O peso das palavras
Neste tempo de Covid 19 nos vários discursos e comunicados de imprensa fala-se muito do “distanciamento social” como umas das medidas de prevenção a adoptar para conter a pandemia em curso no mundo inteiro.
Agora nós perguntamos: O que quer dizer com isto? O distanciamento social, entre os vários grupos humanos, já existe com o sistema económico em vigor no mundo! Grandes ricos dum lado, cada vez mais ricos, e grandes e numerosos pobres do outro. Já estamos bem distanciados socialmente pelo mundo fora e dentro….
Então, será melhor falar da exigência de um “distanciamento físico”, como forma eficaz de prevenção contra o covid19 que, com certeza, não fará aumentar o distanciamento social entre as várias camadas da sociedade! Quando se diz que as palavras pesam refere-se a isso mesmo!
Aprender nas dificuldades
O Grupo de Reflexão Inter-diocesano (GRI,) orientado pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz, publicou uma reflexão Pastoral sobre os vários comportamentos, sociais e religiosos, no tempo do Covid 19 em Moçambique. A nível social destacamos o seguinte: «A tentação de criminalização: pelo decreto presidencial, a desobediência às normas de prevenção são crimes e punidas como tal. Sendo que o Presidente ditou uma amnistia para um certo número de presos, 5. 032 Cidadãos nacionais e estrangeiros, as cadeias começaram a encher de pessoas tratadas como criminosas por estar a tomar uma cerveja com outros no calar da noite… É frequente ouvir falar da força utilizada na fiscalização das medidas de prevenção. Alguns Meios de Comunicação Social converteram-se em denunciantes do cidadão acusando-os de “criminosos” e propiciando a captura dos cidadãos pela polícia».
A nível religioso destacamos que : “Apostar por uma Igreja Doméstica é criar tempo para rezar juntos, para partilhar a Palavra de Deus, para suprir os encontros de catequese que foram cancelados. Redescobrir a dimensão pessoal da espiritualidade que não está em competição com a comunitária. A Igreja, a partir dos seus membros, é chamada a purificar o seu sentido de Igreja… É Igreja do deserto (no isolamento), das casas (em família) e do essencial, movida pela força do Espírito Santo…
O distanciamento físico não seja apenas um evitar o outro, mas torne-se respeito pelo outro e pela sua dignidade porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus… É tempo de repensar a identidade do pastor-ministro e garante da comunhão eclesial numa igreja doméstica mais concentrada no espaço familiar do que no culto e na capela.
É tempo de repensar uma Pastoral da Visitação (como nos convidou o Papa Francisco na sua visita à Moçambique em 2019) e não somente, como Jerusalém, da centralização do encontro com o Senhor no culto e nos espaços designados tradicionalmente sagrados. É momento de pensar numa educação para uma economia não baseada no consumismo e no lucro, mas no bem-estar de todos”.
Enfim, apelamos para que ninguém aponte o seu dedo acusador contra as pessoas infectadas pelo covid 19. O ESTIGMA danifica a dignidade humana. Infelizmente, quem está contagiado já deve combater a doença, não façamos com que tenha que combater também contra a ignorância do estigma. Todos unidos iremos ultrapassar as dificuldades, separados e, em polémica uns com os outros, iremos sucumbir pelas nossas próprias mãos.
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