Lembrando Dom Sebastião de Resende
Lembrando Dom Sebastião de Resende
Bom dia, Irmãos. 25 de Janeiro, Festa Litúrgica da Conversão de São Paulo. Neste dia, no ano de 1967, faleceu na Beira o grande Bispo missionário Dom Sebastião Soares de Resende, primeiro Bispo da Beira. Homem de visão larga, muito adiantado para o seu tempo. Nunca tendo estado antes em África e acreditando ingenuamente na teoria da missão evangelizadora e civilizadora de Portugal em África, logo à chegada em 1943 ficou chocadíssimo com a realidade que encontrou e logo passou a contestar em voz alta e por escrito.
Reprovou o indigenato, exigindo uma mesma cidadania para todos, Negros e Brancos, com o mesmo sistema de Educação e de Saúde, de Justiça, de Trabalho e Segurança Social.
Enquanto não o ouviam, fundou mais de 50 Missões pelo interior da Região Centro, toda ela sua Diocese, as Escolas de Formação de Professores de Boroma, Dondo e Inhamizua, o Seminário do Zobue, o Instituto Liceal Dom Gonçalo da Silveira, o Liceu João XXIII, os jornais Voz Africana, Economia de Moçambique (semanários) e Diário de Moçambique.
Promoveu a criação das Dioceses de Quelimane e de Tete. Em cada ano, publicava uma Carta Pastoral sobre temas de doutrinação social. Ficaram celebres “Hora Decisiva de Moçambique”, “Coordenadas Cristãs no Moçambique de hoje” e “Moçambique na encruzilhada”.
Em todas defendia as ideias acima e a Independência de Moçambique para todos, Negros e Brancos em pé de igualdade. Deu bolsas para estudos superiores no estrangeiro a dezenas de jovens moçambicanos, vários dos quais foram os primeiros dirigentes da Frente de Libertação de Moçambique e do País independente. Ficou célebre a frase que ele disse a um jovem que queria ir estudar para Lisboa em plena Luta Armada: “Com isto conseguido à força, qual será o lugar daqueles que nesse dia estiverem em Lisboa?”.
Doutorado em Filosofia pela Universidade Gregoriana, onde também se licenciou em Teologia, obteve também um Diploma em Ciências Sociais pela Universidade de Bergamo, onde foi contemporâneo do Cónego Roncalli, futuro Papa João XXIII com quem teria em 1960 um reencontro emocionante.
Salazar não o perseguiu directamente, mas mandou que fizessem de tudo para lhe dificultar a vida. Ao abrigo da Concordata, bloqueou a sua nomeação para Arcebispo de Lourenço Marques em 1962 e de Braga em 1965. Morreu cedo, a caminho dos 61 anos de idade e 24 de Bispo, vítima de um cancro no esófago que a medicina de então não conseguiu debelar.
A seu pedido, foi enterrado em campa rasa na estrada de acesso ao cemitério de Santa Isabel (Beira), para onde em idênticas circunstâncias foram Dom Altino Ribeiro de Santana (mais tarde trasladado para Angola, donde viera transferido) e Dom Jaime Pedro Gonçalves.
Que, pela misericórdia de Deus, a alma de Dom Sebastião Soares de Resende descanse em paz!
Ainda sobre Dom Sebastião, na Missa de corpo presente, o pregador, Dom Eurico Dias Nogueira, um declarado fã seu, disse – na cara do Governador-geral de Moçambique – que “Dom Sebastião era um Homem demasiadamente grande, para ser entendido por homens demasiadamente pequenos”!
(Benedito Marime)