
Sombras dum mundo fechado
Sombras dum mundo fechado
Chegamos a mais um ano civil. Como país, o nosso caminho é ainda incerto. Falta-nos foco para uma autêntica unidade nacional e determinação para a promoção do bem-comum.
Falta um projecto para todos no qual sejam elaboradas políticas sociais que visam o bem-estar de toda a população. Mas estamos revestidos de individualismo e o partidarismo envenena as acções governativas.
O novo ano nada trará enquanto não nos empenharmos em novas atitudes. Atitudes de solidariedade e empatia. Atitudes de altruísmo e patriotismo. Atitudes de colegialidade e coerência. Atitudes de fraternidade e de complementaridade. Por isso, para o Papa Francisco, na Carta Encíclica “Sobre a Fraternidade e a Amizade Social”, reina um inaceitável silêncio internacional, incapaz de reconhecer que está em curso um processo de globalização e progresso sem um rumo comum.
Verifica-se uma deterioração da ética que condiciona e inspira a actividade internacional. Ademais de um enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade. É o império da “Cultura do Confronto” e não da “Cultura do Encontro”.
Para este novo ano devemos reagir e lutar por um novo sonho no qual todos os seres humanos sejam iguais nos direitos e na dignidade e possam conviver entre si como irmãos. Carregados de esperança, edifiquemos uma nova realidade enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vivemos hoje. Com efeito, busquemos incansavelmente a verdade, a bondade, a justiça e o amor.
Segundo o Santo Papa, a esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna.
No nosso país, o projecto de unidade nacional, tem sido maculado por diferentes ideologias, que criam novas formas de egoísmo e levam à perda do sentido social – porque sobressaem os interesses partidários, regionais que nacionais. Mas o caminho é um só “do amor, do bem, da justiça e da solidariedade”, considera o Papa Francisco.
Não é possível que nos contentemos com o que já se obteve no passado e ignoremos que muitos dos nossos irmãos ainda sofrem situações de injustiça que nos constrangem a todos. É chegada a hora de lutarmos por aquilo que nos edifica mutuamente. Devemos suplantar os interesses individuais porque debilitam a dimensão comunitária da existência.
Está em curso uma espécie de “desconstrutivismo”, alerta o Papa, onde a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero. De pé, deixa apenas a necessidade de consumir sem limites e a cronificação de muitas formas de individualismo sem conteúdo. Assim procedem as ideologias de variados matizes, que destroem ou desconstroem tudo o que for diferente, podendo assim reinar sem oposição.
Para um país, como Moçambique, que deseja a paz é preciso desarmar as mentes; é preciso ver no outro, um irmão com o qual possamos construir o mosaico da vida socioeconómica do país e não um inimigo a combater. Sem um projecto para todos, a política deixou de ser um debate saudável sobre projectos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efémeras de marketing cujo recurso mais eficaz está na destruição do outro. Nesse mesquinho jogo da desqualificação, o debate é manipulado para o manter no estado de controvérsia e contraposição.
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