Um ministério renovado para uma Igreja missionária

“O ministério do Catequista na Igreja é muito antigo”. Com esta consideração, o Papa Francisco institui para a Igreja o ministério do catequista que, no entanto, sempre acompanhou o caminho da evangelização em todos os tempos e em todos os lugares e foi consagrado o papel do catequista missionário dentro da Igreja.
O documento “Antiquum Ministerium” (AM) alarga as fronteiras da ministerialidade dentro da Igreja, colocando o ministério do catequista no horizonte de uma pluralidade de funções expressa “no serviço de homens e mulheres que, obedientes à acção do Espírito Santo, dedicaram a sua vida à edificação da Igreja” (AM,2).
Ministério laical
Embora o texto reconheça a actividade da catequese como um ministério enraizado na longa história da Igreja, liga-o expressamente à condição “laical”. Esta forma específica de apresentar o ministério do catequista não é neutra: falar do “ministério laical do catequista” significa associá-lo a uma condição específica do cristão, que está marcada no fundamento jurídico da codificação canónica.
As citações dos documentos do Concílio Vaticano II e do Código de Direito Canónico indicam como, em geral, o motu próprio fala dos leigos com referência aos cristãos que “não são membros da sagrada Ordem” (Lumen Gentium, 31) e são qualificados por um exercício do apostolado que “possui uma indiscutível valência secular” (AM,6). A catequese é, por assim dizer, “reservada” sobretudo para aqueles que se encontram na condição canónica específica de “leigo” e definida, na sequência da Lumen Gentium 33, em termos de uma colaboração dos leigos ao apostolado da hierarquia. De facto, o documento afirma que: “Hoje em dia, em razão da escassez de clero para evangelizar tão grandes multidões e exercer o ministério pastoral, o ofício dos catequistas tem muitíssima importância” (AM, 4). Aqui surge uma pergunta: e se não houvesse escassez de clero, tal ofício teria a mesma importância?
Povo de Deus
Neste sentido, o documento AM parece colocar-se em continuidade com uma certa linguagem do Concílio Vaticano II e transmitir uma ideia de Igreja na qual a noção do Povo de Deus permanece marcada por uma articulação jurídica entre leigos e clérigos, que dá a estes últimos uma primazia qualitativa que se torna vinculante.
Todavia, o texto do motu próprio dá também um passo em frente em relação à mesma eclesiologia conciliar no que diz respeito à natureza dos ministérios, ao seu fundamento teológico e à sua função na vida da Igreja. Fá-lo nos dois primeiros números do documento, que são apresentados como um comentário articulado do Capítulo 12 da 1ª carta de Paulo aos Coríntios, 28-31. O texto Paulino é muito mais do que uma lista de funções desempenhadas dentro da Igreja: pelo contrário, ele traça o exercício de certas tarefas dentro da comunidade a partir de carismas que são um dom do Espírito. É o Espírito, de facto, que actua através das obras dos cristãos, numa manifestação que visa o bem comum (1Cor 12,7).
Esta conclusão é aprofundada na passagem sucessiva do AM, onde se encontra a outra citação do mesmo Capítulo 12 da 1ª carta de Paulo aos Coríntios 4-11. Este texto não coloca a questão de quais ministérios distribuir na Igreja e a quem, mas reconhece que o carisma, que é o fundamento dos ministérios, é um dom do Espírito e que a Igreja como comunidade é chamada a reconhecer a presença destes carismas dentro dela e a encorajar uma vocação ao ministério que é fundada no Baptismo, e portanto própria de cada cristão.
Neste sentido, o motu próprio torna-se também uma progressão do Concílio Vaticano II em dar uma definição “em positivo” da condição canónica de leigo, que já não é “o cristão sem o ministério ordenado”, mas alguém a quem se pode atribuir um ministério específico, no nosso caso, o de catequista.
Além do legalismo
É preciso reconhecer que o Concílio Vaticano II, na sua reflexão eclesiológica sobre o Povo de Deus, “intui” um ministério baptismal, que não é necessariamente fundamentado na sacralização de uma determinação jurídica. No entanto, a construção e elaboração de um conceito e de um vocabulário adequado para dar voz à consciência teológica de uma Igreja que se reconhece como Povo de Deus e que se afirma enraizada no Baptismo, permanece, ainda hoje, algo inacabado. Isso desafia não só os teólogos mas todos os baptizados, porque envolve o mandato de toda a Igreja e a acção do mesmo Espírito que “realiza tudo em todos” (1Cor 12,6), e fundamenta a diversidade de carismas e ministérios. É por isso que os primeiros dois números do AM representam o elemento mais teologicamente relevante neste itinerário de amadurecimento eclesial. Eles explicitam, na linguagem do Novo Testamento, os fundamentos de um ministério que brota da “aspiração” à qual todos os baptizados são chamados, confirmando que os dons do Espírito são dispensados entre todo o povo de Deus. Este facto torna a ministerialidade não como algo reconhecido e promovido pelos clérigos (CIC cân. 275 §2), mas o acto eclesial de garantir a presença dos carismas dados pelo Espírito e colocados ao serviço da Missão de Deus, para a vinda do Seu Reino. Toda a comunidade está chamada ao seguimento de Cristo. Por essa razão, não se deve pensar a dimensão ministerial apenas a partir de cima, a partir de uma hierarquia. É necessário vê-la a partir de baixo, a partir dos carismas, dos serviços e dos ministérios que, com a força do Espírito Santo, vão edificando o Corpo de Cristo.
Nisso, a importância dos ministérios e a sua renovação não resulta da falta de sacerdotes, mas da “renovada consciência da evangelização no mundo contemporâneo” (AM, 5). Aqui insere-se aquela “transformação missionária” que deve abraçar todas as realidades da Igreja.
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Por conseguinte, como afirma o documento: “Receber o ministério de Catequista imprime uma acentuação maior ao empenho missionário típico de cada um dos baptizados que, no entanto, deve ser desempenhado de forma plenamente secular, sem cair em qualquer tentativa de clericalização” (Antiquum Ministerium, n. 7). Nesta afirmação, encontra-se a novidade trazida por este ministério: homens e mulheres são chamados a expressar a sua vocação baptismal da melhor maneira possível, não como substitutos de sacerdotes ou pessoas consagradas, mas como autênticos discípulos missionários que, na natureza particular do seu ministério, realizam a vocação baptismal para testemunhar a sua fé e colocar-se eficazmente ao serviço da Palavra de Deus na comunidade cristã e no mundo.
Por Pe. Massimo Robol