V SEMANA BÍBLICA: 4º Dia – Jesus realiza sinais milagrosos (Jo 2,1-11,54)
4º Dia: Quarta-feira, 18 de setembro de 2024
Pe. Marcos Mubango
Introdução
O evangelho de João é diferente dos três evangelhos anteriores a ele. Enquanto os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, conhecidos como evangelhos sinóticos, apresentam uma estrutura semelhante, de tipo histórico-geográfico-teológico, João centra-se mais em aspectos teológicos, destacando os ensinamentos de Jesus, o Verbo encarnado de Deus, sobre a sua própria identidade e a necessidade de fé nele para a vida eterna. Na primeira parte deste evangelho (Jo 2,1-11,54), conhecida pelos teólogos como o Livro dos Sinais, ele procura fazer isso através dos ―sinais‖ realizados por Jesus. Este é o objecto de estudo desta reflexão, intitulada ―Jesus realiza sinais milagrosos‖, a qual obedecerá a seguinte estrutura: 1. O que é um sinal; 2. O porquê dos sinais em João? 3. Quantos são os sinais reportados pelo evangelista João? 4. Quais são os sinais relatados por João? 5. Qual é o significado de cada sinal?
I. O que é um “sinal”?
Do grego semeion, o termo ―sinal‖ designa basicamente ―o símbolo que indica a existência ou a presença do que ele significa; ele dirige a atenção para a realidade‖ (McKenzie, 1984).
Na Bíblia, este termo conhece diferentes facetas. No Novo testamento, ele, geralmente, tem a função de ―indicar o prodígio demonstrativo‖ (McKenzie, 1984), tal como é frequentemente pedido pelos judeus a Jesus (cf. Mt 12,38-40; 16,1-4; Mc 6,11-12; Lc 11,29-30), para demonstrar quem ele diz ser. Nos sinópticos, Jesus é contra esse desejo de sinais pois a fé na sua pessoa devia fundar-se naquilo que ele é e não em sinais demonstrativos.
Em João, ―sinal‖ ―é a ação realizada por Jesus que, sendo visível, leva por si ao conhecimento da realidade superior. Supõe a presença de espectadores (12,37) e à sua visibilidade corresponde neles a visão do sinal (Mateos & Barreto, 1989)‖. Salvo em 4,48, no quarto Evangelho, o próprio Jesus usa com frequência os sinais (2,11.18.23; 3,2; 4,48.54; 6,2.14.26.30; 7,31; 9,16; 10,41; 11,47; 12,18.37; 20,30) para demonstrar aquilo que os judeus pediam dele.
Enquanto tal, ―o sinal‖ é distinto do ―milagre‖. De facto, do grego dýnameis, que pode ser traduzido por ―acto de poder‖, utilizado sobretudo nos sinópticos, onde se enfatiza o poder de Jesus, o milagre tem como foco o poder de Jesus, enquanto que o ―sinal‖ tem como foco a fé daqueles que vêem sua manifestação.
II. O porquê dos sinais em João?
Para compreendermos adequadamente o tema dos sinais no Evangelho de João, devemos partir do sumário conclusivo que encontramos no capítulo 20, onde podemos textualmente ler: ―Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome‖ (Jo 20,30-31).
Nos versículos acima citados, depois de referir que os sinais por ele reportados não são os únicos realizados por Jesus (v.30), João aponta para a finalidade da sua redação: ―para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e para que tenhais vida em seu nome‖ (v. 31), ou seja, estes sinais têm como finalidade suscitar a fé em Jesus, o Messias, Filho de Deus, condição necessária para que, em seu nome, a vida plena seja alcançada. Portanto, o facto de João chamar de ―sinal‖ aquilo que outros evangelistas chamam de ―milagre‖ não parece uma simples escolha terminológica pois, enquanto para os sinópticos a fé é condição para a realização de um milagre, em João, a realização dos ―sinais‖ visa suscitar a fé dos discípulos em Jesus (cf. Jo 2,18-23; 6,14-15.26; 7,31; 11,47) e manifestar a glória de Jesus que o operou (cf. Jo 2,1-11; 11,40).
