Não sei se todos patos são como os do meu vizinho que quando chove acorrem às águas, mergulhando ao fundo. O tabu ocorre quando se retiram da água e se sacodem, que apenas sai poeira.
A imposição das cinzas é um mistério que nos introduz no tempo da Quaresma. Tempo favorável de renovar a alma, de prepara-la para Deus. A conversão a Deus e aos irmãos somente tem sentido salvífico nesta vida. A cinza que se nos impõe hoje significa penitência e mudança de comportamento, expressos em espírito de jejum, da oração e da esmola.
Do jejum da mentira, do egoísmo, da fofoca, do adultério, da avareza, do jejum de desenhar esquadrões de morte, da corrupção, da ladroagem, do alcoolismo, da inveja, de ciúme selvagem, e não de uma mera abstinência alimentar moldada nos escombros económicos de poupança.
Da oração sincera e verdadeira, um verdadeiro louvor a Deus, rezando por si, pelos amigos e inimigos, e não de uma simples acção da boca com medo de silêncio. Mas de uma conversa de coração humano para coração divino. Da esmola, um abrir a mão aos necessitados e coração para Deus.
Como os patos do meu vizinho, que quando saem do mergulho, ao se sacudirem sai mais poeira que água, há muitos cristãos que, depois da imposição das cinzas, o seu comportamento continua o mesmo: não vivem as práticas quaresmais do jejum, da oração e da esmola. São os verdadeiros patos das cinzas. O mundo os engana que esquecem que um dia todos havemos de morrer. Ocupam-se fazendo tudo em excesso, a ponto de viver como se Deus e o pecado não existissem.