Comportamento violento no ambiente escolar
Por Dr. Graciano Armando
A escola é o local destinado a aprendizagem, não só da ciência como também da “vida”. É sabido que a família tem uma grande responsabilidade na educação primária dos filhos, e a escola tem esta nobre tarefa de complementar. E educar implica também demonstrar com as próprias atitudes (exemplos), sejamos professores assim como a família (a base da educação). Seja a escola assim como a família devem ser concebidas como locais de promoção da ética e moral que irão traduzir-se na boa saúde física e mental e, consequentemente na prevenção de comportamentos desajustados que se traduzem em violências.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), no seu Relatório de 2002, define a violência como o uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, ou seja qualquer possibilidade que resultar em uma lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.
E ainda, no mesmo Relatório, entende-se que a violência é compreendida como um problema de “saúde” pública e assim pode ser concebida como qualquer acção intencional, perpetrada por indivíduos, grupos, instituições, classes ou nações dirigida a outrem, que cause prejuízos, danos físicos, sociais, psicológicos e/ou espirituais.
A violência surge em contextos e situações nem sempre bem identificados. Neste contexto, torna-se fundamental uma intervenção educativa, não só dirigida aos jovens, adolescentes ou crianças, mas a todos os cidadãos, envolvendo todas as camadas sociais, pois todos, enquanto sociedade global, somos chamados a intervir e contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária, com princípios humanos e morais, e tudo isso é possível com base em uma educação aprimorada e bem apostada.
A violência no contexto geral e nas escolas em particular, não é um fenómeno recente e tem estado presente nas nossas experiências quotidianas. Através da mídia, em conversas emcírculos de amigos, nos transportes públicos e até mesmo, constantemente, nas próprias escolas há muito debate em volta disso. Aliás, até mesmo na prática.
O violento é o que é contrário ao direito e à justiça, pois a origem da palavra violência é latina, para designar o que é violento ou bravio, força. Consequentemente o verbo violare(latim) significa tratar com violência, profanar, transgredir. (Leia-se em quaisquer dicionários enriquecidos da língua portuguesa). Por isso, quem pratica violência está perante a transgressão da lei moral de convivência social. Pratica a injustiça ao não reconhecer o direito que o outro tem de viver livre de qualquer atitude que o crie dano físico, psicológico e moral.
Portanto, a violência é todo acto de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém. Para dizer que faz parte de violência forçar a vontade do outo. Implica o não reconhecimento da sua liberdade. O mais importante aqui é não confundir o sentido do termo “liberdade” com “libertinagem”.
Tipologias e contornos de violência
É certo que a violência escolar seja um fenómeno que ocorre em contexto escolar e que seja uma problemática antiga, mas actualmente vem tomando proporções assustadoras. Muita coisa motiva para o facto de maximização da violência e de seus modelos: (muita exposição de acções de violência frente às crianças, muita disponibilidade de jogos violentes e de vídeo-games similares incluindo as novelas, os filmes de guerra e outros, conflitos familiares na presença das crianças, se quisermos perceber que toda acção do adulto é modelo para as próprias crianças).
A violência no geral, e escolar em particular, pode ser, ainda, entendida como toda a conduta que é destinada a magoar outra pessoa, física, moral e/ou psicologicamente, resultante de um sentimento de frustração, onde o indivíduo procura obter algo, coagir outrem, demonstrar domínio e poder sobre o outro que ele mesmo elege como sua vítima. Este tipo de violência exprime-se ainda em comportamentos agressivos (físico, psíquico e moralmente) e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao património e actos criminosos de várias ordens.
Muitas dessas situações são dependentes de factores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e da capacidade das entidades do sector da Educação e de seus funcionários e mesmo além da família – situações extremamente difíceis. Porém, percebe-se que não apenas os alunos, mas também os professoresestão sujeitos a situações de violência no ambiente escolar, umas vezes como vítimas outras vezes como protagonistas, é claro.
No que concerne à violência escolar, importa antes de mais considerar que o tal acto ocorre quando um ou mais alunos passam a perseguir, a intimidar, humilhar, chamar por nomes cruéis e maldosos, excluir, ridicularizar, demonstrar comportamento racista, de exclusividade, regionalista, preconceituoso etc. assim como agredi-lo fisicamente. Uma e outra destas situações também praticadas pelos professores está na mesma senda.
A violência no geral e no ambiente escolar em particular, interfere de maneira significativa e negativamente na vida dos que nela estão envolvidos, por ser um fenómeno que afecta ao nível psicológico, o que é mais complexo quando se trata de crianças ou adolescentes que ainda não possuiem discernimento para reagir a determinadas situações.
Estando envolvidos com situações dessa natureza, tanto os vítimas assim como os protagonistas tendem a desligar-se dos estudos, resultando em prejuízos na aprendizagem, o pior dos quais o baixo rendimento escolar. E ainda com mais danos psicológicos como alterações de humor, baixa atenção nas aulas, perda de interesse pelos estudos, faltas às aulas ou recusa escolar, baixa auto-estima e muito mais situações desagradáveis que podem levar os indivíduos a suicídio ou homicídios, até mesmo desvio à normas morais sociais (marginalidade).
Hoje em dia há muitas situações de marginalidade ou criminalidade nos jovens. E, ultimamente muita reportagem televisiva e mesmo nos jornais ou redes sociais mostra a grande “migração” da criminalidade para a adolescência. E um dos questionários é: O que está a acontecer? E aí a resposta pode tardar a chegar. Mas sabe-se que a falha no processo da educação é um dos maiores problemas, porque a adolescência é a base de aprimoramento escolar.
Precisamos de apostar na educação. Profissionais, governantes e a sociedade em geral, apostar na educação! A educação é a base para o desenvolvimento intelectual, social, económico, psicológico, ético-moral, (…). Levantar a mão para fazer mal ao outro é uma questão básica de falta de educação. Precisamos de investir na educação nesse sentido. Entretanto, investir na educação não com elegantes discursos políticos mas falaciosos, nem renomadas retóricas somente para comover as massas populares enquanto cada vez afundamo-las no analfabetismo pintado de académico. É preciso investir com acções concretas, na realidade e com um espírito e sentimento patriótico.