III. Quantos são os “sinais” reportados pelo evangelista João?
A questão do número dos sinais realizados por Jesus no Evangelho de João é muito discutida entre os autores, havendo basicamente três posicionamentos a respeito, a saber:
a). A maioria dos autores, partindo do significado simbólico do número sete, que na Bíblia indica perfeição, defende que João reporta sete dos muitos ―sinais‖ realizados por Jesus.
b). Outros autores apontam para o número seis (Eloy e Silva, 2019). O pomo da discórdia entre estes dois primeiros grupos de autores reside no facto de se incluir ou não o texto de Jo 6,16-21 – Jesus que caminha sobre as águas do mar da Galileia – entre os sinais.
c). Um terceiro grupo de autores insere várias outras passagens do evangelho de João como possíveis ―sinais‖, tais como: Jo 2,14-17 (a purificação do templo), Beasley Murray (1987 como citado em Eloy e Silva, 2019); Jo 3,14-15 (O discurso de Jesus sobre a serpente no deserto), Brown (1966 como citado em Ely e Silva, 2019); Jo 12,1-8 (A unção de Jesus por Maria Madalena), Dodd (1953 como citado em Ely e Silva, 2019); Jo 12,12-16 (a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém), Dodd (1953 como citado em Eloy e Silva, 2019) e Jo 21 (A pesca milagrosa), Fortna (1970 como citado em Eloy e Silva, 2019).Outros autores sustentam ainda a inclusão das aparições de Jesus ressuscitado em Jo 20–21, Bultmann (1965 como citado em Eloy e Silva 2019) e Beasley-Murray (1987 como citado em Eloy e Silva 2019).
IV. Quais são os sinais relatados por João?
Os sinais explicitamente nomeados como tais pelo narrador são cinco, a saber:
1. A mudança da água em vinho nas Bodas de Caná (Jo 2,1-12);
2. A cura do filho do funcionário real em Caná (Jo 4,46-54);
3. A multiplicação dos pães na Galileia (Jo 6,1-15);
4. A cura do cego de nascença em Jerusalém (Jo 9,1-41);
5. A ressurreição de Lázaro em Betânia (Jo 11,1-54).
Entretanto, com base em elementos estruturantes16 comuns a estes cinco ―sinais‖, outro texto é também identificado por muitos autores como ―sinal‖ e acrescentado a esta lista, mesmo sem que seja explicitamente designado como tal ou por outro termo equivalente pelo narrador, trata-se do texto de Jo 5,1-18 (cf. Eloy e Silva, 2019). Como vimos acima, é também incluído por muitos autores na lista dos ―sinais‖ de Jesus em João o texto de Jo 6,16-21 – Jesus que caminha sobre as águas do mar da Galileia, perfazendo um total de sete sinais, por aquilo que o número sete significa na Bíblia. Neste último texto, porém, além de não ser designado explicitamente como sinal pelo narrador, nota-se a ausência da dupla dimensão cristológica e soteriológica, segundo Jo 20,30-31, presente em todos os outros sinais.
V. Qual é o significado de cada um dos sete sinais
Como dissemos acima, com os sinais realizados por Jesus e reportados pelo quarto Evangelho, João procura apresentar a pessoa e a missão de Jesus. Assim, cada sinal tem um sentido cristológico, na medida em que evidencia a soberania de Jesus como o Senhor e Messias, e um sentido salvífico, enquanto descreve a proposta de Jesus de vida plena a quem nele acredita. Cada um dos sete sinais, portanto, mostra uma diferente faceta do significado cristológico e salvífico que a pessoa de Jesus tem para a humanidade. Neste ponto, sem nos determos muito em questões de natureza exegética, procuraremos fundamentalmente chegar ao significado de cada um dos sinais reportados pelo evangelista João.
1. A transformação da água em vinho, em Caná (Jo 2,1-10)
A transformação da água em vinho nas bodas de Caná é descrita como ―o início dos sinais‖ de Jesus (2,1-10), através do qual Ele manifestou a sua glória (v.11a) e os seus discípulos creram nele (v.11b). É o início dos sinais e não a plenitude pois ainda não chegou a Sua hora (León-Dufour, 1992).
A narração das bodas de Caná é cheia de simbolismo: as bodas refletem a ―Aliança‖ entre Deus e o seu povo (cf. Jr 31,32; Is 54,5) e o vinho simboliza o amor (cf. Ct 1,2; 4,10; 7,10; 8,2.) e a alegria (cf. Sir 40,20; Qoh 10,19) entre os esposos. Bodas sem vinho indicam uma relação esponsal sem amor, sem alegria. Tal era o estado da antiga aliança entre Deus e Israel, representada pelas ―seis talhas de pedra destinadas à purificação dos judeus‖17: tornara-se uma relação sem amor, sem alegria. Maria, representando o Israel fiel, apercebe-se da situação e manifesta a sua esperança que o Messias resolveria a questão. Em contrapartida, o ―chefe de mesa‖ – os líderes judeus – não se apercebe da falta de vinho, isto é, da caducidade da antiga ―aliança‖. A ―hora‖ de Jesus é a hora da sua glorificação, estabelecida pelo Pai, não podendo ser antecipada. Entretanto, como anúncio simbólico da sua ―hora‖, Ele, o Messias, realiza o ―milagre‖ com a colaboração dos ―serventes‖, que representam aqueles que se mostram dispostos a fazer de tudo para que a ―aliança‖ fosse revigorada. Então há a manifestação da glória de Jesus e os discípulos nele creem (Jo 2,9-11).
