Eleições Gerais 2024: Entre caos e destruição após proclamação dos vencedores

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização, com registo mortos e vários feridos, segundo levantamentos provisórios de organizações não-governamentais no terreno.
Um pouco por todos capitais moçambicanos há hoje, ainda, barricadas, pneus em chamas e manifestantes que impedem a circulação automóvel, enquanto a destruição das horas anteriores, e sobretudo da noite, torna mais visível a destruição e o caos.
Semáforos e postos de electricidade derrubados, juntamente com sinais de trânsito, paus, troncos, garrafas e vidros, além de sinais de trânsito, impedem a já quase inexistente circulação automóvel na capital, excepção de alguns jornalistas e ambulâncias, perante a forte presença policial e de militares, e a ameaça de arremesso de pedras por alguns manifestantes.
Pelo menos 16 pessoas morreram nas últimas 24 horas nos protestos
De acordo com o balanço daquela Organização Não-Governamental (ONG) que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, com dados de 23 e 24 de dezembro, até às 13:30 locais, as províncias de Nampula, Zambézia e Sofala, norte e centro do país, registaram, cada, quatro mortos, além de dois em Tete e dois na província e cidade de Maputo.

Há ainda registo de 42 pessoas baleadas, das quais 15 na cidade de Maputo, sul, e 11 em Nampula, mas também 73 detenções, incluindo 37 na capital moçambicana e 17 em Sofala.
Líder da RENAMO mobiliza povo para “salvar a democracia”
O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade, rejeitou os resultados das eleições proclamados pelo Conselho Constitucional, avançando que vai mobilizar a população para “salvar a democracia”.

“Não reconhecemos os resultados e nem o suposto vencedor, muito menos os números atribuídos ao seu partido. A RENAMO entende que Moçambique merece um Governo legítimo escolhido pelo povo e não por um grupinho de pessoas”, disse Ossufo Momade, depois da proclamação dos resultados eleitorais pela presidente do CC, Lúcia Ribeiro.
Em conferência de imprensa para reagir à proclamação dos resultados, Momade criticou o CC, indicando que o seu acórdão põe em causa a” vontade popular” e indicado que apresentou àquele órgão “evidências” e provas conclusivas que apontam para o comprometimento do processo eleitoral.
Lutero Simango não reconhece resultados
O líder do Movimento Democrático de Moçambique e candidato presidencial Lutero Simango não reconhece os resultados proclamados das eleições gerais, pedindo um “diálogo construtivo” para reformas, face à agitação social.

“Daniel Chapo e o seu partido não são a solução dos problemas dos moçambicanos”, afirma Lutero Simango.
“Recusar o diálogo construtivo, inclusivo, participativo é adiar o futuro de Moçambique, e adiar o futuro de Moçambique significa alimentar mais violência. Já chega de violência, já chega (…). Não podemos esperar para o dia de amanhã ou vamos acordar sem Moçambique nas nossas mãos”, afirmou Lutero Simango esta terça-feira (24.12), em conferência de imprensa, em Maputo.
Daniel Chapo apela ao diálogo para “superar diferenças”
O Presidente eleito de Moçambique, Daniel Chapo, apelou ontem, em Maputo, ao diálogo que salientou ser “a chave para superar” as diferenças. Chapo, numa mensagem transmitida em direto pelo seu partido, a Frelimo, na rede social Facebook, acrescentou ser chegado o momento de “com calma e serenidade” se pensar “sobre a melhor forma de criar uma realidade democrática representativa da riqueza e diversidade do país”.
“Chegou a hora de pensarmos com calma e serenidade sobre a melhor forma de criar uma realidade democrática que representa a riqueza, a diversidade do país. Esse diálogo é chave para superar as nossas diferenças”, afirmou.

Daniel Chapo, que se torna no primeiro Presidente nascido depois da independência do país em 1975, sempre governado pela Frelimo, reiterou na sua declaração a importância do diálogo e da unidade: “Moçambique só será uma nação verdadeiramente forte quando aprendermos a ouvirmos uns aos outros”.
“Vamos cumprir com o combinado” Venâncio Mondlane

Numa live dirigida aos seus seguidores nesta segunda-feira (23.12), o candidato presidencial apoiado pelo Podemos, Venâncio Mondlane começou por desejar a presidente do Conselho Constitucional (CC), Lúcia Ribeiro: “Cada palavra que sair da boca dela, também ela e os seus vão ser curados. Se for palavra para destruir, então ela e os seus também vão ser detruídos. Se for palavra para aprisioar, também ela e os seus vão ser aprisionados. Se for palava para queimar, ela e os seus também vão ser queimados. Se for uma palavra para fazer guerra, ela e os seus nunca mais terão paz nessa vida.”
Mondlane pediu intervenção divina, “que o senhor venha em nosso socorro com o nosso machado de guerra”. “O probelma de Moçambique já não é só de Moçambique, é um problema global”, sublinhou o candidato.
(Lusa, DW, Carta, Noticias ao minuto)