CONTO AFRICANO: O Rato e o Caçador
Por: Padre Isac Jacinto Velica
Antigamente havia um caçador que usava armadilhas, abrindo covas no chão. Ele tinha uma mulher que era cega e tivera com ela três filhos. Um dia, quando visitava as suas armadilhas, encontrou-se com um leão: — Bom dia, senhor! Que fazes por aqui no meu território? (perguntou o leão) — Ando a ver se as minhas armadilhas apanharam alguma coisa, respondeu o homem. — Tu tens de pagar um tributo, pois esta região pertence-me. O primeiro animal que apanhares é teu e o segundo será meu e assim sucessivamente.
O homem concordou e convidou o leão a visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma presa, uma gazela. Conforme o combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas. Passado algum tempo, o caçador foi visitar os seus familiares e não voltou no mesmo dia. A mulher, necessitando de carne, resolveu ir ver se alguma das armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas, caiu numa delas com a criança que trazia ao colo. O leão que estava à espreita entre os arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou à espera que o caçador viesse para que este lhe entregasse o animal, conforme o contrato.
No dia seguinte, o homem chegou a sua casa e não encontrou nem a mulher nem o filho mais novo. Resolveu, então, seguir as pegadas que a sua mulher tinha deixado, que o guiaram até à zona das armadilhas. Quando aí chegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leão, lá de longe, exclamou ao ver o homem a aproximar-se: — Bom dia amigo! Hoje é a minha vez! A armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. Já tenho os dentes afiados para os comer! — Amigo leão, conversemos sentados. A presa é a minha mulher e o meu filho. — Não quero saber de nada. Hoje a caçada é minha, como rei da selva e conforme o combinado, protestou o leão.
De súbito, apareceu o rato. — Bom dia titios! O que se passa? Disse o pequeno animal. — Este homem está a recusar-se a pagar o seu tributo em carne, segundo o combinado. — Titio, se concordaram assim, porque não cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, mas deves entregá-los. Deixa isso e vai-te embora, disse o rato ao homem. Muito contrariado, o caçador retirou-se do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leão. — Ouve, tio leão, nós já convencemos o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como é que a mulher foi apanhada. Temos que experimentar como é que esta mulher caiu na armadilha (e levou o leão para perto de outra armadilha). Ao fazer a experiência, o leão caiu na armadilha. Então, o rato salvou a mulher e o filho, mandando-os para casa. A mulher, vendo-se salva do perigo, convidou o rato a ir viver para a sua casa, comendo tudo o que ela e a sua família comiam. Foi a partir daqui que o rato passou a viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe…