O medo de passar o poder aos outros desequilibra a Democracia moçambicana, observa D. Inácio Saure, Arcebispo de Nampula.
“E a primeira situação mais clara que faz tremer a democracia em Moçambique é a falta de vontade e atitude de liberdade interior de passar o poder para o outro”.
Dom Inácio Saure fez estes pronunciamentos em plena homilia, no último domingo (26/06), durante a missa de encerramento da peregrinação ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus de Rapale.
O prelado aproveitou-se das leituras do dia, particularmente a primeira leitura dos Reis, onde o profeta Elias mostra-se disposto a ceder o seu poder a Eliseu, algo raro quando se fala de governação do país.
Dom Inácio lembra com preocupação o que acontece durante e depois das eleições em Moçambique e diz estar apreensivo com as próximas eleições.
De acordo com D. Inácio, em África, os dirigentes são como macaco velho, pois, quando sobem não gostam de descer do poder.
Segundo revelou a fonte, infelizmente, isto não acontece apenas no poder político, nas Igreja também acontece, facto que, muitas vezes, culmina com feitiçarias e curandeirismo.
Algo simplesmente deplorável, que faz com que Dom Inácio Saure levante vários questionamentos, tudo para entender o que realmente interessa aos que estão e querem o poder em Moçambique.
Sem reservas, o Arcebispo de Nampula pede disponibilidade e humildade de cedência de poder aos que assumem lideranças nas igrejas e na governação do país.
Daí que apela aos dirigentes serem capazes de aprender a se despedir do poder sem confusão, mas na paz, pois, entende Dom Inácio, não é possível vivermos unidos enquanto nos mordemos e nos matamos por causa do poder, por causa de comida, por causa de homens e de mulheres.
A peregrinação à Rapale é um evento tradicional da Igreja Católica em Nampula, que acontece anualmente, dando oportunidade de os cristãos manterem um contacto mais profundo com Deus através de orações e adoração.
Desta vez, pouco mais de 10 mil pessoas, entre cristãos, convidados e curiosos, participaram da peregrinação a Rapale.
Por Gelácio Rapieque