“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo10,10)
Síntese pontual da NOTA PASTORAL CEM
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo10,10)
Cabo Delgado
… A continuação deste desumano sofrimento é inaceitável e frustra o sonho de sermos uma nação de paz, concórdia e independente, justa e solidaria. Por isso, devemos juntar todos os esforços para encontrar os caminhos de solução a esta desgraça, não confiando unicamente no uso da força militar. A todos os envolvidos nesta guerra queremos recordar as palavras do Papa Francisco: “O Deus da paz nunca conduz à guerra, nunca incita ao ódio, nunca apoia a violência. E nós, que cremos nele, somos chamados a promover a paz através de instrumentos de paz, como o encontro, pacientes negociações e o diálogo, que é o oxigénio da convivência comum”. (Discurso na visita ao Reino do Bahrein, Outubro 2022)
Jovens moçambicanos
… Sem garantir aos jovens a realização dos seus sonhos, a própria nação verá comprometida o seu sonho de ser protagonista do seu futuro.
Custo de vida
… No nosso País, apesar de sermos uma única família, as desigualdades sociais e económicas estão a criar uma brecha profunda. Por um lado, uma minoria endinheirada que se pode permitir todo tipo de luxo e, por outro, uma maioria empobrecida que nem o básico tem para sobreviver. São necessárias políticas corajosas que eliminem o crescente abismo existente entre irmãos. A mesma Tabela Salarial Única (TSU) que expressa o desejo de uma maior equidade, se não for bem gerida pode levar a convulsões sociais a exasperar o sentimento de desigualdade e injustiça. Sem a distribuição equitativa e justa de recursos e oportunidades, sem uma real inclusão social, a nossa paz e coesão social serão sempre ameaçadas. Nenhuma paz sobrevive a exclusões e a injustiças sociais.
A Corrupção
… No país instaurou-se uma cultura de corrupção chegando a pensar-se que é normal, que é assim que as coisas funcionam, que só pode ser assim. Faz-se descaradamente um uso privado dos recursos do país e de património publico, pondo os interesses pessoais ou de grupo acima do bem comum. A corrupção manifesta-se nas constantes “propinas” (“refrescos”) que se devem pagar aos servidores públicos para receber um serviço que é seu dever oferecer, no desvio de fundos públicos para fins e interesses privados, no nepotismo e clientelismo. A corrupção está na origem da dilapidação e destruição da riqueza e de todo o tecido social, mas o aspecto mais grave é que infiltrando-se nas instituições e no exercício do poder do estado compromete estruturalmente o projecto de um país livre, justo e solidário.
A avidez
… de que a corrupção é filha, por vezes leva a favorecer grandes projetos económicos de capitais estrangeiros, implantados para extrair recursos naturais sem um real e transparente envolvimento das populações interessadas. Milhares de famílias continuam a ser retiradas de suas terras férteis para dar lugar a esses investimentos, dos quais praticamente não tiram qualquer benefício.
Enfim
…. Convidamos todos a comprometermo-nos à conversão, à mudança de atitudes, a rejeitar qualquer forma de radicalismo, a superar a intolerância entre os grupos sociais, tribais, políticos, económicos, religiosos e raciais que nos dividem.
Acolhendo o Príncipe da Paz que se faz criança frágil no Natal, empenhemo-nos a nos aceitar-nos como irmãos, filhos do mesmo Pai o Criador.
Que Deus abençoe Moçambique
Pelos Bispos Católicos de Moçambique
Dom Inácio Saúre, IMC
Leia a Nota Pastoral na integra
Nota Pastoral Bispos Católicos de Moçambique Novem_221112_061228
UM REGRESSO PARA UM NOVO FUTURO OU UM REGRESSO AO PASSADO? – O RETORNO POPULACIONAL PARA O NORDESTE DE CABO DELGADO
por Dr. João Feijó do Observatório do Meio Rural (OMR)
Destaque Rural Nº 195
1 de Novembro de 2022
INTRODUÇÃO
Nas últimas semanas assiste-se à reabilitação de infra-estruturas e reabertura de serviços públicos, assim como ao regresso de dezenas de milhares de indivíduos para vários distritos do Nordeste de Cabo Delgado. Paralelamente, decretam-se amnistias e mediatiza-se a apresentação de desertores e arrependidos às populações locais, para posterior integração. Não obstante esta imagem de maior estabilização do território, persistem diversos ataques em vastas áreas do Norte da província, alastrando-se pequenas incursões para a zona Sul, ameaçando interesses mineiros em Montepuez. Movimentos de retorno das populações aos locais de origem coexistem com a chegada de novos deslocados aos centros de reassentamento do Sul da província.
Depois de descrever a situação de segurança em Cabo Delgado, o presente texto pretende analisar os movimentos populacionais e de reintegração socioeconómica nos locais de origem. Por fim, reflecte-se sobre o tipo de sociedade que se pretende reconstruir no Norte da província, e respectiva viabilidade para a estabilização do território. A reflexão resulta de entrevistas realizadas a professores, técnicos da saúde, de organizações não-governamentais, chefes de localidade, assim como indivíduos deslocados, residentes nos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Pemba, Nangade, Mueda, Muidumbe, Montepuez e Chiúre, realizadas em Outubro de 2022 na cidade de Pemba. Na análise foram também considerados dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Programa Mundial de Alimentação (PMA)…
Leia na integra o texto do Dr. João Feijó
DR-195-Um-regresso-para-um-novo-futuro-ou-um-regresso-ao-passado