As seitas: uma perspectiva pastoral
O surgimento e a propagação de seitas ou novos movimentos religiosos é um fenómeno marcante na história religiosa dos nossos tempos. Ao considerar qual posição é preciso tomar para com as “seitas religiosas”, é evidente que se deve evitar a polémica e o confronto directo. As pessoas que pertencem aos vários movimentos religiosos e pentecostais são irmãos e irmãs com quem partilhar a luz e o amor de Cristo.
As seitas como sinal dos tempos
O fenómeno das “seitas religiosas” pode ser visto como um sinal dos tempos. É necessário considerar o que o Espírito diz à Igreja por meio desta situação. Portanto, a proliferação e a actuação das seitas não são propriamente uma ameaça, mas um desafio pastoral.
De facto, o texto dos Lineamenta em preparação da IV Assembleia Nacional de Pastoral, apresenta a realidade das “seitas religiosas” como um “desafio” que é preciso enfrentar, e assim oferecer uma resposta pastoral a uma situação que não pode ser ignorada. As perguntas que os Lineamenta dirigem aos cristãos das várias paróquias e instituições eclesiais, podem ajudar a refletir e a elaborar propostas de ação para responder ao fenómeno em questão.
Entretanto, há algumas acções pastorais que é necessário implementar para fortalecer a qualidade e o sentido de pertença das nossas comunidades cristãs, bem como para abordar este fenómeno de uma forma proactiva.
Acções a ter em conta
Em primeiro lugar, é indispensável promover nas comunidades cristãs uma catequese adequada e uma aprofundada formação bíblica. As “seitas religiosas” muitas vezes tiram vantagem de situações de ignorância religiosa entre os cristãos católicos. Neste sentido, é necessário implementar uma pastoral bíblica que ajude os católicos a estarem bem preparados em sua própria fé, de modo a poder ter sempre uma resposta pronta para quem lhe perguntar as razões da sua esperança (1Pd 3,15).
Em segundo lugar, é oportuno prestar atenção ao aspeto litúrgico e devocional das nossas comunidades cristãs. Algumas igrejas pentecostais atraem as pessoas porque prometem orações e cultos agradáveis. Mais uma razão para que as nossas celebrações litúrgicas sejam dedicadas, bem preparadas e com a participação activa de toda a comunidade. Algumas “seitas religiosas” colocam muita ênfase no aspecto emocional, nas danças, nos cantos. Sem exceder demasiado, será de ajuda em muitos lugares de culto das paróquias o prestar atenção ao corpo, aos gestos e aos aspectos materiais das celebrações litúrgicas e da devoção popular.
Em terceiro lugar, é importante haver um bom acolhimento na paróquia para proporcionar mais um sentido de pertença aos crentes. Está claro que muitos cristãos católicos se integram nas seitas à procura de calor humano, de entusiasmo, de respostas para as suas inquietações e desejos. Parece-lhes que estes movimentos religiosos e igrejas independentes se confrontam abertamente com os problemas existências da pobreza, do sofrimento, da doença, da morte e prometem soluções instantâneas, especialmente a cura psicológica e física. Neste sentido, é importante criar um clima mais acolhedor nas nossas paróquias e comunidades, evitando a atitude burocrática com que muitas vezes se dá resposta aos problemas, simples ou complexos, da vida do povo. Em muitas partes, predomina ainda o aspecto administrativo sobre a pastoral, bem como uma sacramentalização sem outras formas de evangelização.
Em quarto lugar, é necessário promover uma maior participação e responsabilidade dos leigos na vida das paróquias e comunidades cristãs. Um acentuado clericalismo pode marginalizar os fiéis leigos e deixá-los ver a Igreja como uma instituição liderada por funcionários burocráticos ordenados. Talvez o que é necessário é um apostolado mais participado, maiores oportunidades para os fiéis leigos de assumirem responsabilidades, uma maior colaboração entre leigos, clero e consagrados/as para levar o espírito de Cristo no meio da sociedade.
Por Pe. Massimo Robol