Crónica – O PATO DAS CINZAS
Não sei se todos patos são como os do meu vizinho. Quando chove, eles acorrem às águas, mergulham-se até ao fundo, mas quando de lá saem e se sacodem sai apenas poeira, e nem sequer uma gota de água.
A imposição das cinzas é um mistério que nos introduz no tempo da Quaresma. Tempo favorável de renovar a alma, de prepara-la para Deus. A conversão a Deus e aos irmãos somente tem sentido salvífico nesta vida. A cinza que nos é imposta na cabeça significa penitência e mudança de comportamento, e só produz efeitos de salvação para quem acredita e se abre ao espírito de jejum, da oração e da esmola.
Sim, do jejum da mentira, do egoísmo, da fofoca, do adultério, da avareza, do jejum de desenhar esquadrões de morte, da corrupção, da ladroagem, do alcoolismo, da inveja, de ciúme selvagem, e não de uma mera abstinência alimentar moldada nos escombros económicos de poupança.
De facto, da oração sincera e verdadeira, um verdadeiro louvor a Deus, rezando por si, pelos amigos e inimigos, e não de uma simples acção da boca com medo de silêncio. Mas de uma conversa de coração humano para coração divino.
Na verdade, da esmola, de um abrir a mão e o coração para dar a quem abre mão e coração para receber.
Como os patos do meu vizinho, que quando saem do mergulho, ao se sacudir sai mais poeira que a água, há muitos cristãos que, depois de receber a imposição das cinzas o seu comportamento continua o mesmo: não vivem as práticas quaresmais do jejum, da oração e da esmola que receberam na imposição das cinzas. São verdadeiros patos das cinzas.
O mundo os engana que esquecem que um dia todos havemos de morrer. Ocupam-se fazendo tudo em excesso, a ponto de viver como se Deus e o pecado não existissem. Comem em excesso. Bebem mal. Olham mal. Conduzem mal. Falam mal dos outros. Mas o tempo de conversão é este, que nem dá para adiar ou desperdiçar. Ninguém sabe, ao certo, quando Deus lhe vai chamar. Bonitos ou feios, negros ou brancos, altos ou baixinhos, um dia vamos morrer e prestaremos contas a Deus por tudo quanto tivermos feito em vida, neste corpo.
Chega de viver de vícios mortais. Deixa de lavar a cara com birras, de escovar os dentes com Gin Rhino, de fazer suas narinas de escapes de fumos de cigarro. Viva, sim, de jejum, de oração e de esmola.
Feliz Quaresma e boa preparação para Páscoa do Senhor.
Quem tem ouvidos, ouça!
Por: Giovanni Muacua, 02 Março 2022