17 Há quem entenda que o número 6 evoca a imperfeição da antiga aliança; o seu estar vazio, a inutilidade e a ineficácia da mesma; a pedra de que são feitas, a dureza de coração de Ezequiel (cf. Ez 36,26); a referência à “purificação”, as exigências da antiga Lei.
Este primeiro sinal, portanto, revela-nos que Jesus é o Messias que vem dar nova vida à ―aliança‖ caduca. Este facto, porém, sucederá plenamente quando chegar a sua ―Hora‖, isto é, o momento em que, por amor, derramar o seu sangue na cruz. A nossa vida velha é transformada quando recebemos a Sua vida que é fonte de alegria.
2. A cura do filho do funcionário do rei – Jo 4,46-54;
O segundo sinal é a cura do filho do funcionário real que estava à beira da morte (vv. 46-54). É também explicitamente chamado de ―sinal‖ (v. 54).
Depois da apresentação dos principais elementos da cena (vv. 46-47): o lugar, Galileia; o tempo, no terceiro dia (vv. 40.43); os personagens, Jesus e o funcionário real (v. 46), João coloca a questão de fundo: o filho do funcionário real está gravemente doente (vv. 47). Segue depois o pedido do pai a Jesus para que desça a Cafarnaum a fim de curá-lo. Jesus, depois de reprovar a fé imperfeita do funcionário real (v. 48) e perante a sua insistência (v. 49), dá-lhe a sua Palavra de vida (v. 50). O funcionário acolheu com fé a Palavra de Jesus (v. 50) e teve o filho salvo, imediatamente na hora em que Jesus disse: ―teu filho vive‖ (v. 52-53a). O funcionário real manifesta, assim, pela segunda vez, a sua fé em Jesus, agora, juntamente com a sua família (v. 53b).
Neste segundo sinal, Jesus se revela como a Palavra que dá vida. A fé não deve basear-se apenas em milagres, mas na Palavra de Deus que é, de facto, a Palavra de Jesus que realiza a cura desejada. A consequência salvífica deste sinal é que o funcionário real e toda sua família creem em Jesus (v. 53).
3. A cura do paralítico em Betsaida (Jo 5, 1-47)
O terceiro sinal é a cura do paralítico na piscina de Betsaida, em Jerusalém (5,1-15), realizado em dia de sábado (v. 10). Seguindo o esquema dos dois primeiros sinais, em jeito de introdução, João começa por apresentar os principais elementos da cena: o tempo (uma festa dos judeus), o espaço (Jerusalém, junto à piscina de Betsaida) e os personagens (numerosos doentes, cegos, coxos, paralíticos, o homem que estava doente havia trinta e oito anos e Jesus que, dirigindo-se a este último doente com as palavras ―queres ficar curado?‖, coloca-o em destaque (vv. ,3-6). O enfermo, então, apresenta a dificuldade que tem de entrar na piscina para ficar curado (v.7). E, de seguida, mediante as palavras de Jesus que o ordena para que se levante, tome o seu catre e ande, o homem ficou curado e, de facto, tomou o seu leito e pôs-se a andar versículos (vv. 8-9).
Em Jo 5,9 termina, propiamente falando, o terceiro ―sinal‖, o qual, mais uma vez, revela que Jesus é atento aos mais fracos (v. 6). Revela ainda que a Palavra de Jesus é vida pois, sem recorrer às águas curativas da piscina, bastou uma Sua palavra para que o homem, enfermo havia trinta e oito anos, fosse instantaneamente curado.
