Campanhas eleitorais com maturidade
No próximo mês de Outubro iremos a mais um processo eleitoral. Volvidos cinco anos, agora chegou a oportunidade de escolher os nossos governantes. É uma festa cujo anfitrião é a nossa soberania como moçambicanos. Essa festa só será completa se agirmos como cidadãos de um país preocupado em encontrar a melhor pessoa para a governação. Numa das edições passadas desta revista escrevi que como povo, não aprendemos ainda a viver em democracia. Do ponto de vista da cidadania que vivemos pode se perceber que a democracia, da forma como a entendemos, infelizmente consiste apenas em votar a cada ciclo de cinco anos. Mas mesmo nesse exercício de votar, votamos mal. Nota-se que quando temos a oportunidade de escolher novos governantes, se não votamos por vingança, pelo menos fazemo-lo por tradição, por hábito.
Chamo de voto por vingança aquele em que as pessoas, descontentes com algum acontecimento que tenha sido perpetrado por quem está no poder, votam no candidato contrário. As pessoas votam num candidato não porque seja o melhor, mas apenas para dizer ao seu opositor que não gostaram do que tenha feito. Por isso, este voto nem sempre tem sido pelo melhor manifesto, mas serve apenas de castigo ao candidato que não satisfez em alguma coisa aos cidadãos. O voto por tradição é aquele dado a um candidato ou partido habitual. Neste, as pessoas também não se importam com o manifesto, mas apenas importam-se no seu partido que é aquele em quem votam sempre. A coisa em comum é que os dois tipos de voto são cegos porque não partem da análise prévia dos manifestos, mas de uma convicção pessoal do passado. Eu não recomendo este tipo de votos porque são apegados ao passado. O melhor voto é aquele feito com foco no futuro, por isso o melhor cidadão e o que mais entende de democracia é aquele que elege o candidato e o partido que apresenta a melhor e ideia e propõe as melhores acções para o desenvolvimento.
Melhor atitude dos cidadãos em momentos eleitorais
Era bom que todos os cidadãos, antes de eleger, acompanhassem o período das campanhas políticas, para compreender os manifestos eleitorais de cada candidato e depois tomarem uma decisão sobre quem votar. A cidadania e o exercício democrático consistem em dar poder a aquele que oferece garantia de que vai resolver os problemas que achamos ser reais para a melhoria da vida dos moçambicanos. Isso implica participação política. Mas implica também, sobretudo, a capacidade que os partidos devem criar para produzir um manifesto realista, abrangente e perceptível por todos. Um dos maiores problemas da qualidade das nossas eleições é que os partidos vão às campanhas eleitorais sem projecto de governação, apenas para improvisar.
Esse problema leva a que as campanhas sejam um exercício vazio de objectivo. É por isso que muitas vezes, depois de ganharem as eleições, muitos detentores de poder não sabem o que fazer, nem como fazer. Por falta de programa de governação para exibir durante tais campanhas, muitos partidos, para convencer os eleitores, perdem-se invocando factos aparentemente gloriosos do passado que muitas vezes são irrelevantes para a juventude de hoje que não os viveu; outros partidos gastam dinheiro e tempo enumerando e criticando os erros dos outros; outros ainda circulam aos bailes, aos espectáculos, distribuindo bens e dinheiro, promovendo concursos de vária ordem, etc., mas sem nada de concreto a dizer. Estas práticas todas dissimulam o verdadeiro sentido da campanha eleitoral e induzem aos cidadãos distraídos a pensar que o melhor partido é o que fez mais espectáculos, ou o que mais camisetes distribuiu, ou talvez aquele que soube seleccionar e criticar os erros de seus adversários políticos, ou o que sabe falar de forma coerente e com rigor linguístico.
A melhor campanha eleitoral e a melhor escolha
Durante o processo eleitoral deste ano esperamos que todos entendam que o melhor partido político deve ser aquele que dentre muitos, sabe elaborar um bom projeto de governação. Um bom projeto de governação não deriva de demagogias e pessimismos. Parte da identificação dos principais obstáculos de desenvolvimento e concebe as principais acções concretas para a sua implementação. De fato, todos conhecemos os problemas que Moçambique enfrenta. Por isso, podemos considerar imaturo o partido que faz uma campanha narrando e apregoando problemas. O que Moçambique precisa e os cidadãos estão cansados de clamar por isso é a estratégia técnica para combater os males que impedem o progresso do país. Só quem sabe como e o que fazer para Moçambique desenvolver pode ser a melhor escolha. Como identificar tal candidato e tal partido? Escutando e acompanhando as campanhas eleitorais de todos os candidatos, sem preconceitos.
É importante que todos participemos do processo eleitoral, partidos e cidadãos. Mas participemos de forma consciente. A campanha eleitoral não pode ser um momento de divisão e de combate mútuo. Deve ser, sim, um momento de união e de diálogo entre todos os moçambicanos para oferecer ao país a melhor opção para a governação inclusiva. Nas eleições, com a melhor escolha todos saímos beneficiados; com a péssima escolha só aqueles que estão directamente ligados ao partido sairão beneficiados.