Crónica do dia – Um cego não pode guiar outro cego

O sistema de educação do nosso país está doente.
Está de baixa na sala de reanimação de onde voltar ou não tudo se mistura como produtos homogéneos, num clima de desespero total e completo. Está doente de um cancro que não aceita nem cuidados paliativos. Essa incompetência é demais. Morremos de vergonha e somos julgados pelo mundo como piores analfabetos. Nunca pensei, menos imaginei, que, depois da vergonha do conteúdo errado do livro da 6ª classe, voltássemos a assistir cenários tristes de erros, até nos testes finais. Erros de cálculos e de conteúdo. Parece que os autores daqueles conteúdos tomam “sicuta” de Sócrates. Não sei ao certo o que está acontecer no sistema educativo moçambicano. O que sei é que há um suicídio intelectual provocado ou espontâneo. Há uma necessidade de reforma no sistema educativo, até de demissão de alguns, do topo à base.
As constantes reclamações de eficiência e satisfação no trabalho comprovam a presença do “veneno da incompetência” nos diversos sectores públicos da nossa sociedade. Este fenómeno acontece em pleno século XXI, era em que existem muitas instituições de formação para diferentes áreas profissionais, cada uma arrogando-se estar na posse da capacidade de oferecer melhores serviços e formações de qualidade. Muitos são os quadros formados e graduados, mas poucos são os que sabem exercer com eficiência o seu trabalho.
A corrupção de que fala Mia Couto é um assunto sério. De facto, o pedido cancerígeno de “refresco em notas” no mercado de emprego e noutros sectores de interesse público faz dos nossos sectores profissionais covis de incompetentes.
Olhando para o cenário da falta de emprego, nos dias actuais, é possível constatar que muitas pessoas se encontram trabalhando nos ministérios, não por vocação, mas por refúgio profissional. Porque “na falta do melhor o pior serve”. Muitos profissionais da educação são simples refugiados, daqueles que tentaram ser enfermeiros, pedreiros, engenheiros, sem sucesso.
A falta de motivação salarial também está na raiz de tanta incompetência. Como é possível haver concentração diante das irregularidades da Tabela Salarial Única? Na verdade, quando o salário não compensa, morre também a vontade de trabalho sério.
A preguiça física e psicológica associada ao consumo de drogas é outro factor detrás destes erros gritantes de conteúdos nos livros e nos testes. Pois, muitos trabalhadores, até de alto escalão profissional, vivem de fumos e babalazas. E no comando de todo seu trabalho está a inconsciência do que fazem. No quadro da degradação académico-intelectual no nosso país, está a negligência de fazer reciclagem, posto que muitos não participam das capacitações, rejeitam quaisquer observações dos colegas, e primam por trabalhar segundo o seu coração coberto de véu de ignorância. Frutos concretos já começamos a colher, pois nenhum cego pode guiar outro cego.
Quem tem ouvidos, ouça!
Giovanni Muacua, 04 de Agosto de 2022