Ano Lectivo 2025: Reconstruindo a Educação

Ano Lectivo 2025: Reconstruindo a Educação

Por: Dra Valentina José Castro

O início do ano lectivo de 2025 em Moçambique carrega consigo um peso incomum: além dos desafios recorrentes do sistema educacional, agora é preciso lidar com as consequências devastadoras das manifestações pós-eleitorais. Escolas queimadas, vandalizadas e destruídas tornaram-se o símbolo mais gritante de uma crise que ultrapassa o campo político, atingindo directamente as bases da sociedade e deixando milhares de crianças e jovens sem condições de estudar.

Esse cenário não é apenas um reflexo das tensões eleitorais, mas também da fragilidade histórica de um sistema de educação que já lutava para atender às necessidades básicas. Com escolas destruídas e recursos escassos, como reabrir as portas da aprendizagem no meio de tantas ruínas?

A Herança de um Sistema Fragilizado

Antes mesmo das manifestações, a educação moçambicana enfrentava sérios problemas: salas de aula superlotadas, falta de materiais escolares, professores mal remunerados e insuficientemente qualificados. A crise gerada pela violência das manifestações expôs de forma cruel essas fraquezas, deixando evidente o quanto o sector educacional carece de investimentos robustos e de uma gestão mais eficiente.

As escolas, que deveriam ser espaços de esperança e construção de um futuro melhor, tornaram-se vítimas de actos de vandalismo que não apenas privaram os estudantes de um lugar para aprender, mas também feriram a dignidade das comunidades.

O Desafio de Reconstruir

O retorno às aulas não será apenas um acto de reorganização logística. Será uma tarefa que exigirá união, comprometimento e uma divisão clara de responsabilidades entre governo, gestores escolares, famílias e a comunidade internacional.

Como principal responsável pela garantia do direito à educação, o governo precisa agir de forma decisiva e rápida. A reabilitação das escolas deve ser uma prioridade absoluta, alocando recursos financeiros e humanos para reconstruir as infraestruturas destruídas. Além disso, é fundamental garantir a segurança nas instituições de ensino, evitando que episódios semelhantes se repitam.

O diálogo político também é indispensável. Ignorar as causas das manifestações e as demandas por justiça eleitoral seria perpetuar um ciclo de instabilidade que continuará a ameaçar sectores essenciais como a educação.

Os gestores escolares, por sua vez, têm o desafio de reinventar o funcionamento das instituições. Em muitos casos, será necessário usar espaços alternativos – como centros comunitários – para garantir o início das aulas. Por outro lado, campanhas de mobilização e solidariedade podem ajudar a envolver as comunidades na recuperação dos espaços escolares, promovendo um senso de responsabilidade colectiva.

Assim, os pais e encarregados de educação também desempenham um papel fundamental. Além de apoiar a reconstrução física das escolas, precisam de reforçar em casa o valor da educação, mostrando aos filhos que, mesmo em tempos difíceis, o aprendizado não pode ser abandonado.

Por fim, os doadores internacionais são chamados a colaborar num momento crítico. A reconstrução das escolas e a recuperação do sistema educacional exigirão um esforço financeiro que o país dificilmente poderá arcar sozinho. É essencial que parceiros de desenvolvimento ofereçam apoio técnico e financeiro, além de garantirem o monitoramento transparente dos recursos.

Uma Oportunidade de Recomeço

A devastação causada pelas manifestações deve ser vista, também, como uma oportunidade para transformar o sistema educacional moçambicano. A reconstrução das escolas não se deve limitar a restaurar o que foi perdido, mas sim a construir um modelo mais forte, resiliente e inclusivo. Isso passa por reformas profundas que priorizem não apenas o acesso à educação, mas também a qualidade do ensino oferecido.

Com efeito, o início do ano lectivo de 2025 será um marco de resiliência para Moçambique. O desafio de educar em meio às ruínas vai muito além de erguer paredes: é um esforço para resgatar sonhos, dignidade e esperança. Se cada actor – governo, escolas, famílias e doadores – fizer a sua parte, será possível não apenas superar a crise, mas também transformar o sistema educacional num pilar mais sólido para o futuro do país. Afinal, a educação não é apenas uma responsabilidade colectiva, mas o caminho mais seguro para reconstruir uma nação ferida.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

error code: 522