Jovem morre, depois de espancamentos da Polícia num Posto de Recenseamento, na cidade de Nampula
Um Jovem morreu no último sábado, a caminho do Hospital, depois de ter sido espancado pela polícia no posto de recenseamento eleitoral do Centro Hípico, na Cavalaria, bairro de Carrupeia na cidade de Nampula.
De 29 anos de idade, o jovem dirigiu-se ao Posto de Recenseamento Eleitoral depois das festas de 01 de Maio, dia do trabalhador, com intuito de se recensear.
Porque a fila era longa, tentou se infiltrar nela, mas outros cidadãos não permitiam e foi acionada a força policial para intervir.
No lugar de a polícia manter a ordem e tranquilidade no local, como é sua obrigação, levou o jovem, que ainda mostrava ressacas das festas, para o interior dos escombros onde funciona o posto policial do Centro Hípico, onde foi torturado e encarcerado.
O jovem ficou encarcerado naqueles escombros todo dia e que viria a ser liberto dia seguinte, depois de a polícia ter notado que a sua vítima estava inconsciente e que a sua vida estava “por um fio”.
Chegado a casa, o jovem que em vida era vulgarmente conhecido por Induiqui, não quis revelar o sucedido aos seus pais, tendo dito apenas que estava com dores de todo o corpo.
A situação do malogrado viria a piorar na noite da última sexta feira, devido a uma hemorragia interna.
Quando os pais pensaram em levá-lo para cuidados médicos, já era tarde. Morreu, a caminho do hospital.
António Américo Nichalamua, é pai do finado que o encontramos a preparar o corpo do filho, na morgue do Hospital Central de Nampula, para levá-lo à sua última moradia.
“Como pai estou muito sentido, porque perdi meu filho por uma situação difícil de explicar, se ele estava sob efeitos de álcool, não podia ser torturado”. – disse Américo, opinando que “a polícia devia retê-lo num sítio, sem o espancar, até que voltasse a sua consciência normal, para provavelmente, ser responsabilizado pela alegada desordem que provocou naquele local”.
Acrescentou duvidando sobre qual tem sido o tipo de preparação das forças de Lei e ordem para casos dessa natureza, durante a formação.
Ficou claro que a morte do Jovem Induiqui, cujos restos mortais foram a enterrar esta terça-feira, 09 de Maio, tem como antecedentes, os espancamentos que sofreu pelos membros da polícia, que no dia 01 e 02 de Maio, estavam a guarnecer o Posto de recenseamento eleitoral do Centro Hípico, Cavalaria, bairro de Carrupeia.
Na casa onde vivia o malogrado, na Cavalaria, que segundo informações era membro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, deparamo-nos com um ambiente desolador.
A irmã do finado, não conseguiu esconder a tristeza que lhe agride, por saber que seu irmão saiu de casa saudável, regressou com dores das costelas, para depois aparecer no caixão.
“Ele ficou doente dois dias e perdeu a vida a caminho do hospital. Estamos muito tristes por saber que as dores foram provocadas por chambocos da Polícia do Centro Hípico, por alegadamente o meu irmão ter criado um ambiente de agitação quando queria se recensear”. – Lamentou com lágrimas no olho a irmã mais nova do malogrado.
Damar Amade, vizinho do senhor António Américo, condena a atitude da Polícia, numa altura em que as pessoas precisam de se recensear para cumprirem com seu dever cívico.
“As pessoas estão a se recensear para escolherem o futuro presidente dos municípios e o que a polícia está a fazer, em quase todos os postos de recenseamento, não é normal”. – frisou Amade, acrescentado que ele e sua família está com medo de se dirigir a um posto de recenseamento, porque segundo ele, “este ano, o processo está muito complicado e a policia está a matar”.
“Essas são evidências claras de que muita gente poderá morrer durante o processo em curso, caso a polícia não mude de comportamento”. – anotou com ar triste o nosso entrevistado.
A Polícia ainda não se pronunciou sobre este sucedido, se calhar para encobrir, apesar de deixar uma família inteira abalada, e se calhar, sem coragem de ir se recensear, o mesmo acontecendo com os órgãos eleitorais, que também continuam no silêncio.
Aliás, o Porta voz da PRM em Nampula, Zacarias Nacute, disse à imprensa na última segunda feira, 08/05, que não foram registados casos de ilícitos eleitorais neste município, nem ambientes de agitação que merecessem intervenção da corporação.
Por Elísio João