Missão: Igreja em saída
“Missão: ser uma igreja em saída, decididamente missionária” é o tema do 1º capítulo dos Lineamenta da IV ANP. Um apelo à reflexão sobre a realidade das nossas paróquias que são uma rede de comunidades que procuram passar de uma pastoral de manutenção para uma pastoral decididamente missionária. O texto a seguir é uma ajuda para à nossa reflexão.
Igreja em saída é o refrão do pontificado do Papa Francisco desde a publicação da Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho (AE)”. É nessa exortação que o Papa exprime as suas principais preocupações a respeito da Igreja e do mundo, e desenvolve alguns temas que têm implicação directa na dinâmica pastoral e missionária da Igreja, a fim de delinear um novo perfil eclesial.
Para Francisco, a transmissão da fé não se resume num conjunto desarticulado duma imensidade de doutrinas, mas no testemunho da fé em Jesus Cristo, principalmente entre os mais pobres e fragilizados da sociedade.
BI da Igreja
“Igreja em saída” é uma Igreja que toma a iniciativa, sem medo de ir ao encontro dos afastados, de chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos (cf. AE 24). É um convite especial à passagem de uma Igreja auto-referencial, centrada em si mesma, a uma Igreja aberta à alteridade, porque “quem deseja viver com dignidade e em plenitude não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem” (AE 9).
O papa Francisco compreendeu bem que a missão é uma questão vital da Igreja, faz parte da sua natureza. Entretanto, ele chama a atenção para o verdadeiro sentido missionário, que não se resume numa mera transmissão de doutrinas, as vezes, impostas à força (cf. AE 35), criando assim, uma separação entre os “eleitos e os não eleitos”. Na verdade, assumir um estilo missionário, é fazer que a mensagem do Evangelho “chegue realmente a todos, sem excepções nem exclusões” (AE 35), de modo que a mensagem evangélica se torne mais convincente e radiosa.
Igreja: povo de Deus
A Igreja é para Papa Francisco muito mais do que uma instituição orgânica e hierárquica, é sobretudo Povo de Deus em caminho, um povo peregrino e evangelizador. Isso significa que “a Igreja deve ser lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viver segundo a vida boa do Evangelho” (AE 114). O propósito do papa Francisco com o processo de retomada do conceito de Povo de Deus, à luz de uma “Igreja em saída”, é de actualizar com sabedoria um conceito que tem suas raízes na Bíblia e foi conscientemente discutido e assumido pelo Vaticano II. De facto, a Igreja precisa entender que a sua missão não é fechar-se em si mesma ou em grupos de elite, mas ir ao encontro dos que andam perdidos, das imensas multidões sedentas de Cristo.
Esperança da Igreja
A exortação EG do papa Francisco – entendida aqui não como um documento específico, mas como um conjunto de gestos, palavras e acções que concretizam a Igreja – se apresente como a esperança de uma primavera para a Igreja católica, a certeza que fica é que a sua novidade exortativa incomoda, e exige, tanto do Magistério, como do fiel cristão, uma mudança radical de mentalidade, à luz do Evangelho, antes que das normas e das regras doutrinais muitas vezes impostas à força.
Convite de Francisco
O Papa Francisco não deseja nada mais que todo o Povo de Deus possa participar da vida da Igreja, que ninguém se sinta excluído da vida eclesial, mas todos se sintam amados e acolhidos por Deus. A “Igreja em saída” é justamente uma Igreja de portas abertas, a fim de acolher e oferecer a todos o testemunho salvífico do Senhor. É uma Igreja que busca iluminar a humanidade com as luzes do Evangelho, sem condicionar a fé cristã numa confusão de obsessões e procedimentos.
Igreja da Visitação
Para concretizar o plano pastoral do Papa o subsídio em preparação à IV ANP, apresenta algumas propostas operativas que vale a pena recordar:
- a) A Igreja Católica em Moçambique é chamada a empenhar-se mais na renovação da vida pastoral, com um programa que coloque a missão em todas as iniciativas, numa verdadeira Igreja “em saída” e em “estado permanente de missão”, numa dinâmica de conversão pastoral, onde a opção missionária esteja presente como alma da vida da Igreja (AE27).
- b) Partindo das experiências missionárias já existentes urge ser uma Igreja em saída, Igreja da Visitação, onde todos são sujeitos de evangelização, porque ser cristão é viver em missão.
- c) De grande importância é a pastoral da visitação e a criação nas nossas paróquias do ministério da visitação. Este ministério é essencial e urgente porque actua directamente sobre cada pessoa, cada família, cada núcleo, cada comunidade. O contacto pessoal, feito através das visitas, possibilita, na conversa, na escuta e na oração, que cada pessoa seja evangelizada de modo muito próprio, bem especial.
Outubro, mês missionário por definição, é a ocasião privilegiada para começar uma séria avaliação da dimensão missionária das nossas Comunidades que formam a Igreja local ao fim de poder reprogramar a nossa vida pastoral.
BOX
“Desde quando a Igreja assumiu as categorias imperiais (cf. Império Romano) até tornar-se o que é hoje, precisou fazer uma opção: pôr o essencial da fé cristã em segundo plano e priorizar o fortalecimento de suas estruturas eclesiais. Por isso, em vez de Evangelho, deu ao povo doutrina; em vez de fé, deu-lhe conceitos; em vez do “querigma” (cf. Anúncio de salvação), deu-lhe dogmas; em vez do compromisso com o Reino, acomodou-o debaixo dos seus preceitos. De tudo isso, o que restou foi um cristianismo frágil e descomprometido com a causa do Evangelho, pois, nesse modelo eclesial, o que definia um cristão católico não era a prática concreta dos ensinamentos de Jesus, à luz do Evangelho, mas “considerava-se católico quem professava visivelmente a fé, era validamente baptizado, aceitava os sacramentos e vivia sob o governo do Romano Pontífice, como vigário de Cristo na terra” (Libanio).
Por AB