JUBILEU DOS 25 ANOS DE VIDA SACERDOTAL DO PADRE RAFAEL BACIANO SAPATO
HOMILIA DO P. RAFAEL SAPATO POR OCASIÃO DO SEU JUBILEU SACERDOTAL JUNTO COM O SEU IRMÃO P. LOURENÇO MIQUEIAS
Lichinga, 24 de Outubro 2021, XXX D.C. Ano B, Domingo das Missões
I L. Jer 31,7-9, II L. Hebr 5,1-6; Ev. Mc 10,46-52
Antes de partilhar a minha reflexão sobre a Palavra de Deus neste XXX Domingo, Domingo das Missões, gostaria de estender a homenagem que prestamos a Mons. Miqueias aos vivos, isto é, a esta assembleia litúrgica que muito nos honra e encoraja com a sua presença, a começar pelo nosso Vigário Geral, P. Agostinho, o Magnifico Reitor do Seminário Filosófico Interdiocesano S. Agostinho, P. Joaquim Lopes, juntamente com o seu Vice, P. Samuel Bungueia, o Pároco da Sé Catedral, que acolhe esta celebração, P. Inácio Mole, os Sacerdotes diocesanos de Lichinga e os Missionários em Lichinga, de modo particular os últimos a ser ordenados na nossa Diocese, P. Abel e P. Isaias, o P. Francisco Alves de Nacala, as Irmãs Religiosas nativas, Missionárias ao serviço da Diocese de Lichinga e as que vieram de Quelimane (Representante das Irmãs Agostinianas, Ir. Gabriela e das Irmãs deNossa Senhora da Visitação, Ir. Celeste), as Entidades de Estado e Governo no Niassa,da Edilidade de Lichinga, e do Distrito de Chimbunila, o Professor Machona de Nampula, as delegações das Paróquias da cidade de Lichinga, Catedral, Cerâmica e Nzinge, os convidados, o coro e todas as pessoas que aqui vieram rezar conosco.
O trecho do livro de Jeremias que acabamos de escutar, numa das suas passagens diz: Fazei ouvir os vossos louvores. É o objetivo desta celebração. Porque Jubileu significa Júbilo, louvor. Motivos para louvor e júbilo são muitos. Senão vejamos:
O cego Bartimeu depois de ter sido curado seguiu Jesus, o meu irmão, P. Miqueias e eu próprio, depois de termos sido curados da cegueira espiritual, por Jesus, por intermédio de pessoas que ele quis que fizessem parte da nossa história, ele aceitou que lhe seguíssemos durante 25 anos. E como diz o Salmista hoje “Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião, parecia-nos viver um sonho“. Também, para nós, dizer que estamos a celebrar 25 anos de seguimento ao Senhor, parece-nos viver um sonho. Ser aceite por Jesus para fazer parte da sua companhia, sem dúvidas, é motivo de jubilo, louvor que Jeremias pede na primeira leitura deste domingo. Quantos não se emocionam quando são convidados pelo seu superior hierárquico, para integrar a sua delegação ou o seu governo? Jesus é mais que superior hierárquico, porque é Deus.
No processo da cura do cego Bartimeu há alguns aspectos dignos de serem refletidos. Ele ouve Jesus a passar, grita pedindo socorro, muitos lhe repreendem, mas quando Jesus pára e manda chama-lo, chamaram o cego e disseram, “Coragem! Levanta-te, que ele está a chamar-te!“.
Nós também ouvimos Jesus a passar nos locais onde estudávamos, e gritamos “Filho de David, tem piedade de nós”. Muitos nos repreenderam mas houve aqueles que nos disseram: coragem! Levanta-te, que ele está a chamar-te.
Gostaria de começar por este último aspecto na nossa vocação. Houve intermediários que nos encorajaram para chegarmos ao Filho de David, sermos curados da cegueira espiritual por ele e lhe seguirmos ao longo destes anos todos. Doutro modo, não estaríamos hoje a celebrar 25 anos de sacerdócio. Estou a falardos nossos parentes, promotores vocacionais, formadores nas várias etapas, as várias pessoas envolvidas na nossa formação, os Bispos de Lichinga, nomeadamente, D. Luís, de eterna memória, D. Hilário, D. Elio, agora D. Atanásio, e fora de Lichinga, os nossos párocos, os irmãos no Sacerdócio, as Irmãs Religiosas, as comunidades cristãs, Paróquias e locais de trabalho onde passamose estamos, amigos benfeitores e conhecidos. Por todos esses queremos com Jeremias fazer ouvir os nossos louvores.
