” (Ap 3,9) Não é proselitismo. Não é superioridade. É vivência gratuita do amor! A mesma intuição, Jesus a transmite no fim da oração-testamento, conservada no evangelho de João (Jo 17,20-26). Esta atitude ecumênica leva a sério a experiência de Deus dos que pensam diferente de nós.