Crónica: Flores incineradas, destruição das novas gerações
O Papa Francisco nunca se contentou com o clima actual que se vive nos diferentes pontos do mundo. Um clima marcado por conflitos de gerações, em que os jovens olham para os idosos, os mais velhos, como pessoas ultrapassadas e desajustadas para os tempos actuais, e estes, por sua vez, olham os mais novos, os jovens, como pessoas desprovidas de experiência de vida e que nada têm que dizer-lhes mas apenas escutar os seus conselhos.
“Os idosos fornecem a memória e a sabedoria da experiência, que convida a não repetir tontamente os mesmos erros do passado. Os jovens chamam-nos a despertar e a aumentar a esperança, porque trazem consigo as novas tendências da humanidade e abrem-nos ao futuro, de modo que não fiquemos encalhados na nostalgia de estruturas e costumes que já não são fonte de vida no mundo actual” (Papa Francisco, 2013, Evangelii Gaudium, 108).
Paulo Freire, grande pedagogo na história da educação, referira em sua obra Pedagogia do oprimido que “o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos” (Freire 1994, p. 44). É uma alusão clara que na relação mais velhos e mais novos cada um tem algo a ensinar e a aprender e, portanto, ninguém é papel em branco. Uma realidade inequívoca.
Mais preocupante é o modo como alguns mais velhos preparam as futuras gerações. Uma preparação desastrosa, um túmulo para o futuro desta sociedade líquida. De que maneira é que tudo isto acontece nas famílias e nas escolas?
As novas gerações já carregam espinhos venenosos desde o ventre materno. E a psicologia defende que as atitudes dos pais influenciam em algo na vida dos filhos antes do seu nascimento, no ventre materno. Aliás, “não há árvore boa produzindo mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto” (Lc 6,43).
Que futuro se espera de filhos com país e mães que passam a vida chorando de ciúmes uns aos outros? Geração de ciumentos, divorciadores e divorciados!
Que futuro terá uma sociedade onde os encarregados de educação mandam os filhos roubar as canetas dos colegas na sala de aulas? Geração de ladrões e prisioneiros!
Que se espera de filhos com país que os fazem de cachichas para facilitar a realização dos seus anseios viciados e afectos passionais desregrados? Geração de vadios e vampiros, habitantes dos semáforos e quartos dos vaivéns e cadeias!
Que futuro se espera de filhos com pais e mães que os mandam em tenra idade aos mercados, não para a compra de comida, mas de cigarros e primeirinhas, no vulgo “mwakheni mwalo?”. Geração de fumadores, surumáticos e bêbados, residentes nas barracas e cadeias!
Que futuro se espera de filhos que a toda a hora e a todo o momento assistem a lutas dos pais, escutam as suas discussões e insultos? Geração de terroristas, desrespeitosos e lamurientos.
Que futuro se pode esperar de alunos com professores que não preparam lições confiando apenas em enganar a inocentes? Foi ao pòr do sol do dia 01 de Junho (2024) que me vi na obrigação de cumprir as minhas tarefas profissionais na cidade de Nampula. Chegado à rotunda do aeroporto não perdi a oportunidade de contemplar a criançada em festa.
Fiquei comovido ao ouvir cantos de alegria das crianças que volviam do jardim. Não tardei em conversar com algumas delas para ouvir como iam passando o seu dia. Mas, a resposta que uma delas me deu, quando lhe perguntei que significava 01 de Junho, deixou-me apavorado: “o professor disse na escola que hoje é dia internacional da criança africana”. Meu Deus, meu Deus! E o que viria a ser o dia 16 de Junho? Que futuro se espera destas crianças? Geração de doutores burros e ignorantes que vivem como estrangeiros no seu próprio país!
Que futuro se espera de filhos com pais corruptos e lambe-botas? Afundadores e endividadores do país e destruidores da paz e da nação inteira!
Prezava o saudoso líder de Moçambique, Samora Moisés Machel, que “as crianças são flores que nunca murcham”. Em contrapartida, o cenário actual em que se encontram muitas crianças é deveras preocupante. Há muitos murchadores de crianças, que são as futuras gerações. Crianças mal-educadas, empobrecimento de toda a sociedade. É todo o mundo no túmulo. Como diz um adágio popular, “é de pequenino que se torce o pepino”. A juventude deve ser encarada como “o presente e futuro desta sociedade” (Papa Francisco, 2019).
Não nos limitemos apenas a lamentar-nos com o mal-estar da sociedade actual, pois quem planta este mal-estar somos nós próprios na confiança de culpar os outros. Busquemos sempre construir um mundo melhor, formando e escutando os anseios das novas gerações. É o papel próprio de todos nós: pais, encarregados de educação, governo, escolas, líderes comunitários e igrejas.
Quem tem ouvidos, ouça!
Por: Giovanni Muacua