Retorno de um Missionário ao serviço do seu povo
Dom Osório Sitora Afonso, ordenado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Maputo em Janeiro,
compartilha a sua jornada de fé e revela as surpresas de Deus na sua vida consagrada ao
serviço da Igreja. Numa entrevista a RTE (Rádio e Televisão Encontro), Dom Osório fala sobre a
sua ordenação episcopal, expressando a surpresa inicial diante da decisão do Papa.
“Eu nunca teria imaginado que um dia seria nomeado bispo, porque estive fora de
Moçambique por 26 anos. Depois dessa notícia, fiquei surpreso como Maria ficou depois do
anúncio do Anjo” assim foi a sua primeira reacção depois da nomeação pelo Papa Francisco.
Dom Osório (DO) é natural de Iapala, Distrito de Ribáuè, e paroquiano da Sé Catedral de
Nampula. Ele descreve o seu percurso vocacional nestes termos: “sempre me envolvi com os
trabalhos da Igreja, desde a catequese até aos grupos de jovens, culminando com a sua
chamada ao sacerdócio ministerial que aconteceu durante uma encenação teatral organizada
pelo falecido Pe. Bento Nogueira na paróquia de S. João de Deus de quem está em curso a
causa de beatificação.
RTE – Dom Osório, quer partilhar o seu percurso académico-vocacional?
DO – A minha jornada vocacional começou na Paróquia da Catedral, em Nampula, onde cresci
na fé e fui influenciado por líderes religiosos que me encorajaram a tomar em conta a vocação
ao sacerdócio. Depois de participar das actividades paroquiais e vocacionais, ingressei-me no
Seminário da Consolata, em Maputo, a 29 de Janeiro de 1991.
Questionado sobre a sua transição do palco teatral para o Seminário, D. Osório referiu que foi
pela experiência teatral que ele encontrou uma nova forma de expressar a sua fé e ganhou a
consciência crítica. O prelado destacou o seu compromisso de ser uma voz crítica em prol do
povo, especialmente após anos de serviço missionário.
RTE – Como se deu a sua transição de actor teatral para seminarista?
DO – A minha experiência teatral foi uma parte importante da minha jornada vocacional, pois
me levou a reflectir sobre as questões sociais e morais. Ao entrar no Seminário, continuei a
cultivar a minha consciência crítica e o meu compromisso com o serviço pastoral.
RTE – Como se sentiu ao receber a notícia da nomeação para Bispo Auxiliar de Maputo?
DO – Eu nunca imaginei que um dia seria nomeado bispo, especialmente depois de tantos
anos fora de Moçambique. Fiquei surpreendido, assim como Maria ficou surpreendida ao
receber o anúncio do arcanjo Gabriel para ser Mãe do Salvador.
Sobre o seu retorno a Moçambique após 33 anos como missionário, Dom Osório atribui a sua
adaptação à disposição psicológica e espiritual para enfrentar os novos desafios. Ele
compartilha a sua experiência noutros países como Congo, onde enfrentou barreiras
linguísticas e contextos de guerra.
RTE – Como conseguiu lidar com os desafios de estar fora de Moçambique por tanto tempo
para depois retornar ao serviço do seu povo?
DO – A minha fé em Deus e a minha disposição para enfrentar desafios foram fundamentais
durante a minha jornada missionária. Agora, estou a preparar-me para enfrentar os desafios
que surgirem na minha nova missão como Bispo Auxiliar, confiando sempre na graça de Deus
para me guiar.
Versando sobre o seu papel como Pastor, o entrevistado enfatizou a importância de estar
próximo ao povo e seguir o exemplo do Papa Francisco que indica a realização duma “Igreja
em saída”. Outrossim, sublinhou a sua experiência de trabalhar com comunidades locais e a
sua determinação de fazer crescer a Igreja através do serviço e a proximidade com as pessoas.
RTE – Atendendo à sua experiência missionária, qual será o seu foco pastoral na Igreja
moçambicana?
DO – A minha experiência no Congo e em Roma, me ensinou a importância da inclusão e do
serviço próximo ao povo. Pretendo trazer essa perspectiva para a minha nova função como
Bispo, trabalhando para promover o crescimento espiritual e social da Igreja local.
Ao serviço da sua comunidade, após décadas de missão em terras distantes, D. Osório traz
consigo não apenas experiência, mas também um compromisso renovado de fortalecer a
Igreja e guiar o seu rebanho com amor e sabedoria.
BOX
A missa da ordenação episcopal foi presidida pelo cardeal Luís António Tagle, Pro-Prefeito pelo
dicastério da Evangelização, que recordou a dom Osório que o ministério sagrado que recebeu
não foi para com ele ganhar popularidade pessoal, muito menos usar a palavra de Deus para
ganhar títulos e benefícios individuais porque isso “Isso destrói a autoridade divina no líder,
isso é hipocrisia e a hipocrisia leva à manipulação das pessoas e à negligência dos pobres. Os
demónios têm medo de Jesus, e dos verdadeiros servos de Deus, contudo, os demónios
continuam a procurar os líderes para semear a hipocrisia e a vaidade”.