O verdadeiro “nakuru” das famílias actuais
Ter um homem ideal, capaz de cuidar da sua vida e seus anseios, está na ponta do desejo de quase todas as mulheres. O mesmo se diga dos homens, quase todos eles, com excepção daqueles que por chamado de Deus primam por uma vida celibatária pelo Reino de Deus. Figura na ordem da vontade dos homens também ter uma mulher ideal. Mas na sociedade em que estamos, na realidade actual, essa vontade de ter um/a parceiro/a ideal, é contraposta pelo fenómeno da fragilidade dos laços humanos. As relações que se estabelecem pelo vínculo de casamento são menos duradoiras. De maneiras que há, na nossa sociedade, muitas mulheres com que nenhum homem se quer casar, e muitos homens também com que nenhuma mulher se arrisca casar. É assim que registamos um crescimento vertiginoso de homens com saudades de serem maridos, e também mulheres com saudades de serem esposas.
Instabilidade dos laços conjugais
Diante dessa realidade inequívoca da instabilidade dos laços conjugais, não são poucas pessoas, entre homens e mulheres, que se dizem ser reféns de azar ou vítimas do marido e mulher-da-noite. Com isso pouco se faz para reflectir sobre as reais causas dessa fragilidade tremenda dos relacionamentos românticos. Os motivos detrás dos divórcios. Ou seja, aquilo que faz o homem e a mulher ser azedos e incapazes de formar uma família feliz. Somente mais notável é sempre a tendência de atirar a culpa contra os outros. E aí criam-se certos complexos de culpabilidade, dentre os quais figuram:
- Complexo “nakurífero” (de “Nakuru”, ou marido-da-noite): a ideia de que há um espírito que se apossa de uma mulher ou homem, impedindo-lhe estabelecer casamento duradouro. Quem é o seu verdadeiro “Nakuru”?
- Complexo de perseguição: a ideia de que a pessoa não se casa porque há alguém que lhe inveja, persegue, incluindo familiares e pessoas alheias. Quem é o seu verdadeiro perseguidor?
- Complexo de maldição divina: a ideia de que a pessoa não se dá bem no casamento ou não se casa porque Deus ou os espíritos dos antepassados não estão bem com ela. Quem é seu verdadeiro amaldiçoador? Será Deus, ou os antepassados? Nada a ver.
- Complexo de azar: a convicção de que a pessoa nasceu sem sorte de ter homens ou mulheres ideais para o casamento. Será? Onde está o seu verdadeiro azar?
Os complexos acima são muitas vezes simples refúgio de quem não quer descobrir a própria nudez, típico de pessoas que se querem passar de vítimas e inocentes do próprio sofrimento. Pois, pouco fazem para descobrir a influência da sua postura diária na sociedade e no relacionamento. Tomados a peito, esses complexos, ou centrífugos, levam a pessoa a níveis cada vez mais predadores da vida, desde a frequência nos curandeiros, à mudança doentia de igrejas a procura de milagres, incluindo prostituição.
Atitudes nocivas à convivência familiar
No pano de fundo, há certos comportamentos e atitudes nocivos à convivência familiar. Problemas que, como um grau de mostarda, germinam e crescem na família minando o relacionamento conjugal. Que quando não tidos em conta tornam-se um verdadeiro “Nakuru”, o verdadeiro inimigo perseguidor, maldição e azar da pessoa. Isto é, coisas que tornam um homem ou uma mulher uma pessoa com quem ninguém quer se casar.
No meu livro “Amor: um exercício a dois” (2019), sob o título de “doenças do relacionamento”, fiz menção daquilo que mina o bem-estar dos cônjuges: a relação parasitária, a vida comparativa, a traição, o ciúme selvagem, o espírito de orelhas, a fofoquice, a hospitalidade selectiva, o consumo de drogas, o reclamar de tudo, a atitude de tudo imperar, a mania sexual, o desejo de ganhar razão em tudo, a inveja, a vergonha de passear juntos, o uso irracional do celular, os passeios sem ponteiro, a indiferença, a hipocrisia sentimental, o aprovacionismo, o medo multifacetado, o individualismo económico, a cegueira espiritual (medo de rezar).
Quando estas posturas se apossam de uma família, o seu lar perde o sabor e ganha contornos bastante terríveis. A família passa de lugar de amor e paz para “ginásio de karate”, campo de batalha. Portanto, antes de atirar a culpa para os outros é preciso rever o seu “modus operandi”, o seu agir, na órbita do seu relacionamento. Só assim vai descobrir o verdadeiro “Nakuru”, a verdadeira perseguição, maldição e azar que azedam a sua vida.
Que caminhos a seguir?
Que caminhos se podem adoptar em ordem a dar sabor e sentido à vida conjugal? Isso exige das famílias certas posturas que lhes ajudem a mitigar os vários problemas sentimentais que as apoquentam na sua vida diária: desenvolver a arte de viver em família, que passa necessariamente pelo cultivo de certas virtudes: ter um código de segurança na vida, saber dialogar, ter paciência, possuir atitude de serviço, superar a inveja, a arrogância e o orgulho; amar e deixar-se amar, saber perdoar, desculpar, confiar, esperar, suportar; estar sempre disposto para pedir licença, agradecer e pedir perdão, ter projectos comuns e nada de individualismo, recobrar o sentido de família como “Igreja doméstica” onde existe a cultura de diálogo, encontro e de oração.
Por Diác. Serafim João Muacua