
Recordar para crescer
Recordar para crescer
Já passou um ano desde que o Presidente da República decretou o primeiro Estado de emergência depois, transformado em Situação de Calamidade pública, que perdura até hoje.
Nestes meses no mundo inteiro morreram mais de 2 milhões e meio de pessoas; e em Moçambique já ultrapassámos a cifra de seiscentos mortos. As economias de todos os países sofreram causando o aumento da precariedade nas camadas mais desfavorecidas. Chegaram também as vacinas, que com muita calma, vão chegando também ao nosso País. Por último, recordamos que desde o ano passado durante 6 meses as igrejas e todas as atividades religiosas ligadas a agregação de pessoas, ficaram suspensas.
Neste tempo, entre outros, quem ficou de pé a animar-nos foi o Papa Francisco que com discursos, gestos, orações, atos concretos de caridade nos recordou que estamos todos no mesmo barco e que ninguém se salva sozinho.
Não podemos esquecer que no meio da pandemia, a 4 de Outubro 2020, em Assis, o Papa assinou a sua 3ª encíclica, “Fratelli tutti”: “Se tudo está ligado, é difícil pensar que este desastre mundial não esteja relacionado com a nossa maneira de nos colocarmos em relação à realidade, pretendendo ser donos absolutos da própria vida e de tudo aquilo que existe”. O Papa Francisco rejeita a ideia que a covid-19 seja um castigo divino e sublinha: “É a própria realidade que geme e se revolta”. Portanto, é tempo de viver e construir pontes de paz e fraternidade porque ninguém se salva sozinho.
Por último lembremos a mensagem do Papa para a Quaresma na qual nos convidava a “viver uma quaresma de caridade que quer dizer, cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia”, e que este tempo de preparação para a Páscoa “é feito para esperar”, também num período como o nosso.
E as nossas comunidades cristãs acolheram este tempo de pandemia, apesar das dificuldades devido ao encerramento das atividades pastorais, como tempo de esperança?
Além disso, o grande desafio destes meses foi a oração em família; descobrimos que temos ainda muito caminho a fazer até que as famílias cristãs sejam verdadeiramente “pequenas igrejas”.
Os cientistas dizem que um dos sintomas característicos da covid-19 é a ausência de olfato e a falta de sentir o gosto daquilo que ingerimos. Ora bem! Não deixemos que estes sintomas, entrem nas nossas comunidades… nós somos chamados a ser luz e sal da terra apesar de todos os desafios, constrangimentos e limitações que acontecem em volta de nós. Temos que dar gosto e sabor as nossas ações à luz do Evangelho. Não somos pela “ausência e falta”, mas sim pela vivência da fé que nos dá coragem de não desanimar.
Talvez quantos de nós perderam familiares ou amigos por causa desta pandemia ou ficaram desiludidos com as igrejas fechadas, mas nem por isso temos que perder o gosto e o sabor de viver em comunhão com o Senhor e manifestar esta comunhão com ações de fraternidade e solidariedade.
Assim, viveremos e testemunharemos a Páscoa que passa primeiro pela paixão e morte e depois chega à Ressurreição. O Papa Francisco recorda-nos que da ressurreição de Cristo “um outro contágio se transmite de coração a coração. O da esperança”. Uma santa Páscoa para todos.