Qual é o significado das exéquias para os cristãos?
Ninguém escapa
A vida e a morte são duas gémeas inseparáveis. Quando chega uma, a outra, mais cedo ou mais tarde, também não deixa de aparecer. É por isso que a Igreja celebra solenemente estes dois momentos de passagem da vida de cada um. Há muitas maneiras de celebrar um funeral, dependendo da religião, da cultura e da sociedade em que vivemos.
Neste tempo de pandemia pelo covid-19, os funerais dos nossos entes queridos falecidos por este vírus mortal, tiveram um funeral “reduzido” conforme o normal. Isto provocou muitas feridas no coração dos familiares que muitas vezes não puderam despedir-se, conforme eles desejavam do próprio familiar. É por isso que vamos entender melhor o que é a celebração do funeral.
Luz eterna
Funeral vem da palavra latina “funus”, que por sua vez deriva de “funalia”, tocha, porque outrora se faziam os enterros à noite, e eram acompanhados com tochas acesas ou archotes. O cristianismo purificou esta cerimónia pagã, santificando-a com as luzes empregadas nos ofícios fúnebres, mas as luzes agora simbolizavam a alegria e a esperança na ressurreição da carne.
Embora a morte seja natural para todas as civilizações, cada cultura tem um jeito especial de se despedir e de homenagear a pessoa querida que partiu. Confira abaixo como são os rituais fúnebres nalgumas diferentes religiões.
Igreja Católica
Duas ideias principais percebemos claramente em todos os ofícios fúnebres da Liturgia da Igreja. A primeira é excitar, em favor dos mortos, a compaixão e a caridade dos vivos, pelos defuntos que estão à espera do encontro com a luz eterna; a segunda, é afirmar a ideia consoladora da ressurreição da carne.
O velório é celebrado com incenso, que significa veneração; água, para lembrar o baptismo e velas, para simbolizar que a vida vai se queimando. Além do mais, a luz é um sinal de Deus. Outro hábito comum na igreja católica é a vivência do luto. De acordo com a religião, é importante que se permita viver a tristeza do momento. Muitos vestem roupas pretas para simbolizar que perderam um amigo ou familiar.
Protestantismo
Assim como as cerimónias fúnebres católicas, os funerais protestantes também acompanham uma celebração religiosa. Porém, os protestantes não utilizam velas, nem crucifixos, apenas flores para homenagear quem partiu.
Judaísmo
Para o judaísmo, como a morte é democrática, isto é, acomete a todos os tipos de pessoas, ela também deve ser simbolizada de maneira igual. Nessa religião, primeiramente, o corpo é lavado por pessoas especializadas da comunidade para que volte a ser como chegou a esse mundo, purificado. Depois o corpo deve ser vestido com uma túnica branca e, então, ocorre o velório. Antes do funeral, os familiares do morto rasgam as suas próprias roupas, como representação do luto.
Você sabe qual é o significado das exéquias para os cristãos?
O Catecismo da Igreja Católica nos ajuda a compreender o que são as exéquias. A palavra exéquias provém do verbo latino exsequi, que significa “seguir” e refere-se ao cortejo fúnebre que segue o corpo do defunto até o túmulo. Para entender o significado cristão disso, encontramos uma profunda explicação das exéquias no Catecismo da Igreja Católica.
Antes de tudo, há um item sobre “A última Páscoa do cristão”. Aqui, lembra-se que a Morte e a Ressurreição de Cristo revelam para nós o sentido da nossa morte: o cristão que morre em Cristo Jesus “abandona este corpo para ir morar junto do Senhor” (2 Coríntios 5,8).
A Igreja, como mãe, acompanha o cristão no termo da sua caminhada para entregá-lo “nas mãos do Pai”.
Onde acontecem as exéquias?
A Celebração das Exéquias, acontece, frequentemente, em três lugares: o velório em casa ou noutros lugares próprios onde os parentes recebem os amigos do falecido; a Igreja onde se celebra a Missa de corpo presente ou directamente no cemitério, onde se sepulta o corpo do falecido e há uma celebração da Palavra.
Nesses lugares, muitos cristãos escutam a Palavra de Deus, especialmente os Evangelhos, e rezam. A Palavra nos transmite o sentido da morte para o cristão, como acima lembrado. E a oração expressa a nossa fé na “comunhão dos santos”. “Santos” são os santificados pelo baptismo, que procuram viver sua fé de maneira coerente. A morte não nos separa dos falecidos: nós permanecemos “em comunhão” com eles. Eles estão em Deus e rezam por nós; e vice-versa. Na vida presente, muitas vezes, a fé é misturada com pecados de fraqueza e egoísmo, que, mesmo assim, não rompem de maneira radical a comunhão com Deus e com os irmãos. Então, logo após a morte, os cristãos vão completar sua conversão: e aqui encontramos a fé católica na existência do Purgatório. Vivos e falecidos permanecem, pois, unidos, e rezam reciprocamente uns pelos outros, para que a conversão total a Cristo seja completa.
A esse respeito, é bom lembrar a origem da palavra “cemitério”. Na língua grega koimeterion (κοιμητήριον) significa “lugar de repouso”, dormitório. Sim, mas quem vai dormir, depois do descanso, levanta-se. E nós levantar-nos-emos, no dia da ressurreição: para viver com Cristo, que destruirá a morte para sempre. A palavra “cemitério” aponta, pois, para o sentido profundamente cristão da morte.
Nos lugares das exéquias, nós cristãos somos chamados a ser missionários, quer dizer, anunciadores da morte-ressurreição de Cristo, que dá um novo sentido à vida e à morte. As exéquias são, pois, um “momento de graça” para renovar a nossa fé e para proclamá-la.