O Sermão da Montanha: Os ensinamentos éticos e morais de Jesus
Por: Pe Cantífula de Castro
O Sermão da Montanha, registado nos capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus, é um dos discursos mais importantes e profundos de Jesus, contendo ensinamentos éticos e morais fundamentais para a vida cristã. Do ponto de vista pastoral-teológico da Igreja Católica, este sermão não apenas oferece diretrizes práticas para a vida quotidiana dos fiéis, mas também revela a essência do Reino de Deus e a verdadeira natureza da justiça e da santidade.
O Caminho para a Felicidade e a Santidade
As Bem-aventuranças (Mateus 5,3-12) abrem o Sermão da Montanha e delineiam o caráter daqueles que pertencem ao Reino de Deus. Jesus proclama bem-aventurados os pobres em espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores e os perseguidos por causa da justiça. Essas qualidades contrastam fortemente com os valores do mundo, enfatizando a humildade, a compaixão, a justiça e a pureza como caminhos para a verdadeira felicidade e santidade.
A pobreza em espírito refere-se à humildade e ao reconhecimento da total dependência de Deus. Aqueles que são pobres em espírito sabem que não podem confiar em suas próprias forças ou méritos para alcançar a salvação, mas confiam plenamente na graça e misericórdia de Deus. Essa atitude contrasta com a autossuficiência e o orgulho promovidos pelos valores mundanos. Jesus se dirige àqueles que experimentam tristeza e sofrimento, assegurando-lhes que encontrarão consolo.
A mansidão não deve ser confundida com fraqueza; ela é uma força controlada, uma disposição para a gentileza e a paciência, mesmo diante da provocação. Os mansos são aqueles que, com humildade e paciência, confiam em Deus para vindicar sua causa, em contraste com a agressividade e o domínio que o mundo frequentemente valoriza. Jesus exalta aqueles que desejam ardentemente a justiça, tanto no sentido de uma relação correta com Deus quanto no sentido de promover a justiça social. Esses indivíduos anseiam por um mundo mais justo e se comprometem a lutar contra a injustiça. Deus promete saciar esse desejo profundo por justiça e retidão.
A misericórdia é a disposição de perdoar e mostrar compaixão pelos outros, refletindo o amor e a misericórdia que Deus demonstra para connosco. Aqueles que são misericordiosos não apenas experimentam a misericórdia divina, mas também contribuem para a criação de uma comunidade baseada na empatia e no perdão, desafiando a vingança e o rancor promovidos pelos valores do mundo. A pureza de coração refere-se à sinceridade e integridade das intenções e desejos. Um coração puro busca a Deus com autenticidade, sem hipocrisia ou duplicidade. Esse estado de pureza interna contrasta com a superficialidade e a duplicidade frequentemente valorizadas no mundo. Aqueles com um coração puro são capazes de ver e experimentar a presença de Deus em suas vidas.
Os pacificadores trabalham para promover a paz e a reconciliação, tanto entre indivíduos quanto entre comunidades. Eles se empenham em resolver conflitos e construir harmonia, refletindo o caráter de Deus como o Príncipe da Paz. Em um país (Moçambique) frequentemente marcado por conflitos e divisões, os pacificadores desempenham um papel crucial na construção de um ambiente de paz e entendimento. Aqueles que sofrem perseguição por viverem de acordo com os princípios de Deus são especialmente bem-aventurados. Jesus assegura-lhes que o Reino dos Céus lhes pertence. A perseguição por causa da justiça é um sinal de fidelidade a Deus e uma participação nos sofrimentos de Cristo. Embora o mundo possa rejeitá-los e persegui-los, Deus os acolhe e os recompensa.
As Bem-aventuranças são um chamado à vivência de um cristianismo autêntico e transformador. Elas representam um caminho de santidade que desafia os padrões do mundo e orienta os fiéis para uma vida de comunhão com Deus e com o próximo. Na prática pastoral, as Bem-aventuranças são utilizadas como um guia para formar a consciência moral dos fiéis, incentivando-os a buscar a justiça, a misericórdia e a paz em todas as suas ações. Os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha não são meros ideais inatingíveis, mas sim uma convocação real para viver de acordo com os valores do Reino de Deus.
O Cumprimento da Lei e dos Profetas
Jesus não veio abolir a Lei ou os Profetas, mas cumpri-los (Mateus 5,17-20). Ele eleva os padrões morais da Lei, mostrando que a verdadeira justiça vai além da mera observância externa dos mandamentos. A justiça do Reino exige uma transformação interior e uma sinceridade de coração que excede a justiça dos escribas e fariseus. A pastoral-teológica da Igreja Católica ensina que a Lei do Antigo Testamento é aperfeiçoada e plena em Cristo, que nos chama a uma vida de santidade integral.
Jesus aprofunda a moral cristã, indo ao cerne das atitudes e intenções humanas:
- Ira e Reconciliação: Jesus ensina que não basta evitar o homicídio; devemos também evitar a ira e buscar a reconciliação (Mateus 5,21-26). A pastoral católica enfatiza a importância da paz e da unidade entre os irmãos, refletindo o amor de Deus em nossas relações.
- Adultério e Pureza de Coração: Ele estende o mandamento contra o adultério à pureza dos pensamentos e desejos (Mateus 5,27-30). A Igreja ensina a virtude da castidade e a necessidade de um coração puro, livre de desejos impuros.
- Divórcio e Fidelidade: Jesus reafirma a indissolubilidade do matrimónio, destacando a fidelidade conjugal (Mateus 5,31-32). A Igreja Católica mantém a santidade do casamento e a sua vocação como um sacramento de amor e fidelidade.
- Juramentos e Integridade: Ele nos chama a sermos honestos e íntegros, sem a necessidade de juramentos (Mateus 5,33-37). A pastoral católica valoriza a verdade e a simplicidade nas palavras e ações dos fiéis.
- Amor aos Inimigos: Jesus desafia a lógica da retribuição, ensinando a amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem (Mateus 5,38-48). A Igreja Católica prega o amor universal, que reflete a misericórdia e o amor incondicional de Deus.
Autenticidade e Intimidade com Deus
Jesus ensina sobre as práticas de piedade – esmolas, oração e jejum – destacando a necessidade de sinceridade e autenticidade (Mateus 6,1-18). Ele condena a hipocrisia e incentiva os fiéis a buscarem uma relação íntima com Deus, que vê em secreto. A pastoral da Igreja Católica orienta os fiéis a viverem essas práticas com humildade e devoção verdadeira, não para obter reconhecimento humano, mas para aprofundar a comunhão com Deus.
Jesus nos chama a confiar plenamente em Deus e a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6,19-34). Ele nos adverte contra a preocupação excessiva com as necessidades materiais e nos encoraja a confiar na providência divina. A Igreja ensina que a prioridade na vida do cristão deve ser a busca do Reino de Deus e a prática da justiça, confiando que Deus suprirá todas as necessidades.
Julgamento, Oração e a Regra de Ouro
Jesus nos instrui a não julgar os outros (Mateus 7,1-5), a perseverar na oração (Mateus 7,7-11) e a praticar a Regra de Ouro: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mateus 7,12). O Sermão da Montanha conclui com a parábola das duas casas, uma construída sobre a rocha e a outra sobre a areia (Mateus 7,24-27). Jesus ensina que aqueles que ouvem e praticam seus ensinamentos são como a casa construída sobre a rocha, firme e inabalável. A Igreja Católica vê nesta parábola um chamado à fidelidade e à prática dos ensinamentos de Cristo, como fundamento para uma vida cristã sólida e duradoura.