Ecumenismo e Missão

Por: Pe. Max Robol

De 18 ao 25 de Janeiro 2025 celebramos a semana de oração pela unidade dos cristãos sob o lema “Crês nisso” (Jo 11,26). O ano 2025, marca também o 1.700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico, realizado em Nicéia, perto de Constantinopla, em 325 d.C. Assinalar ecumenicamente essa data oferecerá uma oportunidade única de reflectir e celebrar a fé comum dos cristãos, conforme expressa no Credo formulado durante esse Concílio; uma fé que permanece viva e frutífera nos nossos dias.

Do proselitismo ao testemunho

O envolvimento de muitos cristãos no âmbito ecuménico nasce assim pelo impulso da missão. De facto, é neste contexto que o anúncio do Evangelho coloca ainda o problema da divisão, e até da concorrência, entre aqueles que o levam. Não é possível anunciar a mensagem de reconciliação entre Deus e os homens, se as Igrejas estiverem divididas e separadas, mesmo em conflito umas com as outras.

Nesta altura, é preciso considerar sobretudo três aspectos que podem ser abordados para percorrer o caminho ecuménico com mais vigor e confiança.

1. A superação do proselitismo está sujeita a um desafio contínuo: desde as formas clássicas de “competição” entre confissões cristãs no mesmo território, até às formas actuais mais subtis que equivalem a um verdadeiro “roubo de cristãos” duma Igreja para outra.

2. Uma prática missionária que reconhece a reciprocidade, é o que favorece a ligação entre evangelização e ecumenismo. O facto de existirem iniciativas comuns entre Igrejas, é o resultado de um caminho que tem favorecido: a conversão e o arrependimento dos erros passados; a renúncia a todas as formas de rivalidade confessional e à tentação de fazer proselitismo com membros de outras Igrejas; a condenação de qualquer instrumentalização da ajuda humanitária para convencer alguém a mudar duma denominação cristã para outra; a correcção fraterna perante formas de evangelização contraditórias ou agressivas.

3. O testemunho comum, como ato positivo de evangelização ecuménica, é o mais belo fruto do caminho que alimentou a procura da unidade entre as Igrejas, a partir da missão. O testemunho comum refere-se às acções que uma Igreja realiza em conjunto com outras, começando pelo anúncio da Palavra, passando pelas formas de catequese e de oração litúrgica, promovendo a formação comum, a valorização das particularidades das Igrejas, o reconhecimento mútuo do Baptismo, os projectos de assistência e ajuda humanitária realizados de comum acordo.

Do testemunho à conversão

O movimento ecuménico foi suscitado por um forte apelo à missão. O anúncio do Evangelho faz parte da própria identidade cristã. Todavia, a missão não pode ser reduzida só à promoção do desenvolvimento humano. Não é só uma questão de estratégias ou programas, não se acredita em Jesus por uma série de consentimentos, e a Igreja não pode ser comparada a uma organização não-governamental.

Por isso, é necessário recolocar no centro do anúncio o único motivo de glória que une todos os cristãos, isto é: “o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo” (2 Cor 4, 6) e que nos foi dado pelo Espírito Santo. Este é o tesouro que nós, frágeis vasos de barro (cf. 2 Cor 4, 7), devemos oferecer a esta nossa sociedade. Aquilo de que temos verdadeiramente necessidade é dum novo impulso missionário ecuménico. Somos chamados a ser um povo que vive e partilha a alegria do Evangelho, que louva ao Senhor e serve os irmãos, sobretudo os mais necessitados. O movimento ecuménico surgiu por graça do Espírito Santo, e caminhar segundo o Espírito é inserir-se na história com o passo de Deus, que não é o passo da prevaricação, da auto-afirmação, da competição e da desconfiança, mas é o passo marcado pelo amor, a caridade, o respeito, o perdão e a misericórdia. Deixarmo-nos guiar para onde Deus nos conduz significa percorrer o caminho da conversão contínua, da renovação da nossa mentalidade para que seja conforme aos ensinamentos de Cristo.

Caminho ecuménico

Como afirmou o Papa Francisco, falando ao Conselho Mundial das Igrejas em 2018, o caminho ecuménico pode dar a impressão de ser um empreendimento com prejuízo porque parece que não se protegiam devidamente os “interesses” das próprias Igrejas.

No entanto, devemos também pensar que a escolha de pertencer a Jesus, como nos recorda São Paulo, vem antes da opção de aderir a Apolo ou a Cefas (cf. 1 Cor 1,12), antes de ser “judeu ou grego” (cf. Gal 3, 28). Portanto, não tenhamos medo de trabalhar com prejuízo, insistiu Papa Francisco. Trata-se de “prejuízo evangélico”, segundo o caminho traçado por Jesus: “Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de salvá-la” (Lc 9, 24).

Por isso, podemos afirmar que o diálogo ecuménico é obedecer a Deus, pondo-nos em marcha, cada um com a sua própria identidade, para ser conhecida, vivida e partilhada, mas não para ser esvaziada ou anulada. Mesmo as questões teológicas e eclesiológicas, que ainda afastam as várias Igrejas umas das outras, só podem ser resolvidas no decurso deste caminho comum; nunca serão resolvidas se ficarmos parados e fechados nas nossas Igrejas particulares.

Peçamos então ao Espírito que revigore o nosso passo. Que as distâncias não sejam desculpas. Esta estrada tem uma meta concreta: a unidade. A estrada oposta, a da divisão, leva a guerras e destruições. Só a recíproca vontade de percorrer os caminhos da procura da comunhão, acompanhada de uma disponibilidade para a conversão pessoal e comunitária, pode permitir-nos olhar para o futuro com serena confiança para “que todos sejam um” (Jo 17,21).