A falta de educação financeira constitui uma limitação para a autonomia financeira das mulheres

Por: Nelsa Momade

A deficiente educação financeira das mulheres residentes na cidade de Nampula, no Norte do pais, concorre para a fraca gestão de negócios, incluindo a implementação de iniciativas viradas para o empreendedorismo feminino, acabando por constituir um entrave para a autonomia financeira das mulheres.

Mulheres entrevistadas pelo Ikweli em Nampula, afirmaram que a falta de educação financeira tem estado a contribuir para o fraco desenvolvimento, conquista da autonomia financeira e o aumento da pobreza das mulheres na região norte de Moçambique.

‟Para algumas mulheres é muito difícil estarem alinhadas na liderança económica, tanto fora como dentro das suas casas, porque primeiro são vistas como as únicas pessoas para cuidarem das actividades domesticas e dos filhos”, afirma Verónica Antunes, a qual comenta que ‟a mulher ainda não é considerada no mundo económico-financeiro, embora outro problema esteja nas próprias mulheres que, muitas vezes, não têm conhecimento sobre educação financeira e acabam por depender economicamente dos seus maridos e de outros familiares para suprir as suas necessidades básicas”.

No entanto, a nossa entrevistada reconhece que ‟tenho enfrentado dificuldades na liderança económica para avançar com algum tipo de negócio ou com as necessidades diárias. Como qualquer mulher, gosto de gastar desnecessariamente, mas por outro lado há necessidade de algum apoio financeiro e de educação financeira, porque só assim é possível contribuir para o desenvolvimento do pais.”

A dona Antonieta é residente no bairro de Muatala e vendedeira de comida de pronto consumo nas vias públicas da cidade de Nampula, e afirma estar a enfrentar dificuldades na gestão financeira para suprir as suas necessidades e as da sua família.

‟A falta de apoio financeiro é um problema grande para mim, porque vivo praticando o negócio e por dia o lucro tem sido de, pelo menos, de 100,00 Mt (cem meticais) e este dinheiro serve simplesmente para alimentação, que também não dá para muito. Não tenho apoio dos pais destas crianças.” – nota esta entrevistada.

Outra fonte é a Patrícia Jamito, que é natural do Niassa, a qual desconhece o significado da educação financeira das mulheres, por, alegadamente, sofrer limitação por parte do seu parceiro.

‟Falar de educação financeira é uma novidade. Não trabalho e em tudo dependo do meu marido para conseguir dinheiro para a alimentação. Nunca fiz parte de algum grupo de poupança porque o mau marido não mo permite e diz que quando tiver alguma necessidade devo recorrer a ele. Então tudo tem sido assim e embora seja difícil por causa desta dependência, não tenho outra alternativa senão aceitar esta proposta”, sublinhou.

Por outro lado, Milca Gustavo, licenciada em Contabilidade e Auditoria, apela às outras mulheres para o uso de planeamento financeiro e, sobretudo, a boa administração financeira para o desenvolvimento socioeconómico delas.

 ‟Em Nampula tenho assistido a cenários de falta de educação financeira por parte das mulheres e este é um problema antigo. Esta acção traz um impacto negativo que coloca as mulheres sob a dependência financeira do homem. Alem disso, uma boa gestão é essencial para qualquer pessoa”, comenta.

No entanto, fez saber que ‟é primordial ter algum equilíbrio financeiro e quando a mulher tiver dinheiro, deve saber onde investi-lo e como usá-lo, e quando as pessoas não fazem uso do dinheiro de forma equilibrada, surgem notáveis dívidas desnecessárias e outros problemas sociais. Por isso, há necessidade de optar pela educação financeira”. Segundo a contabilista e técnica de contas, Maudia Trinta, a capacidade de implementação de pequenos projectos e o apoio do sector governamental podem influenciar a mulher a ter melhor educação e liderança financeira.

‟As mulheres devem saber usar o dinheiro que ganham. A mulher primeiramente deve aprender a fazer um plano de aplicação do dinheiro, no sentido de garantir a liderança económica. Na maioria das vezes, o impulso para a aplicação do dinheiro é um factor que faz com que as mulheres não consigam ter as suas próprias economias”, disse. (Ikweli, 1366)