Entretanto, o facto de o ―sinal‖ ter sido realizado num sábado (cf. v. 9b), o que segundo os judeus era uma violação à lei mosaica que impunha o repouso naquele dia da semana, abre espaço para uma controvérsia entre os judeus e Jesus. Essa discussão revela muito mais sobre a identidade de Jesus: 1. Jesus é Senhor do sábado, porque assim imita o seu Pai (Jo 5,17); 2. Jesus é o Filho, em união com o Pai (Jo 5,19.20.21.22.23.25.26); 3. Jesus é igual a Deus (Jo 5,18); 4. Jesus é o centro das Escrituras (Jo 5,39). Portanto, recusar acreditar n´Ele é recusar a vida (cf. 5,47).
4. A multiplicação de pães e peixes (Jo 6, 1-15)
O quarto sinal é a multiplicação dos pães e dos peixes para saciar a fome da multidão (6,1-13). É também explicitamente chamado de ―sinal‖ (6,14). Este ―sinal‖, como os anteriores, é também introduzido pela apresentação dos principais elementos da narrativa (Jo 6,1-4): espaço (outra margem do mar da Galileia), tempo (estava próxima a Páscoa) e os personagens (Jesus, os discípulos e a grande multidão). Segue depois a questão de fundo: a falta de pão (Jo 6,5-7). Segue, então a acção de Jesus (Jo 6,8-11a) que culmina com a saciedade de todos e a sobra de doze cestos cheios de pedaços (Jo 6,11b-14).
O pão, alimento fundamental do homem bíblico, simboliza a vida, dom de Deus. Jesus é esse ―Pão da Vida‖ descido do céu‖, que substitui o maná que Deus deu a Israel no deserto. Só o pão do céu, que é Jesus e que Jesus dá, é capaz de dar vida verdadeira. Este ―sinal‖ leva os que o presenciaram a identificarem Jesus como ―o profeta que devia vir ao mundo‖ (Jo 6,14), o que equivale a uma confissão de fé na sua pessoa.
5. Jesus caminhando sobre as águas do mar da Galileia (Jo 6, 16-21).
Como dissemos acima, este texto tanto não é explicitamente designado por sinal ou outro termo equivalente pelo narrador, quanto não apresenta os elementos estruturantes de um sinal. Por isso, discute-se bastante sobre a sua inserção entre os sinais. Jo 6, 16-21 narra a caminhada de Jesus sobre as águas do Mar da Galileia, facto que se dá ao anoitecer (Jo 6,16), no mar da Galileia (v. 17), estando presentes os seus discípulos (vv. 16.19).
Para o povo da Bíblia, o mar simbolizava o caos, o mal. No Êxodo, a liberdade do povo é alcançada mediante a vitória sobre o mar (Ex 14,22). Caminhando sobre o mar, Jesus revela a sua divindade. Ele é o Senhor da vida. Com o seu ―Sou eu‖, Jesus revela-se como Deus, libertador de seu povo (Ex 3,14-15).
6. A cura do cego de nascença (Jo 9,1-41)
O sexto sinal é a cura de um cego de nascença (9,1-7), na piscina de Siloé e é também explicitamente chamado por sinal em Jo 9,16. À pergunta dos seus discípulos sobre a causa da cegueira do cego de nascença – o pecado dele ou de seus pais? (v. 2) – visto que, segundo o ensino oficial do Antigo Testamento, uma doença física era tida por maldição divina (Ex 20,5; 34,7; Nm 14,18; Jo 9,2.34), Jesus, corrigindo-os, responde dizendo que ―nem ele nem os pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus (v. 3).‖ É assim que, para mostrar essa realidade, Jesus cuspiu na terra, fez lama e aplicou-a sobre os olhos do cego. Ele, depois de lavar-se na piscina, ficou curado e começou a ver (v.7).
Neste ―sinal‖, Jesus se revela como a ―luz do mundo‖: ―Enquanto estou no mundo sou a luz do mundo‖ (v. 5b) que veio ―para que os que não veem, vejam, e os que veem, tornem-se cegos‖ (v. 39). De facto, o homem que era cego recuperou a visão e passou a ver melhor que os fariseus que se recusavam a crer n´Ele (v. 28). A visão do homem que fora cego leva-o gradualmente a reconhecer Jesus, primeiro como ―o homem chamado Jesus‖ (v.11); depois, como quem não é pecador, que é de Deus (v. 33) e, finalmente, como “Senhor”, com um gesto de adoração: ―Creio, Senhor e prostrou-se diante dele (v. 38). Os fariseus fazem exatamente o contrário. Diante do sinal que revela quem é realmente Jesus, fecham os olhos: não querem saber daquilo que questiona seu sistema de poder e de pretenso saber (Konings, 2005).
