Como mudamos a nossa sociedade enraizada na desonestidade?

Por: Deolindo Paúa

Mais do que o problema da pobreza em que maior parte da população está mergulhada, tem se dito que a maior preocupação é também da perda de valores da nossa sociedade. Para sustentar isso usa-se alguns exemplos: os jovens não respeitam a ninguém, não gostam de trabalhar, a nudez escandalosa aumentou, a prostituição se normalizou, os jovens não sabem pedir favores nem agradecer, a moralidade toda, em consequência, não faz parte da prática quotidiana dos jovens de hoje. Infelizmente tudo isto é verdade. Por isso é relevante também a sugestão que é frequentemente colocada para superar esta situação: é necessário conceber um modelo de educação baseado nos valores morais e tradicionais. A moralidade deve voltar a ser ensinada nas escolas e nas comunidades.

Só que este pressuposto, mesmo sendo relevante e importante, é dilemático. É que práticas que imorais foram instalados em toda a sociedade e estão sendo normalizadas. Ao nível social o homossexualismo é tema dos conteúdos escolares, o alcoolismo é tomado como prática dos mais espertos, o roubo e a ladroagem tornaram-se símbolos de um visão estratégica. No contexto político a corrupção é praticada à luz do dia, aliás é razão de enriquecimento de vários profissionais: cobra-se nos hospitais para o atendimento rápido e condigno, cobra-se nas escolas para a passagem de classe, compra-se vagas de emprego como se de mercadoria se tratasse. As promoções e progressões na função pública são mercantilizadas sem o mínimo de receio. A desonestidade foi institucionalizada. Parece que o princípio fundamental da moral passou de “fazer o bem e evitar o malˮ para “aproveitar-se dos outros sempre que possívelˮ. Nestas circunstâncias é justo se perguntar: como ensinar a moral aos mais novos se sua única experiência do dia-a-dia, o modo de vida dos mais velhos que lhes deviam inspirar é de imoralidade? Como convencer aos mais novos a aderir ao bem se seus mais velhos directos sobrevivem da desonestidade e do mal?

A nossa sociedade está, infelizmente, com os valores virados ao avesso. Ela está doente. Falta-lhe a vitamina dos valores sociais. O próprio sistema político não favorece o ensino da integridade e da honestidade. Menos do que na ciência nas escolas aprende-se a comprar tudo, até o respeito dos outros. Nossos líderes que deveriam ser exemplos públicos de honestidade e de moralidade são os pioneiros de maus exemplos. Como dizer ao jovem de hoje que nossos representantes políticos são eleitos por nós se eles ascendem ao poder por via de todo o tipo de esquemas de corrupção? Que legitimidade moral um presidente da Republica, um governador, um deputado da Assembleia da República ou um Presidente de Município pode ter quando todos sabem, incluindo jovens e crianças, que seu poder é fruto de roubo e de esquemas imorais? É possível um político que se impos à força ao poder contra todas as regras da democracia ser exemplo de tolerância e de paz? De onde começamos a ensinar aos nossos jovens? Como mudamos o modo de ser da nossa sociedade do auto-interesse para o altruísmo? O exemplo deve vir dos mais velho e de quem dirige, por serem a imagem da sociedade futura, o exemplo dos mais novos.