Jovens: seiva da nação
Por Deolindo Paúa
Ser jovem não é apenas uma idade. Ser jovem é um modo de vida. É activismo. É ser agente de mudanças e de revoluções sociais, económicas e políticas. Os processos transitórios que acontecem na conjuntura cultural, social e política devem ter como agentes os jovens. A juventude faz sempre a força de uma nação.
Quanto mais jovens uma sociedade tiver, mais chance tem de estimular os seus processos de mudança. Os jovens, além de serem a maioria, também são os detentores da força física e mental capaz de estimular mudanças. A razão pela qual em todos os contextos e em todos os países as mudanças e as revoluções começaram ou tiveram mais força com o activismo juvenil é esta. Os jovens possuem as capacidades devidas para impor mudanças. Por isso é desperdício de capacidades quando jovens não participam nas acções construtivas de seus países. É triste quando jovens são agentes de desestabilização de uma sociedade. Quando são instrumento de opressão de uns aos outros. Quando ao invés de contribuir para o crescimento, contribuem para a desgraça da sua sociedade.
Em Moçambique
No caso do nosso país, uma juventude ao mesmo tempo apática e desinteressada com questões políticas cresce a cada dia. Quanto mais formados os jovens são, mais se distanciam da política. É incompreensível! Já é normal ouvir um jovem dizer: “não me interesso com a política. Assuntos políticos não são da minha conta!” A formação académica deveria estimular o sentimento moral, cultural e político. Mas se as universidades e escolas formam apenas cientistas, então formam pessoas incompletas porque estão desligadas daquilo para o qual devem fazer essa ciência. Nos outros países a formação académica predispõe os jovens a participarem politicamente nos assuntos de seus países. No nosso país, paradoxalmente, as licenciaturas e os doutoramentos criam-nos orgulho, mas um orgulho que induz ao desprezo da política. Crescemos intelectualmente, mas inversamente decrescemos em civismo e cidadania. Crescemos na ciência, mas ao mesmo tempo crescemos na apatia política. E como se fosse algo normal, vergonhosamente achamos nossa ignorância política ser luxo. A prova disso é que as grandes manifestações para exigir mudanças políticas e de gestão, as eleições e a exigência de direitos não são participadas pelos jovens. Corremos o risco de algum dia, realmente, deixarmos o tirano nos escravizar, se é que ainda não deixamos!
Olhar ao alto
Que caminhos precisamos depercorrer? Se somos uma sociedade, então precisamos de tomar o leme do nosso destino. Abandonar nosso destino como país a um grupo de políticos é arriscado demais, pior quando duvidamos da ideologia desses políticos. O país não é dos políticos, mas nosso. Os políticos são apenas indivíduos a quem emprestamos o poder para resolverem nossos assuntos em nosso nome. Julgo que a melhor acção seria a de usarmos nossas capacidades intelectuais para operar mudanças. Aquelas mudanças que gostaríamos de ver operadas para melhorar a qualidade da nossa vida.
Nenhum país se desenvolveu com pessoas conformadas com o pouco. Como jovens formados, sabemos que a vontade natural de nossos políticos é de se aproveitar de nossas distracções como povo para tirar proveitos individuais ou de grupos. Sem nós, eles nunca mudarão o esquema das coisas para orienta-las ao real bem-estar de todos nós.
As mudanças não precisam de guerras
A história demonstra que as mudanças políticas foram operadas só por meio de uma pressão necessária a quem detém o poder. Fora da ordem de participação e de influência de jovens nos processos políticos jamais poderemos esperar a melhoria das coisas. Eleger, reclamar, criticar quando algo não está bem, denunciar quando algo é mal feito, resistir quando alguém nos usa para finalidades contrárias à ordem social, etc., continuam sendo as simples, mas as melhores acções que estimulam mudanças sociais e políticas. Nos nossos dias, mudanças não precisam de guerra, mas de uma sociedade crítica consciente de seu destino.
Cidadania tem consciência
Fazer política não tem a ver apenas com pertencer a algum partido político. Fazer política é também consciência de cidadania. Uma cidadania em que pelo uso da sua liberdade constitucional, um indivíduo é capaz de usar os meios ao seu dispor para impor a justiça negada a muitos. É ridículo um jovem professor influenciar fraudulentamente um processo eleitoral; é triste um jovem polícia corromper um automobilista na estrada. É caricato um jovem enfermeiro ser exemplo de mau atendimento nos hospitais públicos; assim como é escandaloso um jovem académico defender facções corruptas do sistema político em troca de somas de dinheiro. Vender a própria consciência é o acto mais baixo que pode caracterizar um jovem. Para levar a cabo todas as acções de mudança e de dinamismo social temos a liberdade. Cabe a nós saber usá-la.
Violência não resolve
No drama em que vivemos no nosso país, mergulhados na injustiça e no terror, precisamos agir. Conscientes de que tudo depende de nós como jovens, podemos escolher entre ser indiferentes como temos sido até agora, e assistir ao progresso unilateral de um grupo por meio do sacrifício de muitos, ou então utilizarmos nossas capacidades, abandonar a cobardia e o auto-interesse e partirmos para a acção. Jamais a violência criou desenvolvimento. Nunca a violência se identificou com cidadania. A acção que referimos é a de uma cidadania civilizada que nos pode conduzir à construção de um país realmente de justiça social que almejamos.