
A “cultura do cuidado”
O tema da sustentabilidade persegue várias esferas da existência humana na actualidade. Vezes sem conta, ouvimos falar de sustentabilidade económica, ambiental, política, social, religiosa, existencial e até de sustentabilidade académica. Mas o grito por atitudes visíveis continua na utopia.
Os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da ONU, baseiam-se na implementação do tripé de um desenvolvimento que seja economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Aliás, na óptica do Papa Francisco, “desta forma, invocam a nossa responsabilidade de promover, através de um compromisso colectivo e solidário, uma cultura do cuidado que coloque ao centro a dignidade humana e o bem comum.”
Pois, torna-se impossível alcançar o desenvolvimento sustentável “sem as vozes de quem é afectado pela exploração dos recursos, principalmente os pobres, os imigrantes, os indígenas e os jovens”, destacou o Pontífice.
Portanto, a confluência entre as antigas e novas gerações deve lutar para que haja aquilo que São João Paulo II chamou de “conversão ecológica” integral. A “cultura do cuidado” abrange não só os aspectos ambientais, como também outras dimensões como apontamos acima. Sabe-se, porém, que os tempos actuais são marcados por elevada taxa de indiferença. Conseguiremos vencer essa atitude se formos capazes de promover um sistema educacional que favoreça um novo paradigma de desenvolvimento e sustentabilidade cujo centro será o ser humano e o meio ambiente. Recordamos o apelo do Papa Francisco ao afirmar que “Chegou a hora de uma mudança de rumo. Não roubemos às novas gerações a esperança em um futuro melhor”.
Ao prepararmos a IV Assembleia Nacional de Pastoral, a Igreja em Moçambique é chamada a reflectir vivamente sobre a sua auto-sustentabilidade; a sustentabilidade das Paróquias e Comunidades cristãs. Este é um compromisso conjunto. Que caminhos a seguir para uma igreja auto-sustentável? Não se trata de olhar apenas a componente económica da Igreja, mas toda a sua conjuntura porque ela é “Mãe e Mestra” visando promover uma “cultura do cuidado” de forma holística. De facto, a pandemia do Coronavírus, as famosas mudanças climáticas com influências inquestionáveis no meio ambiente, a acentuada queda dos valores éticos e morais, a elevada crise socioeconómica, a instabilidade política e religiosa, impõem-nos nova forma de encarar a vida e toda a nossa existência.
Precisamos de mudar de atitudes e definir o rumo certo. Com efeito, “Para mudar na direcção de um futuro sustentável correctamente, precisamos de reconhecer nossos erros, pecados, faltas e falhas, o que leva a um sincero arrependimento e desejo de mudança. Desta forma, podemos nos reconciliar com os outros, com a criação e com o Criador”.