
A paz de moçambique: um sonho desmamado
O povo moçambicano e a humanidade inteira aspiram pela Paz efetiva. Esta requer o empenho e comprometimento de todos: governantes e cidadãos, em geral.
Moçambique celebra neste mês (4/10) 28 anos da Assinatura do Acordo Geral da Paz em Roma que pôs fim a um conflito fratricida que durou 16 anos. Foram anos de intenso sofrimento, muitas mortes, destruições, barbaridades, violação dos direitos humanos, miséria, etc. E o que mudou depois do AGP? Acabou a guerra? Acabaram as matanças? Acabaram os assassinatos? Porque prevalece o passado?
“A paz e a guerra em Moçambique dependem também da tomada de consciência dos povos ontem dominados por sistemas coloniais e hoje em busca progressiva de uma justa e efectiva emancipação; dependem das razões por que combatem uns e outros; dependem com certeza do reconhecimento da dignidade do homem e do povo de Moçambique e das iniciativas que dêem conteúdo e expressão real aos direitos inerentes a uma justa e progressiva autodeterminação. Parece que tudo isto obriga a colocar a solução do conflito mais na acção política do que na força das armas – uma acção política fundada no direito, aberta ao diálogo e às soluções dignas” (Dom Manuel Vieira Pinto, 1974).
Falta-nos a consciência da promoção do bem comum. Falta-nos o patriotismo. Enquanto o egoísmo tomar conta dos corações de quem assume a direcção do país não acabarão as guerras. Enquanto imperar o acentuado desequilíbrio social entre minoria cada vez mais rica e maioria miserável, não acabarão as guerras e violências. Por isso mesmo, “O destino da Paz também depende de cada um de nós. A Paz é possível, se cada um de nós a quiser; por outras palavras, se cada um de nós amar a Paz, educar e formar a própria mentalidade para a Paz, defender a Paz e trabalhar pela Paz. Cada um de nós deve ouvir na própria consciência o obrigatório apelo: A Paz também depende de ti” (Paulo VI, 1974).
Devemos desarmar as nossas consciências. Mais do que as armas dos soldados, as mais destruidoras são as armas que há dentro de cada pessoa, no seu coração. A arma da indiferença, do ódio, da violência, da agressão, da corrupção, da injustiça, da pilhagem, do roubo, da vingança, da falta de diálogo sincero; a arma do tráfico de seres e órgãos humanos; a arma dos raptos e sequestros; a arma da apropriação indevida das riquezas do país; a arma do narcotráfico; a arma da política mascarada e da economia algemada pelos interesses egoístas; a arma da criminalidade.
A Paz em Moçambique é possível. Ela impõe-nos a mudança de mentalidade e muita determinação. Impõe-nos desvelar tudo aquilo que contribui para a destruição da Paz. Impõe-nos privilegiar o respeito inalienável do direito à vida, à dignidade e integridade da pessoa humana, a imunidade das populações civis. Assim, os acordos assinados em papéis e celebrados publicamente devem ser traduzidos na prática em cada passo de governação que se marca diariamente.
Se a Paz depende de todos nós, também depende sobretudo de ti e de mim. Cada um, no lugar que lhe compete, é responsável pela Paz de Moçambique. É preciso comprometer-se activamente com as exigências da nossa Paz. Portanto, não basta lamentar às escondidas. Não basta murmurar em grupinhos ou sozinhos. “A paz depende de todos, de uns e de outros”.