Esperar e agir com a criação

“Esperar e agir com a Criação”: é o tema para o Tempo da Criação de 2024, a celebração cristã convocada cada ano para rezar e responder ao clamor do planeta, que ocorre entre 1º de Setembro, dia da Criação, e 4 de Outubro, dia de São Francisco de Assis.
O tema que guiará o evento de 2024 é “As primícias da esperança”, inspirado na Carta aos Romanos (8,19-25). “Os tempos em que vivemos mostram que não nos relacionamos com a Terra como um presente do nosso Criador, mas como um recurso a ser utilizado. “A Criação sofre” devido ao nosso egoísmo e acções insustentáveis que a prejudicam, mas “nos ensina que a esperança está presente na espera, na expectativa de um futuro melhor”.
A mensagem do Papa para esta ocasião nos lembra que «Toda a criação está implicada neste processo de um novo nascimento e, gemendo, espera a libertação: trata-se de um crescimento escondido que amadurece, como “um grão de mostarda que se transforma numa grande árvore” ou “o fermento na massa” (cf. Mt 13, 31-33)… Porquê há tanto mal no mundo? Porquê tanta injustiça, tantas guerras fratricidas que provocam a morte de crianças, destroem cidades, poluem o ambiente em que vive o homem, a mãe terra, violada e devastada? Referindo-se implicitamente ao pecado de Adão, São Paulo diz: «Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente» (Rm 8, 22). A luta moral dos cristãos está ligada ao “gemido” da criação, porque ela «foi sujeita à destruição» (v. 20).
Na esperançosa e perseverante espera do regresso glorioso de Jesus, o Espírito Santo mantém vigilante a comunidade dos fiéis e instrui-a continuamente, chamando-a à conversão dos estilos de vida, a resistir à degradação humana do meio ambiente e a manifestar aquela crítica social que é, em primeiro lugar, testemunho da possibilidade de mudança…
Esperar e agir com a criação significa, antes de mais, unir forças e, caminhando juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade, ajudar a «repensar a questão do poder humano, do seu significado e dos seus limites. Com efeito, o nosso poder aumentou freneticamente em poucas décadas. Realizamos progressos tecnológicos impressionantes e surpreendentes, sem nos darmos conta, ao mesmo tempo, que nos tornámos altamente perigosos, capazes de pôr em perigo a vida de muitos seres e a nossa própria sobrevivência…
A salvaguarda da criação não é apenas uma questão ética, mas é eminentemente teológica: na realidade, diz respeito ao entrelaçamento entre o mistério do homem e o mistério de Deus. Este entrelaçamento pode dizer-se que é “generativo”, na medida em que remete para o ato de amor com que Deus cria o ser humano em Cristo.
Esperar e agir com a criação significa, então, viver uma fé encarnada, que sabe entrar na carne sofredora e esperançosa das pessoas, partilhando a expectativa da ressurreição corporal a que os fiéis estão predestinados em Cristo Senhor. Em Jesus, o Filho eterno na carne humana, somos verdadeiramente filhos do Pai. Pela fé e pelo baptismo, começa para o cristão a vida segundo o Espírito (cf. Rm 8, 2), uma vida santa, uma existência como filhos do Pai, à semelhança de Jesus (cf. Rm 8, 14-17), visto que, pela força do Espírito Santo, Cristo vive em nós (cf. Gl 2, 20). Uma vida que se torna um cântico de amor para Deus, para a humanidade, com e para a criação, e que encontra a sua plenitude na santidade».
BOX
Atitudes para a vida quotidiana
Cuidar da casa comum
“Promover a solidariedade global, tendo em conta que a biodiversidade é um bem comum, que requer um compromisso partilhado; colocar no centro as pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo as mais afectadas pela perda de biodiversidade, como os povos indígenas, as pessoas mais idosas e os jovens”. (Papa Francisco)
Que gestos concretos queres fazer para cuidar do espaço que habitas, que também é o dos teus irmãos e o da criação inteira?
Escutar a dor
“O grito amargo da criação, escutemo-lo e respondamos com actos, para que nós e as gerações futuras possamos continuar a alegrar-nos com o doce canto de vida e esperança das criaturas”. (Papa Francisco)
Contempla, na dor do meio ambiente e dos irmãos, a oportunidade de fazer algo por eles. O que está ao teu alcance?
Cuidar da vida (ar, água, seres vivos)
“Viver a vocação de protectores da obra de Deus é parte essencial duma existência virtuosa. Não é algo opcional, nem um aspecto secundário da experiência cristã”. (Papa Francisco)
Expressas a tua fé e a tua relação com Deus cuidando e protegendo a natureza e as pessoas que Ele te confiou?
Comprometer-se pessoalmente
“Como pessoas de fé, sentimos, além disso, a responsabilidade de agir, no nosso dia-a-dia, em consonância com esta necessidade de conversão, que não é apenas individual”. (Papa Francisco) Escreve um propósito que manifeste o teu desejo de cuidar do meio ambiente e das pessoas que Deus te confiou.
Mobilizarmo-nos com outros
“A conversão ecológica necessária para criar um dinamismo duradouro de mudança é também uma conversão comunitária … Trata-se de ‘converter’ os modelos de consumo e produção, bem como os estilos de vida, numa direcção mais respeitadora da criação e do desenvolvimento humano integral de todos os povos presentes e futuros”. (Papa Francisco)
Há algo na tua maneira de consumir que possas melhorar, para não gerar resíduos nem gastos prejudiciais para a natureza e para os outros?