Moçambique: a educação num ano eleitoral
Por: Dr. Graciano Armando
A campanha eleitoral está em curso, e as publicidades das marcas e dos programas dos partidos políticos para as esperadas eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais, marcadas legalmente para o dia 9 de outubro de 2024, estão em pleno vigor. Este será um mês histórico para a situação política e social do país. Historicamente, outubro é conhecido como o mês do professor, o mês da assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, e também o mês em que o país registrou a morte do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, do então edil de Nampula, Mahamudo Amurane, entre outras figuras de destaque.
Estamos atentos aos passos do processo eleitoral, desde o recenseamento até agora, na contagem regressiva. Nossa atenção está voltada para a possibilidade de um processo renovado e com mentes renovadas, que, diferentemente dos anteriores, possa poupar vidas inocentes e evitar o derramamento de sangue. Isto contradiz os vazios discursos políticos que afirmam que o período eleitoral é um momento de festa, quando na verdade o sangue humano não combina com celebrações.
Como a experiência nos mostrou, os processos eleitorais em nosso país mobilizam grandes massas humanas, principalmente de professores. Estes assumem, de certa forma, a condução do processo desde os recenseamentos eleitorais, pré-campanhas e campanhas eleitorais até os próprios escrutínios, nos quais participam como fiéis membros de mesa, os conceituados MMVs (Membros de Mesa de Voto).
Todos sabemos disso. Não há dúvidas de que, em todos os anos em que ocorre algum processo eleitoral, seja ele geral ou autárquico, os professores abandonam as salas de aula, ou seja, deixam suas turmas para se tornarem “fiéis” MMVs, desvirtuando, assim, o compromisso assumido no ato de seu juramento profissional.
Essa realidade é conhecida por todos: desde os próprios encarregados de educação, políticos, sociedade civil até mesmo os próprios professores. No entanto, os alunos sempre passam de classe do seu jeito, independentemente de terem estudado ou aprendido algo. Assim, o país vai coxeando, pois o mais importante parece ser a vantagem de quem se interessa por esse gesto.
Mais importante ainda é que esses professores, que passam muito tempo sem dar aulas, apresentem uma boa porcentagem de aprovações. Essa é a meta. Em seguida, esses professores são distinguidos como os melhores, pois apresentaram boas porcentagens, enganando assim a população.
Além disso, durante o período eleitoral, mais do que os professores, os alunos também correm atrás das caravanas, livre ou forçadamente, para engrossá-las e ganhar algum material de propaganda eleitoral, como camisetas, bonés, dísticos, etc. Parece que ainda não temos políticas ou leis que garantam que os processos eleitorais não perturbem o decurso normal das aulas e, consequentemente, o comprometimento com a tão almejada qualidade de ensino.
Há muita abordagem, especialmente por parte dos ativistas sociais e da sociedade civil em geral, sobre as políticas de governança que não são as melhores. No entanto, ainda precisamos apreciar esse fenômeno que tanto escandaliza o decurso normal e a qualidade do ensino em Moçambique.
Até agora, não parece haver vontade por parte daqueles que gerem a “coisa pública” de oferecer um ensino de qualidade aos seus usuários. Vive-se de faz de conta na prática, enquanto a teoria parece buscar seriedade nos discursos aparentes e falaciosos.
O que importa…?
As crianças vítimas dessa sabotagem às aulas são sempre as mesmas. “O que importa se alguém perder aulas se os filhos deles não fazem parte das escolas em questão?” As vítimas são sempre as mesmas em todos os percursos, mas também os beneficiários são sempre os mesmos. Isso justifica a unidade nacional nesta Pátria de Heróis.
Com essas atitudes e políticas egoístas, não haverá outra saída senão perpetuar as mesmas assimetrias e os mesmos “desníveis” que sempre presenciamos. Os pobres continuarão pobres, e os ricos ficarão cada vez mais ricos. Assim, estamos melhorando os discursos sobre o crescimento da escolarização e a redução progressiva e significativa do analfabetismo entre o nosso povo, enquanto na prática nada disso ocorre.
Estamos sempre formando um povo fácil de governar porque é fácil de enganar. Mantemos essa situação. Até os próprios professores hoje são facilmente enganados porque passaram por esse tipo de capacitação.
O mais triste é que muitos profissionais não sabem quem os contrata e quem os paga. Não diferenciam Estado, governo e partido. Não têm a mínima noção da legislação. Confundem gravemente, pensando que algum partido é o único capaz de providenciar seus salários e que fora dele nada mais existe. Esse é o tipo de acadêmico de que o meu país precisa?
Além disso, essas políticas perpetuam um ciclo vicioso que afeta não só a educação, mas também o desenvolvimento socioeconômico do país. A falta de educação de qualidade compromete a formação de cidadãos críticos e conscientes, necessários para construir uma sociedade mais justa e equitativa. Sem uma educação que capacite verdadeiramente os indivíduos, continuaremos a ver a manutenção de privilégios e a exclusão de grandes parcelas da população.
Essa realidade também impede a mobilidade social e a igualdade de oportunidades, reforçando a divisão entre as classes sociais. A educação deve ser um direito de todos, proporcionando as ferramentas necessárias para que cada indivíduo possa alcançar seu pleno potencial. No entanto, enquanto persistirem essas práticas e políticas, estaremos condenando gerações inteiras a uma vida de limitações e falta de perspectivas.
É urgente repensar essas práticas e implementar políticas que realmente promovam a equidade e a justiça social. Precisamos de líderes comprometidos com a transformação verdadeira da educação, que valorizem o potencial de cada criança e trabalhem para garantir que todos tenham acesso a uma educação de qualidade. Somente assim poderemos construir um futuro mais próspero e inclusivo para todos os moçambicanos.