ESTUDAR EM MEIO A DISCRIMINAÇÃO, ESTIGMATIZAÇÃO E MITOS
ESTUDAR EM MEIO A DISCRIMINAÇÃO, ESTIGMATIZAÇÃO E MITOS
Ser uma pessoa com albinismo em Moçambique é um grande desafio, para além da questão de falta de pigmentação da pele que nos deixa vulneráveis a queimadura solar e consequentemente ao desenvolvimento do cancro da pele; a baixa visão; que nos agrega ao grupo de pessoas com deficiência, mas, manejável, que na sua maioria constitui a população de baixa renda na sociedade; somos também confrontados pelo dilema da discriminação, estigmatização e mitos, que muitas vezes tem levado aos raptos e assassinatos para fins satânicos, alegadamente por sermos fonte de riqueza e cura de doenças crónicas, constituindo assim um dilema para a nossa sobrevivência.
Ademais, ter baixa visão constituiu uma pedra no caminho de alguns educadores, professores, colegas e conhecidos, na qual, por suas vidas, turmas, mãos eu passei.
“Por várias vezes fui questionada porque continuo estudando se a minha visão não permite ir a lado nenhum?
Estás a estudar muito para quê, não vês que tens limitações!
Várias vezes fui dita, fica em casa, a escola é para quem enxerga!
Várias vezes fui dita, aqui não é o teu lugar, porque não vai a uma escola especial!”
Com certeza o fora dito, afectou-me como qualquer ofensa que nos é dirigida, todavia, as mesmas palavras não permitiram que morressem os meus sonhos e a força de enfrentar as minhas limitações e superar a mim mesma.
Por isso, ainda que tenha passado os anos a repassar os apontamentos de cadernos emprestados dos colegas, ter aulas extras, e muitas vezes não poder brincar livremente como outra criança qualquer devido a baixa visão, e na faculdade ter que enfrentar as longas filas para pegar chapas, as entrevistas dos cobradores, suportar as chuvas dentro do chapa My Love, aguentar o mau humor de alguns docentes e outros incompreensíveis em relação a minha baixa visão, e as noites mal dormidas correndo contra o tempo para concluir os inúmeros trabalhos, a gastrite e problemas estomacais desenvolvidos devido a longas horas sem se alimentar, se dedicando as bibliotecas e aos trabalhos da faculdade…
Eu nunca desisti, e a cada dificuldade vivida era um desafio para lutar e alcançar os meus objectivos.
Portanto, que as nossas limitações sejam um desafio para alcançar os nossos potenciais…sempre e nunca motivos para desistir e matar nossos sonhos.
Que a minha vontade de lutar e superar a mim mesma e os estímulos sociais, e alcançar os meus sonhos, só ganharam mais força e sentido, crendo, confiando e abraçando a maior de todas as forças: a de DEUS.
Com DEUS venci, e hoje sou Licenciada em Psicologia Clínica com Habilitações em Psicotraumatologia e Aconselhamento Psicodinâmico.
Não é o fim, mas início de uma longa jornada académica.
Joana Rosa Da Cruz
Psicóloga Clínica
Activista Social