Para que fim Jesus nos curou e aceitou que lhe seguíssemos por 25 anos? Responde o autor da carta aos Hebreus,no trecho que escutamos hoje: “Todo o sumo sacerdote escolhido dentre os homens, é constituído em favor dos homens nas suas relações com Deus para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados “. Os termos de referência da nossa missão são mais que claros. Durante estes 25 anos algo o Senhor fez por nosso intermédio. O Senhor, por nosso intermédio, ajudou a encorajar aqueles que precisavam de encorajamento, algumas vocações saíram desse encorajamento. Por isso tudo queremos com Jeremias soltar brados de alegria.
Jubileu é também momento de pedido de perdão. Durante o retiro de preparação para esta celebração, o qual foi pregado por D. António Juliasse, Bispo Auxiliar de Maputo e Administrador Apostólico de Pemba, na Paróquia de S. António de Mbemba, Diocese de Lichinga, fizemos um profundo exame de consciência o qual nos ajudou a descobrir que parece temos mais motivos para pedir perdão ao Senhor e ao seu povo do que de louvor.
O trecho da Carta aos Hebreus de hoje diz “ele pode ser compreensivo para com os ignorantes e os transviados porque também ele está revestido de fraqueza“. Houve momentos que não fizemos assim, pelo contrário revelamos impaciência e intransigência. A todos aqueles que maltratamos, o que é contra a atitude de Jesus, perdão.
Quando o cego Bartimeu gritava a pedir socorro de Jesus, muitos lhe repreendiam. Houve momentos que nós também repreendemos até desanimar pessoas a quem erámos supostos encorajar e animar, sorry.
O cego Bartimeu quando foi chamado por Jesus, deitou a capa ou manto, o que lhe identificava como mendigo credenciado, segundo os procedimentos daquele período, gesto que revela mudança radical. Aqui há diferença conosco. Pelo facto que não foram poucos os momentos que nós quisemos recuperar a nossa capa, decepcionando e mesmo escandalizando o povo. E o Senhor em alguma parte da Escritura já advertiu: Ai daquele que escandalizar um desses pequeninos… (Mt 18,6). E nós já escandalizamos. Certamente, alguém esteja a perguntar, porquê então, assim procederam, sabendo? O autor da carta aos Hebreus já explicou: estamos também revestidos de fraqueza. Por estas situações todas nebulosas e pouco felizes, imploramos misericórdia do Senhor e pedimos imensas desculpas a todos aqueles que sofreram com a nossa incoerência, nomeadamente, a nossa família, os nossos Bispos, os irmãos no ministério, as pessoas consagradas, paróquias e comunidades cristãs e lugares onde passamos e estamos, amigos, benfeitores e conhecidos, para não deixar ninguém de lado, em suma todo o povo.
O cego Bartimeu foi repreendido por muitos. Portanto, muitos quiseram desencoraja-lo. Valeu-lhe a persistência até Jesus atender à sua súplica. Aconteceu o mesmo conosco. Tivemos situações difíceis e delicadas que tentaram nos desanimar. Temos de confessar que levávamos dentro de nós até ao retiro, algumas feridas, porque somos também feitos de barro, aliás somos descendentes de Adão e Eva. Temos sidodesencorajados, ao longo destes 25 anos, por algumas ‘Evas‘. Como é sabido, o mundo atual é um autêntico Éden.
Por tudo isso queremos dizer como o Senhor, tendo esta assembleia litúrgica, como testemunha, “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Face a isto tudo, certamente que o Senhornos pergunta, como o fez com o cego Bartimeu,: “Miqueias, Sapato o que queres que eu faça agora que celebras o Jubileu de Prata sacerdotal?“ A nossa resposta é inequívoca: “que eu veja melhor“, para também ajudar melhor os outros adistinguir o bem do mal, porque afinal o Senhor nos curou da cegueira espiritual também para esta finalidade.
E o que é que a Liturgia da Palavra de hoje diz a esta assembleia litúrgica? Diz, a exemplo do cego Bartimeu, é necessáriotomar consciência da própria cegueira espiritual, a qual faz comque o futuro da nossa humanidade seja uma grande incógnita;afinar bem os ouvidos para ser capaz de ouvir o Filho de David a passar, porque ele sempre passa, mas nós é que,às vezes, temos os ouvidos ocupados por auriculares, uma vez ouvido,gritar, “Filho de David tem piedade de mim!“ Ele, sem dúvida, vai perguntar: “o que queres que eu faça?“, a resposta seja, “que eu veja“. Isto é, seja capaz de fazer o bem e evitar o mal, afim de tornar o nosso mundo num jardim. Outro pedido a ele seja este: ajuda-me, para que, na minha comunidade, não faça parte do clube dos pessimistas e desencorajadores dos irmãos que querem chegar a Jesus e serem curados de alguma enfermidade, como aqueles que repreendiam o cego Bartimeu, mas esteja sempre pronto a dizer “Coragem! Levanta-te, que ele está a chamar-te!“
Só assim é que se pode construir uma Igreja sinodal, processo para qual somos todos convidados pelo Papa Francisco.
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!