7. A ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-46).
O sétimo sinal é a ressurreição de Lázaro em Betânia, perto de Jerusalém (11,1-45), facto reconhecido como sinal em 12,18. Na introdução à narração deste ―sinal‖ (vv. 1-16), percebe-se que Jesus quer fazer deste milagre um ―sinal‖ para revelar a sua pessoa e levar à fé e à vida os seus discípulos. De facto, avisado da doença do seu amigo amado (v. 3), Jesus parece não se preocupar (v. 6), antes, parece mesmo aguardar a sua morte a fim de que, ressuscitando-o, seja revelada a glória do Pai e a Sua glória (v. 4b), para que os seus discípulos creiam e, na fé, encontrem a vida. E para que o ―sinal‖ tivesse um impacto ainda maior, ele deixou que Lázaro morresse completamente, como indica o dia da sua chegada a Betânia: ―Quando Jesus chegou, havia já quatro dias que Lázaro estava no túmulo‖ (v. 17).
No diálogo de Jesus com Marta (vv. 17-27), apesar desta manifestar a sua fé ao dizer que acredita que ―tudo o que Jesus pedir a Deus, Deus lhe dará‖ (v. 22) e de professar a sua fé na ―ressurreição no último dia‖ (v. 24), Jesus a desafia a ir mais além, isto é, a ter fé nele pois Ele é a ressurreição e a vida (vv. 25-26). Marta então confessa: ―Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que há de vir ao mundo‖ (v. 27).
No diálogo com Maria (vv. 28-37), esta começa por repreendê-lo (11,32b) e, com o seu choro, provoca a comoção d´Ele também, facto que manifesta a proximidade de Deus ao sofrimento humano. Entretanto, conduzindo Jesus ao sepulcro do irmão, Maria demonstra confiança n´Ele.
Diante do túmulo de Lázaro (vv. 38-44), Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: ―Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!‖. Entretanto, Jesus a desafia mais uma vez a acreditar na ressurreição, como um sinal da glória de Deus: ―Não te disse que se creres, verás a glória de Deus?‖. Segue então a ressurreição de Lázaro (vv. 41-44). Retirada a pedra, Jesus, em prece de acção de graças, se dirige ao Pai e pede um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que é o Seu enviado. Em seguida, ordena, em alta voz, a Lázaro que venha para fora e assim acontece. É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade.
Na conclusão deste ―sinal‖ (vv. 45-54), João coloca a resolução dos chefes judeus de matar Jesus. Este sinal é o prenúncio da morte e ressurreição de Jesus, tal como o próprio Jesus no lo revela: ―Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá; quem vive e acredita em mim nunca morrerá. Crês nisso? (vv. 25-26).
Conclusão
O Evangelho de João é conduzido de modo a deixar aparecer a progressiva autorrevelação e daí a progressiva manifestação da fé e da incredulidade. Por isso o quarto Evangelho tem um caráter dinâmico e dramático. Cada episódio contém uma revelação de Jesus que obriga a tomar uma posição: ou a fé ou a incredulidade. Assim, os sete sinais acima vistos reenviam ao último e definitivo sinal, o maior de todos os sinais que Cristo nos deixou: a sua morte e ressurreição. À luz desse sinal, as palavras e as obras de Jesus devem ser relidas. A morte e ressurreição de Jesus é, portanto, o sinal dos sinais que revela Jesus como o Senhor glorificado.
Perguntas para a reflexão:
1. Diante da autorrevelação de Jesus através dos sinais, duas respostas são possíveis: a fé e a incredulidade. Qual é a minha resposta?
2. Que valor dou à fé na minha vida? Sinto-a importante e vital ou não a considero para nada?
3. Come vivo a minha relação com Deus? Sinto-O realmente presente e próximo como um Pai, ou O considero apenas uma ideia ou algo de abstrato e distante que nada tem a ver comigo?
Bibliografia
Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2002
Eloy e Silva, L. H. (2019). Por volta da hora sexta (Jo 19,14): Os seis sinais e a hora de Jesus no Quarto Evangelho. ATeo, Rio de Janeiro, v. 23, n. 63, p. 587-605.
Konings, J. Evangelho segundo João. Loyola. São Paulo 2005.
Léon-Dufour, X. Leitura do Evangelho segundo João I. Loyola. Belo Horizonte 1996
Mateos, J. & Barreto, J. Vocabulário Teológico do Evangelho de São João. Paulinas. São Paulo 1989.
Mckenzie, J. L., Diocinário Bíblico, Paulus, S. Paulo 1984. p. 804.